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Gonorreia resistente a remédios se torna global, e especialistas soam os alarmes

Superbactérias que não puderam ser tratadas com a última linha de defesa foram relatadas na França, no Japão e na Espanha

Descrevendo-o como uma “situação séria”, a Organização Mundial da Saúde emitiu um sombrio aviso sobre o aumento dramático da gonorreia resistente aos antibióticos em todo o mundo. A agência está agora pedindo o desenvolvimento rápido de medicamentos para tratar a doença sexualmente transmissível.

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Os dados coletados em quase 80 países mostram que a resistência aos antibióticos está tornando a gonorreia muito mais difícil, e às vezes impossível, de tratar. A doença está se tornando cada vez mais imune a antibióticos mais antigos e baratos, e as estirpes resistentes ao tratamento estão agora aparecendo mesmo em países onde as práticas de monitoramento são de primeira qualidade. A OMS, com a ajuda de uma equipe global de pesquisadores, está preparada para divulgar essas descobertas em uma edição especial do PLoS Medicine, antes do Congresso Mundial de ITS & HIV, que será realizado no Rio de Janeiro, de 9 a 12 de julho.

“As bactérias que causam gonorreia são particularmente inteligentes”, disse a médica da OMS Teodora Wi, em um comunicado. “Toda vez que usamos uma nova classe de antibióticos para tratar a infecção, as bactérias evoluem para resistir a eles.”

Todos os anos, a doença sexualmente transmissível afeta cerca de 78 milhões de pessoas em todo o mundo. A gonorreia é causada pela Neisseria gonorrhoeaebacterium e infecta homens e mulheres. Os sintomas incluem uma secreção esverdeada ou esbranquiçada do pênis e da vagina, queimação enquanto se urina, glândulas inchadas na garganta (devido ao sexo oral) e outras manifestações desagradáveis. A doença é particularmente difícil para as mulheres e frequentemente é acompanhada de doença inflamatória pélvica, infertilidade, gravidez ectópica (quando o feto se desenvolve fora do útero) e um risco aumentado de contrair o HIV. A OMS diz que a doença está se espalhando por causa da diminuição do uso de preservativos, pelo aumento da urbanização e das viagens e por medidas de detecção precárias e tratamentos inadequados ou falhos.

Os dados coletados pela OMS de 2009 a 2014 mostram resistência generalizada aos antibióticos comumente usados ciprofloxacina e azitromicina, juntamente com a resistência recente ao atual tratamento de último recurso envolvendo ceftriaxona injetável. Superbactérias que não puderam ser tratadas com a última linha de defesa foram relatadas na França, no Japão e na Espanha. A agência está agora aconselhando os médicos a prescrever um tratamento duplo, envolvendo tanto azitromicina quanto ceftriaxona. Essa é uma situação bastante sombria, já que a gonorreia resistente a azitromicina agora está sendo relatada em 81% dos países, e a resistente a ceftriaxona desenvolveu raízes em 66% dos países. Em última análise, a OMS diz que precisamos desenvolver uma vacina, porque a gonorreia sempre permanecerá um passo à frente de nossos esforços para reduzi-la com antibióticos.

A OMS também está pedindo o rápido desenvolvimento de novos medicamentos para tratar a doença. Assustadoramente, a pesquisa contra a gonorreia está meio parada, com apenas três novos candidatos a remédios atualmente em desenvolvimento clínico, de acordo com a OMS. Parte do problema tem a ver com a relutância das grandes farmacêuticas em desenvolver drogas que tratam a gonorreia, que são tomadas apenas por curtos períodos de tempo (ao contrário dos medicamentos para doenças crônicas) e se tornam menos efetivas ao longo do tempo à medida que a resistência se desenvolve.

“Para abordar a necessidade crescente de novos tratamentos para a gonorreia, precisamos urgentemente aproveitar as oportunidades que temos com os medicamentos e os candidatos existentes em desenvolvimento”, disse Manica Balasegaram, que dirige a Parceria Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos sem fins lucrativos (GARDP). “No curto prazo, buscamos acelerar o desenvolvimento e a introdução de pelo menos um desses medicamentos e avaliaremos o possível desenvolvimento de tratamentos combinados para uso em saúde pública. Qualquer novo tratamento desenvolvido deve ser acessível a todas as pessoas que precisem dele, assegurando que seja usado adequadamente, de modo que a resistência aos medicamentos seja a mais lenta possível.”

Além de desenvolver novos medicamentos e reavaliar os antibióticos existentes, a OMS diz que é fundamental desenvolver tratamentos mais fáceis de administrar e produzir diretrizes de tratamento mais simplificadas.

Esse mais recente desenvolvimento é um infeliz lembrete que os nossos antibióticos estão falhando. No ano passado, o Instituto e a Faculdade de Atuários da Grã-Bretanha alegou que uma nova era de resistência antimicrobiana já está se aproximando e que 50 mil pessoas já estão morrendo a cada ano nos Estados Unidos e na Europa de infecções intratáveis. Se nada for feito para compensar essa tendência, até dez milhões de pessoas poderiam morrer todos os anos até o meio do século XXI, tornando a resistência antimicrobiana mais mortal do que o câncer.

Os antibióticos que tratam a gonorreia podem estar falhando, mas ainda há uma maneira de lutar contra ela: praticar sexo seguro.

[World Health Organization, CBC News]

Imagem do topo: National Institute of Biomedical Imaging and Bioengineering

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