[Hands-on] Google Keep: app de notas é belo no Android, mas precisa de mais recursos

Hoje o Google lançou um novo produto, o Keep. A premissa é simples, a execução, idem — mas não confunda simples com algo mal feito, inacabado. Como já dizia Da Vinci há muitos séculos, “a simplicidade é o último grau de sofisticação”. Ainda é cedo para dizer se o Keep manterá toda essa pompa, mas […]
Hands-on do Google Keep.

Hoje o Google lançou um novo produto, o Keep. A premissa é simples, a execução, idem — mas não confunda simples com algo mal feito, inacabado. Como já dizia Da Vinci há muitos séculos, “a simplicidade é o último grau de sofisticação”. Ainda é cedo para dizer se o Keep manterá toda essa pompa, mas a primeira impressão, que descrevemos abaixo, é bem boa.

O Google liberou o Keep em dois locais: web e Android, na forma de um (belo) app. Esqueça a web. A qualidade do app para Android e a proposta do Keep fazem dele uma aplicação genuinamente móvel. Mesmo para quem gosta muito da web (olha eu aqui!), é inegável que o Keep integra a onda de serviços e sites com foco primário em sistemas móveis.

Eu já vi esse app antes…

Apesar do visual bonitão e revigorante, o Keep não é exatemente novidade. Digo, o seu conceito. Na concorrência sobram similares, alguns bem estabelecidos. De cabeça me vêm Evernote, Wunderlist, OneNote… Com pequenas diferenças, todos se assemelham.

Não bastasse isso, o próprio Google tem ou já teve coisas que lembram alguns aspectos do Keep. O Google Notebook (RIP) e o Google Tasks (com um pé na cova) cobriam, juntos, quase todas as funcionalidades do Keep. Talvez seja uma mera dança das cadeiras, ou um passo ambicioso no processo de rebranding e simplificação pelo qual o Google vem passando já tem algum tempo e que, se os rumores se confirmarem, chegará ao GTalk logo. Independentemente do motivo, essa centralização é bacana: o resultado, o app do Keep, é muito legal.

Hands-on: Google Keep para Android

Ao abrir o Keep pela primeira vez, ele é só uma página em branco com quatro botões no topo, representando as quatro formas de entrada de dados do app:

  • Texto livre;
  • Lista de tarefas;
  • Transcrição de fala; e
  • Foto.

Algumas podem ser combinadas, outras se sobrepõem. Dá para, por exemplo, ditar uma frase para o app que, em seguida, é convertida em texto (o áudio é mantido) e, junto disso tudo, colocar algumas fotos. Não é preciso salvar nada; esse processo acontece em segundo plano e é automático, incluindo a sincronia com o Google Drive.

Salvas algumas notas, o seu Keep ficará multicolorido, cheio de quadrados informativos com listas, trechos de textos e fotos.

Appe do Google Keep.

Falando em cores, esse é o mecanismo utilizado para organizar notas no Keep. Nada de tags ou outra coisa mais complexa, apenas cores. Cada nota pode ser pintada, e são oito cores à escolha. Elas facilitam a identificação e abrem margem para que o próprio usuário defina qual representa o que. Se por um lado ganha-se em facilidade, por outra perde-se poder. Talvez seja pessoal, mas sinto que isso limita o Keep a coisas mais imediatas, diferente da pegada “cérebro externo” da qual o Evernote tanto se orgulha — e faz (super) bem.

Outra característica que reforça essa ideia de imediatismo é o arquivamento. Quem usa (direito) o Gmail deve estar familiarizado com o conceito: ao arquivar uma nota, ela some da tela inicial, mas continua acessível pela busca — presente, e do Google espera-se que ela seja no mínimo muito decente. Pelo menu, ainda, o Keep ainda permite acessar todas as notas arquivadas.

O Wunderlist melhorou dramaticamente com a segunda versão, lançada no começo do ano. O Evernote, confesso não usar no celular. OneNote? Idem. Mas tem uma coisa que o Google emprega bem em seus apps, que no Keep não é diferente e que vale mencionar: a velocidade.

Ele abre instantaneamente. O meu parâmetro de comparação, o Wunderlist 2, é rápido, mas os milésimos de segundos que o Keep aparenta ter de vantagem dão a impressão de fazer toda a diferença. A interface é simples e sem frescura, o que aumenta a percepção de agilidade. Sabe o Bloco de Notas do Windows, limitado, feinho, desprezado por muitos, mas a coisa mais rápida que você é capaz de chamar com um simples Winkey+R seguido de “notepad”? O Keep parece ser o equivalente ao Android — que, diga-se, carecia de um app de notas com essas virtudes.

E tem mais: além dos widgets, o Google incluiu de cara suporte à lockscreen do sistema. O recurso, que apareceu no Jelly Bean, permite lançar apps direto da tela de bloqueio, sem precisar sequer destravar o celular. Uso isso muito com a câmera, arrastando o dedo para direita para abri-la; a julgar por esses primeiros momentos com o Keep, ele tem tudo para ser o cara da esquerda. É muito prático.

Ah, tem a versão web também

Nos primeiros instantes pós-liberação do Keep, a versão web estava dando um erro estranho — este aqui. Algumas horas mais tarde parece que a situação estabilizou e as atualizações são sincronizadas em tempo real. A usabilidade da versão web, porém, vai demorar um pouco mais para ser melhorada.

Há dois modos de visualização, um em lista corrida (a la Tumblr), outro em miniaturas. O site é visualmente simples, porém pouco inspirado. E não sei se tem alguma zica com a minha máquina (um Samsung Série 9, com Core i5 e GPU onboard da Intel), mas ele é irritantemente lento. Um contrassenso, eu sei, e parece não ser uma regra — o Leo, com um MacBook Air, acessa o Keep na web sem engasgos. Estranho.

Maravilha, tô migrando de mala e cuia!

Coisa linda esse Keep.

Calma, amigo. O Keep é lindo e bem esperto, mas ainda é novinho. E como toda versão 1.0, em alguns pontos ele deixa a desejar.

A maior falha do Keep, à primeira vista, é o fato de ele ser egoísta. Você está bem servido para criar notas e listas e imagens e tudo mais, mas esse conteúdo fica contigo. Não existe um sistema de compartilhamento interno. Por “interno”, entenda compartilhar uma nota/lista com outras pessoas e todos poderem editá-la colaborativamente, em tempo real, como rola no próprio Google Docs/Drive para ficar num exemplo da casa. O que dá para fazer é compartilhar o conteúdo através de outros apps, situação que, com exceção do email, não me parece ser algo tão útil. (Nota-se aqui, aliás, uma falta de polimento no sistema quando, ao mandar alguma coisa para o Twitter, ele envia junto a assinatura “Compartilhado via Google Keep”, o que te deixa mais ou menos com metade dos caracteres permitidos pelo micro blog.)

Consigo imaginar incontáveis situações onde uma lista conjunta é útil. Você e sua namorada(o) podem manter uma lista do mercado, atualizada a quatro mãos e sempre revisada quando alguém passa na vendinha depois do serviço. Um trabalho em grupo na faculdade pode ter as tarefas quebradas em outras menores e cada um ir fazendo um pouquinho e marcando o que estiver pronto. Uma pauta, com gente a entrevistar e fatos a serem apurados, pode ser composta ali dentro — e compartilhada com o editor. Isso só nas listas, e as possibilidades não se limitam a elas. Mas o Keep, esse sim limita essa imensidão de cenários.

O mais grave é que a concorrência permite isso. É ridiculamente fácil trabalhar em conjunto numa lista do Wunderlist. E estranha, justamente por vir do Google, a ausência desse recurso — eles batem tanto nos círculos do Google+, e fazem alguns modelos de compartilhamento tão redondos (Docs/Drive), que não deve ter sido técnico o motivo para a não inclusão disso no Keep.

Outro fator crucial e já citado de relance é a falta de ferramentas de organização. Não há tags, pastas, categorias, nada para categorizar as notas salvas. Com quatro, cinco na tela, sem problemas. Mas na hora que a quantidade supera os dedos das mãos, fica um tanto complicado se encontrar entre tantos quadradinhos coloridos. Sim, tem a busca, mas o Gmail tem a busca e os marcadores (labels). Custava repetir a dose?

E tem mais um ponto. A queda do Reader mostra que, não, não dá para confiar cegamente no Google a longo prazo. O Notebook, um produto similar ao Keep, do próprio Google, já experimentou um destino amargo, tendo sido descontinuado faz alguns anos. Esse é um risco recorrente na indústria, mas o timing do Google na liberação do Keep, dias após o conturbado fim do Reader, é bem ruim. Dá uma olhada no tanto de menções a essa relação que pipocou no Twitter e nos comentários do nosso post sobre o Keep para ver a recepção.

O Keep é legal, mas precisa comer mais feijão

No que se limita a fazer, o Keep é bem bacana — o app para Android, pelo menos. O problema é justamente o tanto que ele limita, mais do que se esperaria de um app, mesmo novato, em um segmento infestado de players de peso. Vejo-o com muito apelo entre aqueles que nunca usaram nenhuma ferramenta do tipo, da mesma forma que acho difícil alguém acostumado ao Evernote ou OneNote migrar para ele — no estágio atual, vale dizer.

O Keep também ajuda a puxar o Drive, que embora pareça estar indo bem, ainda não tem a fama do Dropbox, muito menos a sua aceitação como back-end entre os desenvolvedores. É, no mínimo, um belo case para vendê-lo como uma solução legal para armazenamento na nuvem além de arquivos do velho Google Docs.

Não é raro o Google lançar algo inacabado e, com o tempo, lapidar a coisa de tal forma que ela cai nas graças do público. Foi assim com o Reader, inclusive. Hoje, o Keep é só uma curiosidade para quem já leva a sério a tomada de notas e criação de listas. Amanhã? Se não fecharem o serviço precocemente, eu não arrisco palpites…

Fotos e vídeo: Leo Martins.

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