[Hands-on] Windows 8.1: de “sem concessões” para um sistema refinado
O Windows 8.1 já está entre nós na forma de um Preview — que qualquer um pode baixar. A nova versão, que deve ser lançada até o final do ano e será gratuita para usuários do Windows 8, chega para aparar arestas e devolver todo o feedback que a Microsoft recebeu na versão mais diferente e arriscada da história do seu principal software. Qual o resultado disso? Você confere nas linhas a seguir.
Se o mantra do Windows 8 era “sem concessões”, no Windows 8.1 a palavra de ordem é “refinamento”, mesmo que para isso seja preciso fazer algumas concessões, dar o braço a torcer (e o botão Iniciar que o diga). Na apresentação de abertura e nos bate-papos com a imprensa aqui na Build, em San Francisco, os funcionários da empresa estão batendo muito nessa tecla. Nem precisariam, porém, já que o “refinamento” a que tanto se referem é visível em diversos pontos do Windows 8.1.
Windows 8.1: agora vai?
O grande desafio desse novo Windows é, mais uma vez, tentar conciliar passado e presente no mesmo produto. O desktop clássico, que acompanha o sistema desde o Windows 95, continua ali, lado a lado com a nova porção moderna do sistema, pensada para tablets e telas sensíveis a toques.
Ano passado o Windows 8 meio que impôs essa visão aos usuários. O choque foi violento, a recepção, amarga, e o que era uma promessa de reinvenção acabou se transformando em um show de rejeição. As pessoas usam o Windows 8 porque já veio instalado no computador novo e, com uma ou outra mudança no workflow, dá para usá-lo da mesma forma que o Windows 7 com algumas vantagens pontuais, como maior velocidade e pequenas melhorias em apps clássicos. As grandes novidades, como apps modernos? Então… legais, bonitos, mas vamos voltar ao que interessa, aos apps que todos usamos há tanto tempo no desktop, né?
Com mais tempo para pensar e tendo todo o retorno (nem sempre muito amigável) de usuários reais em ambiente de produção para processar e ver onde errou, o trabalho da Microsoft feito em cima do Windows 8.1 é nitidamente mais elaborado. De pequenos toques de usabilidade, como manter o mesmo wallpaper para desktop e Tela Inicial, até mudanças maiores, como a forma com que o sistema lida com duas ou mais janelas de apps modernos, as coisas parecem fluir melhor e muita coisa antes estranha passa a fazer mais sentido. Como o Leo disse durante o novo live blogging, ontem, parece que o Windows 8 foi um doloroso beta, pago e direcionado a toda a base de usuários, e o 8.1 é a versão final, aquela que deveria ter saído em 2012.
Pequenas novidades que fazem toda a diferença
Todos os apps nativos do Windows foram reformulados. Estão mais agradáveis, mais completos, parecem menos carentes de recursos e mais livres conceitualmente falando. A Loja é um grande exemplo: ela mantém a linguagem visual do sistema mas dispõe os elementos de maneira diferente, bonita e ainda assim concernente com o visual do sistema. O Email, que sofreu críticas duras na época do lançamento do Windows 8, está mais completo, com recursos avançados e que, se não o equiparam aos webmails em recursos, aproxima-o deles.
Existem novos apps, também. Um para saúde e dieta, outro de receitas com o modo hands-free, onde basta passar a mão (provavelmente suja com comida) na frente da câmera para passar a página da receita, e um bem-vindo tutorial/ajuda, ainda indisponível neste Preview, mas que deverá ser uma mão na roda para os novatos no sistema. O Reading List é, no momento, uma oportunidade perdida: ao ver o seu bloco na Tela Inicial, pensei tratar-se de um Instapaper da Microsoft. Na prática, ele é apenas um sistema de bookmarks, sem formatação de páginas, nem cache para leitura offline. Talvez mude até a versão final.
O modo de funcionamento dos apps modernos está mais flexível. Os apps podem ocupar, agora, 25%, metade ou 75% da tela. Mais de dois podem ocupar a tela, e ao clicar em links que abrem outros apps, a inclusão do segundo é inteligente — se o Email chama o app Fotos, esse último ocupa 75% da tela por ser mais visual, por exemplo. O manejo de telas mantém dois apps “grudados”, então você pode alterná-los com outros apps mantendo essa dupla unida. Múltiplos monitores também se beneficiam dessas melhorias e, a certa altura da apresentação de abertura, oito apps rodavam ao mesmo tempo dispostos em dois monitores. Todos bem espremidos, mas é um feito e tanto para quem estava limitado a dois até então.
O botão Iniciar está de volta, embora ele ainda leve o usuário à Tela Inicial. Das mudanças sutis que fazem toda a diferença, agora é possível manter o mesmo wallpaper no desktop e na Tela Inicial. Parece bobagem, mas essa simples conexão visual dá uma consistência que fazia muita falta no Windows 8. Pareciam dois sistemas dentro de um, sensação que some com essa simples mudança. O usuário ganhou mais poder: quer iniciar o sistema no desktop? Sem problema. Quer ver a lista de apps em vez dos blocos dinâmicos na Tela Inicial? À sua escolha. Quer reordenar os apps na lista completa? Vai fundo. Essas e outras opções estão nas configurações da barra de tarefas — um tanto escondidas e longe das configurações modernas, o que soa um pouco… inconsistente.
Há grandes novidades, ainda, para o Bing e o SkyDrive, mas elas merecem um post à parte.
O Windows está de volta ao páreo
O impacto negativo do Windows 8 foi bastante sentido, mas pode ser, pode ser que esse ano complicado para a Microsoft tenha sido necessário para recolocar o sistema de volta nos trilhos dessa nova corrida onde somam-se a Ubuntu e OS X sistemas mais jovens e pensados para a Era Pós-PC, como iOS e Android. E fica bem claro, mais uma vez, que o Windows só emplacará se os tablets, híbridos e conversíveis caírem no gosto popular — mesmo com todas as melhorias, a porção nova do sistema ainda só faz sentido se manipulada com os dedos.
Além de “refinamento”, ouve-se muito pelos corredores do Moscone Center a promessa de “lançamentos rápidos”, coisa que Google e Apple já fazem tem algum tempo mas que a Microsoft só está descobrindo agora. É ruim? Não necessariamente. Não trabalhar com essa filosofia é um problema fácil de se resolver, basta adotá-la e colocá-la em prática. O Windows 8.1 sai um ano depois do Windows 8 com, nas palavras da Microsoft, mais de 500 mudanças e melhorias. Se demorou para ganhar tração, nada impede que esse ritmo alucinado, porém exigido hoje pela indústria seja mantido daqui para frente. Aliás, é vital que essa celeridade seja incorporada pela Microsoft, e os executivos da empresa parecem bem apegados a essa ideia.
Por fim, como a cereja do bolo, surge o ecossistema montado pela Microsoft. Não é fácil criar produtos e sistemas distintos que, de alguma forma, conversem entre si. Quanto maior o alcance, mais complicado fica, e com tablets, computadores, smartphones, vídeo game e serviços web, a Microsoft tem uma vantagem e um problemão. Se der um jeito de colocar tudo isso no liquidificador e fazer as coisas funcionarem, terá um diferencial brutal na briga com Apple e Google.
Esperávamos ver mais disso por aqui, mas na apresentação de hoje cedo ficou um gostinho de “quero mais”. Vimos muita sincronia de dados e estados, aquele Project Spark que é bacana, mas já tínhamos visto na E3, mas só. Esperávamos mais de um ponto que pode ser o ponto de desequilíbrio a favor da Microsoft.
Se ano passado a Build terminou com muitas dúvidas no ar, um Windows 8 severamente questionado e incertezas, em 2013 o cenário é melhor. Para mim, o que mostra bem esse momento mais feliz da Microsoft foi a vontade que fiquei de testar logo o sistema após a apresentação de Chaitanya Sareen sobre a experiência de usuário do Windows 8.1. Há muitos acertos ali, e em breve daremos uma olhada de perto nele para ver se, na prática, essas promessas se cumprem. Aliás, aproveitem os comentários para mandar dúvidas, curiosidades, enfim, para nos ajudar a montar esse post de hands-on.