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Homem de Ferro 3: o showman está de volta

“Homem de Ferro 3” inaugura a fase 2 da Marvel no cinema com o pé direito, trazendo uma pegada diferente para a série, ao mesmo tempo em que mantém os acertos dos filmes anteriores. E os louros têm nome e sobrenome: Shane Black. Pronto para a estreia do “Homem de Ferro 3”? Nosso amigo Gustavo […]

“Homem de Ferro 3” inaugura a fase 2 da Marvel no cinema com o pé direito, trazendo uma pegada diferente para a série, ao mesmo tempo em que mantém os acertos dos filmes anteriores. E os louros têm nome e sobrenome: Shane Black.

Pronto para a estreia do “Homem de Ferro 3”? Nosso amigo Gustavo Vieira, do Espinafrando, traz uma ótima crítica para você ler antes e depois do filme (durante fica difícil). Confira.

O homem responsável pelos roteiros dos Máquina Mortífera mantém, no geral, os 100% de aproveitamento em seu segundo trabalho na cadeira de diretor (quem ainda não viu “Kiss Kiss Bang Bang”, o filme que deu início à recuperação da carreira de Robert Downey Jr., está vacilando). Não há ninguém em Hollywood que saiba casar tão bem ação e humor como Black.

Tudo começa com Tony Stark (Robert Downey Jr.) recapitulando eventos que ocorreram antes de ter se tornado o vingador dourado e que voltam para assombrá-lo numa época particularmente ruim de sua vida. Após a acachapante conclusão de sua aventura com “Os Vingadores“, Stark está com seu emocional em frangalhos. Entra em cena o Mandarim (Sir Ben Kingsley) e a ameaça de uma poderosa organização terrorista atuando em solo americano com homens-bomba. Quando uma pessoa próxima ao herói é ferida num dos atentados, Tony Stark clama por vingança e atrai o alvo para sua mansão em Malibu. Sua arrogância tem preço e emite cheques que seu ego não é capaz de compensar. O confronto é violento, Stark leva a pior e tem de recomeçar sua jornada do zero, privado de quase todos os recursos, tendo apenas a sua genialidade abalada para tentar dar a volta por cima. O clima é mais pesado do que os anteriores, sem cair no dilema de “filme sombrio do Nolan“.

O roteiro de Shane Black e Drew Pearce toma emprestado elementos de 2 dos melhores arcos do Homem de Ferro nas HQs dos anos 2000 (“Extremis”, por Warren Ellis e Adi Granov, e “Os 5 Pesadelos”, por Matt Fraction e Salvador Larroca), adiciona antagonistas clássicos dos anos 60 (além do Mandarim, a IMA —Ideias Mecânicas Avançadas— dá o ar da graça), mistura a pataquada do Patriota de Aço pós-Invasão Secreta (da saga “Reinado Sombrio”, que me fez desistir de acompanhar as revistas mensais da Marvel), revira e repagina tudo, resultando numa aventura que não está nos gibis e que é bastante superior aos melhores momentos da versão em papel e tinta (além de um tanto incômoda frente à realidade cruel dos atentados em Boston).

O melhor exemplo da qualidade desse remix sem dúvida é o tratamento dado ao temível Mandarim. O que começa de forma aparentemente problemática e preguiçosa se transforma num dos maiores acertos da adaptação com uma guinada inesperada no roteiro. Guinada que deve amealhar protestos dos fãs mais ensandecidos, mas que funciona de modo mais do que satisfatório no cinema.

E como é bom ver um filme do ferroso sem um vilão de armadura! É pena que ainda tenhamos que aturar esse maldito vício de ligar qualquer antagonista de super-herói ao seu passado, o complexo de Frankenstein. É pedir muito que o vilão da vez seja apenas um louco maléfico com delírios de grandeza, sem nenhuma ligação prévia com o herói? Se Bin Laden fosse personagem de cinema de ação, certamente teria sua gênese no financiamento dos EUA contra a invasão soviética ao Afeganistão (ops…).

Vilões à parte, é interessante como Homem de Ferro continua a ser das poucas franquias em que o herói domina a tela, sem ser eclipsado pelo desempenho do antagonista da vez. Por mais que as performances do sempre competente Guy Pearce (dando vida nova à Aldrich Killian, um personagem que faz mera ponta de 2 páginas, 10 quadros, no início da HQ Extremis) e do próprio Kingsley sejam excelentes, Downey Jr. segue arrebatador com seu Tony Stark/Homem de Ferro. E o próprio personagem evolui: deixa de lado a persona de showman (natural, depois de perceber que não é o único super-herói do mundo e de enfrentar uma ameaça cósmica em Os Vingadores, muito além da compreensão humana) e assume sua porção introspectiva, sem perder o seu senso de humor peculiar. É de sua posição de vulnerabilidade que busca sua força, uma volta ao básico.

Por falar em humor, o reencontro de Shane Black e Robert Downey Jr. é repleto de tiradas cáusticas em momentos precisos. E as que envolvem crianças são definitivamente as melhores, por mais cruel que isso possa soar.

Outro elemento característico dos quadrinhos e filmes da Marvel e que não pode faltar é o time de coadjuvantes que ressalta a humanidade desses super-humanos. Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e Happy Hogan (Jon Favreau) retornam ainda melhores, Don Cheadle nos faz questionar novamente por que diabos escalaram o fraco Terrence Howard como James Rhodes no primeiro filme, e ainda temos o reforço bem-vindo de Maya Hansen (Rebecca Hall, a Vicky de Vicky Cristina Barcelona), a cientista por trás do Extremis (um experimento de biotecnologia para aprimoramento do corpo humano).

Um ponto alto que passa desapercebido durante a primeira sessão é a atenção com os detalhes que compõem a unidade do universo Marvel nas telas. Um deles é a presença de Yinsen (o cientista que salva a vida de Tony Stark na caverna dos terroristas em sua primeira aventura) na convenção na Suíça durante o flashback de abertura. O que pareceu apenas um easteregg do tipo “olha, estamos tentando criar um vínculo com o primeiro filme” na verdade é mais do que mera tentativa: revendo o primeiro Homem de Ferro, Yinsen cita que os dois já se encontraram anteriormente justamente em Berna. Há outros aspectos como esse que acabam jogando uma luz diferente nos filmes anteriores, criando questões que certamente serão exploradas no futuro da franquia. Minha aposta é que, mesmo com o desfecho surpreendente envolvendo o Mandarim e a Organização dos 10 anéis neste Homem de Ferro, ainda ouviremos falar deles.

Todo esse panorama ajuda a relevar a derrapada do final, que apesar de trazer uma sequência fantástica que eleva a adrenalina e arrepia os pelos do braço, cai na armadilha do maniqueísmo óbvio. E já que chegou a hora das espinafradas, o único momento em que Jon Favreau faz falta na direção é na trilha sonora, que perde toda sua veia roqueira. Ficamos mal acostumados com AC/DC, Black Sabbath, The Clash e Beastie Boys. Vale mencionar também que o 3D é dispensável pelos motivos de sempre: o filme perde contraste, cor e brilho, além de dar enxaqueca.

Mesmo com (poucas) falhas, Homem de Ferro 3 é um filme de ação espetacular e definitivamente o melhor da trilogia. Estreia nos cinemas de todo o Brasil hoje, 26 de abril de 2013, nas versões 35mm e digital 2D, 3D, Imax 3D, e 4D.

P.S.

Fique atento para não perder a ponta de Stan Lee. :)

P.P.S.

Siga o conselho do tio Warren e aguarde o final da belíssima sequência dos créditos, pulp até a medula. A tradicional cena bônus é das melhores!


 Esta história foi publicada originalmente no blog Espinafrando. Republicado com permissão.

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