Giz Explica: Como a eletrocussão realmente mata você
Humanos são frágeis. Nossos corpos são facilmente mutilados pelas nossas próprias criações: esmagados, empalhado, zipados. Mas a força física é fraca e ineficiente comparada com a boa e velha eletrocussão que, de acordo com Adam Savage dos Caçadores de Mitos, não mata do jeito que você pensa.
Se você aprendeu como a eletrocussão mata através de desenhos animados – você é frito enquanto seu corpo pisca como fogos de artifício e todos conseguem ver seus ossos – você aprendeu errado. A eletricidade na verdade não frita você – isto de fato requereria muito mais potência do que o necessário para matá-lo, que é uma quantidade assustadoramente minúscula.
Mas antes de irmos pra parte assustadora, vamos passar pela parte técnica, assim todos estaremos na mesma página. Há alguns grandes elementos ao falarmos de eletricidade: Volts se relacionam com a voltagem, amperes descrevem a corrente, watts medem a potência e ohms referem-se à resistência. Uma analogia muito boa do HowStuffWorks relaciona as diferenças básicas entre eles no melhor estilo: a voltagem é como a pressão d’água, a corrente (amps) é como a razão do fluxo e a resistência (ohms) é como o tamanho da tubulação. Aumentar a voltagem resulta em uma corrente maior (mais amps) – assumindo a resistência constante – já que aumentar a pressão logicamente aumenta o fluxo. A potência (watts) é simplesmente a voltagem multiplicada pela corrente (amps). Um amp é igual a 6,242 x 10^18 elétrons por segundo se movendo através de um ponto. E um único watt é equivalente a um joule de energia por segundo, mas isto não importa muito para os nossos propósitos.
Tá, agora vamos ao que importa. E quem mais real e com mais oportunidade de ser eletrocutado do que Adam Savage dos Caçadores de Mitos? Nós o chamamos pra perguntar quanto de eletricidade seria necessário para matar um humano. A resposta dele? “Eu vou deixar você assustado”.
Sete miliamperes. Por três segundos. É só isso que precisa. A eletricidade mata você ao interromper o seu ritmo cardíaco. Se sete miliamperes chegarem ao seu coração continuamente por três segundos, “o seu coração fica arrítmico”, ele explicou. Daí todo o resto começa a desligar. “Você pode facilmente matar uma pessoa com uma pilha palito ou uma daquelas de 9 volts ligada diretamente ao coração”.
O motivo pelo qual a eletricidade não mata milhões de pessoas todos os dias com choques ultra-minúsculos é que os nossos corpos possuem resistência contra eletricidade, assim ela não vai direto pro coração. A resistência da pele é de aproximadamente 5 mil a 15 mil ohms. Adam disse que “é estupidamente difícil quantificar” com precisão quanto seria necessário para atravessar esta barreira, já que há todos os tipos de variáveis em jogo, como as roupas que você veste. Sem falar em “como quantificar que alguém de fato morreu”?
Mas se serve de alguma consolação, Adam disse que o tipo de choque estático que de fato arde a pele é de aproximadamente 20 mil volts – você ainda precisa de alta voltagem, apenas uma amperagem realmente minúscula.
O truque então é conseguir a quantidade adequada de potência para atravessar a pele e roupas e sapatos de sola de borracha e então zapear o coração. Há uma maneira bem garantida de conseguir isso: relâmpago. Com um relâmpago, diz Adam, “não tem nem o que discutir”. Um raio pode chegar a mais de 1 bilhão de volts. A resistência do ar, explica, é de aproximadamente 10.000 volts por centímetro – ou seja, pra eletricidade atravessar apenas 1 metro de ar, seriam necessários 1 milhão de volts.
Máquinas podem gerar relâmpagos artificialmente – Charles Steinmetz construiu uma máquina de relâmpago em 1916 que gerava mais de 10.000 amperes e 100.000 volts. O motivo pelo qual algumas pessoas sobrevivem a relâmpagos é que elas têm a sorte com o trajeto que eles percorrem pelos corpos delas – podem vir a sair chamuscadas se o raio viajar ao longo da superfície do corpo, como quando você está molhado, mas se o coração sair ileso, é possível sair vivo.
Isso é obviamente bastante pouco prático – a sofisticação e energia necessárias para máquinas dispararem relâmpagos seriam mais bem empregadas na aquisição de bombas, bem no estilo praticamente todos os filmes apocalípticos. Além disso, há máquinas muito mais simples que fazem um serviço semelhante no quesito eletrocutar pessoas. Tasers simples que penetram a pele já matam pessoas de vez em quando. No entanto, de acordo com Adam, tasers são projetados tendo-se em mente o problema da morte em 3 segundos – a maioria emite pulsos em intervalos muito mais curtos para evitar que sejam fatais.
Ainda assim, nós provavelmente temos pouco a temer quanto à extinção por eletrocussão. Com a exceção da assumidamente desajeitada cadeira elétrica, ninguém nunca usou eletricidade para matar pessoas sistematicamente. As máquinas, caso fossem desenvolver um intento homicida, provavelmente usariam todas as outras maneiras que os próprios humanos já projetaram para eles próprios se matarem.
Um grande agradecimento ao Adam Savage dos Caçadores de Mitos por nos ajudar – ou seria ajudar as máquinas?