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Afinal de contas, o que o Google tinha na cabeça quando inventou o Wave há dez anos?

Há dez anos, o Google apresentou um aplicativo que pretendia transformar as comunicações. Durante uma apresentação de mais de uma hora de duração no Google I/O em 2009, o então vice-presidente de engenharia da empresa, Vic Gundotra, mostrou o que ele chamou de um novo aplicativo “mágico” que combinava e-mail, mensagens e outros recursos como […]

Imagem: Google

Há dez anos, o Google apresentou um aplicativo que pretendia transformar as comunicações. Durante uma apresentação de mais de uma hora de duração no Google I/O em 2009, o então vice-presidente de engenharia da empresa, Vic Gundotra, mostrou o que ele chamou de um novo aplicativo “mágico” que combinava e-mail, mensagens e outros recursos como mídia social e planejamento de eventos em uma única ferramenta estilosa do tipo “faz-tudo“, chamada Wave.

A equipe por trás do Wave foi liderada pelos engenheiros Lars e Jens Rasmussen, os irmãos que também estiveram por trás do produto de mapeamento que acabaria se tornando o Google Maps.

O Wave foi criado para ser uma espécie de tudo-em-um-só-lugar para mensagens. Ele tinha abordagem parecida com a da Wiki, o que significa que qualquer um poderia editar qualquer coisa e mexer em qualquer lugar. Tudo que era necessário era que a pessoa estivesse incluída em um Wave, como seriam chamadas as mega-threads públicas ou privadas pelas quais as pessoas se comunicariam.

Basicamente, o Wave juntava todas as várias ferramentas tradicionalmente usadas para organização e colaboração (pense em Gmail, Docs, Calendário, Twitter, aplicativos de bate-papo, etc.) em um único produto.

Um dos principais recursos do Google Wave era a digitação em tempo real. Com ela, todos em um Wave podiam ver tudo o que todos os outros escreviam à medida que digitavam, como no Google Docs. Isso pode funcionar para planilhas ou documentos, mas não significa — na minha humilde, mas correta opinião — um cenário agradável de comunicação profissional. Felizmente, o Wave também permitia desativar esse recurso para que ninguém precisasse ficar mostrando todo erro de digitação ou ideia idiota que acabaria apagando antes de enviar.

A lista de recursos também incluía grupos específicos do Google Wave, Maps incorporados para tags de localização, pesquisas, ferramentas de criação e colaboração em documentos e um rastreador de alterações, mas no formato do PowerPoint e visível usando um controle deslizante. Parece bizarro? Parece sim, e era mesmo, como você pode ver por aqui.

Threads de bate-papo no Wave eram chamados de “wavelets”, e cada mensagem única era chamada de “blip”. Essas designações parecem dolorosamente cafonas e péssimas quando vistas em retrospecto, mas pense: mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo usam um site chamado “livro de caras” para se comunicar com seus entes queridos quase todos os dias. Vale tudo no nosso estranho mundo digital, pessoal!

Há semelhanças entre as ferramentas oferecidas pelo Wave e o gigante de colaboração profissional de nossos tempos, o Slack. Os chamados “robôs” da Wave eram parecidos com Slackbots. Eles tinham sido pensados para executar tarefas como traduzir texto, preencher resultados de pesquisa ou interagir com usuários em um Wave.

Como um exemplo, o Wave permitia uma integração no Twitter que tornava possível postar diretamente do aplicativo e agregar mensagens da rede nele. Essa função ganhou aplausos quando foi mostrada para os desenvolvedores, que não faziam ideia do lugar infernal que o Twitter se tornaria em uma década.

O Wave foi extraordinariamente ambicioso ao tentar fazer quase tudo, incluindo aí reimaginar os limites e funcionalidade do e-mail. Apesar disso, suas ferramentas eram terrivelmente confusas, e ele não demorou muito nesse mundo.

Um ano depois de apresentar o produto em sua conferência de desenvolvedores, o Google anunciou que estava tirando de linha a ferramenta.

A empresa disse em um post na ocasião que o Wave “não havia sido adotado pelos usuários como gostaríamos”, acrescentando que partes dele permaneceriam disponíveis como código aberto “para que os clientes e parceiros possam continuar a inovação que iniciamos”. Em 2010, o Google anunciou que o produto entraria no programa de incubadoras da Apache Software Foundation e seria daqui em diante conhecido como Apache Wave.

O Google talvez estivesse certo ao chamar o Wave de “um tipo radicalmente diferente de comunicação”. Mesmo assim, ele não era tão bem feito e não conseguiu fazer com que pessoas comprassem totalmente sua ideia. O Wave não foi o primeiro aplicativo de comunicação que o Google decidiu matar e definitivamente não será o último.

Dito isto, mesmo com sua identidade um pouco confusa, Wave parecia ter uma boa ideia de qual era o destino da comunicação em ambientes de trabalho. Muitos de nós teríamos dificuldades para trabalhar sem a ajuda do Slack, que é meio como um equivalente dos dias atuais do Wave. (O Slack também representa um mundo em que nunca paramos verdadeiramente de trabalhar, mas esse é outro assunto.)

Mas até o Slack conhece seus limites. E se há uma lição a ser aprendida com a tentativa fracassada da Wave de juntar todas as formas de comunicação em um único app cheio de gente não torna a colaboração excelente. Às vezes, o resultado não chega nem a ser minimamente útil.

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