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Homem pode ter contraído doença cerebral fatal por comer carne de esquilo

Um homem de Rochester, no estado de Nova York, EUA, pode ter pego uma das mais assustadoras doenças cerebrais por uma das maneiras mais estranhas possíveis — comendo carne de esquilo contaminada com proteínas zumbis. A história bizarra foi incluída em um relatório preliminar publicado no começo do mês na IDWeek, a conferência anual da […]

Um homem de Rochester, no estado de Nova York, EUA, pode ter pego uma das mais assustadoras doenças cerebrais por uma das maneiras mais estranhas possíveis — comendo carne de esquilo contaminada com proteínas zumbis.

A história bizarra foi incluída em um relatório preliminar publicado no começo do mês na IDWeek, a conferência anual da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas. O caso do homem foi um dos muitos detalhados por médicos do Rochester Regional Health, rede de hospitais da cidade.

De acordo com o documento, o homem de 61 anos deu entrada em um hospital com déficit cognitivo, esquizofrenia e psicose em 2015. Ele não conseguia andar com as próprias pernas. Mas não havia nada a ser feito. Cinco meses depois de os sintomas começaram, o homem faleceu. Julgando por tomografias cerebrais e outros exames, o sujeito provavelmente tinha uma variante da doença de Creutzfeld-Jakob (vDCJ), uma forma rara e universalmente fatal desse mal neurodegenerativo.

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A DCJ é uma das muitas doenças causadas por um tipo de proteína conhecida como príon. Príons existem naturalmente no cérebro e são aparentemente inofensivos para nós, mas, quando essas proteínas começam a se dobrar de maneiras que não deveriam, elas forçam outros príons próximos a fazerem o mesmo. Isso cria um exército que, em anos ou mesmo décadas, canibaliza o cérebro.

Doenças priônicas podem acontecer espontaneamente ou serem passadas por hereditariedade. Elas também podem ser infecciosas, e algumas delas são capazes até mesmo de contaminar diferentes espécies de animais. Essas doenças também são chamadas de encefalopatias espongiformes transmissíveis, uma referência à aparência oca e esponjosa do cérebro (ao menos quando examinado por um microscópio) em alguém que morre por causa delas.

A vDCJ foi identificada pela primeira vez em 1996, quando moradores relativamente jovens do Reino Unido começaram a morrer inesperadamente de DCJ. Essas vítimas tinham, infelizmente, comido carne infectada por príons de vacas que tiveram sua própria forma de doença priônica, a encefalopatia espongiforme bovina (que você provavelmente conhece como doença da vaca louca).

As vacas provavelmente pegaram a doença por comer ração animal feita a partir de matéria cerebral de outras vacas também infectadas, assim como de outros animais vulneráveis a príons, como ovelhas.

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Houve apenas 200 casos documentados de vDCJ ao redor do mundo, a maioria deles ocorrida no Reino Unido. A doença da vaca louca e sua variante humana nunca afetaram os EUA, em grande parte graças às práticas de segurança alimentar que impedem que pecuaristas alimentem seu gado com alimentos feitos da maioria de outros animais. O Reino Unido fez o mesmo em 1989, além de sacrificar centenas de milhares de bovinos como medida de precaução. Nem todo mundo que come carne infectada desenvolve vDCJ, o que provavelmente indica que nossa genética tem um papel fundamental nisso.

Mas, em 1997, cientistas americanos demonstraram preocupação sobre a possibilidade de iguarias regionais, como esquilos e outras caças, transmitirem doenças priônicas. No caso do homem, o Live Science noticia que sua família contou aos médicos que ele era um caçador ávido e um apreciador de carne de esquilos.

Os autores do estudo, liderados pela médica residente Tara Chen, encontraram o caso por acaso e não chegaram a tratar o homem. Eles começaram a vasculhar os registros hospitalares depois de terem visto quatro casos suspeitos de DCJ no período de seis meses durante o ano passado, um número extraordinariamente alto para uma doença rara que afeta 350 pessoas em todo o país anualmente. Dos cinco casos detalhados no relatório, entretanto, dois foram confirmados como não sendo DCJ.

Apesar de os testes atuais conseguirem distinguir vDCJ da forma clássica da doença, Chen disse ao Live Science que não se sabe se o homem chegou a ser diagnosticado com DCJ. Várias doenças cerebrais fatais, como Alzheimer, só podem ser confirmadas pelos médicos por meio de exames cerebrais depois da morte.

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Se for confirmado que o homem teve mesmo vDCJ, ele pode ser a única pessoa a contrair a doença nos EUA de que se tem conhecimento. Outros quatro casos foram oficialmente identificados como vDCJ nos EUA, mas acredita-se que eles foram expostos à doença antes de entrar no país.

De acordo com o Live Science, Chen e sua equipe estão, atualmente, buscando permissão para obter os registros médicos do homem, para ver se houve um diagnóstico de autópsia. Ao publicar o relatório preliminar do caso, eles também esperam aumentar a conscientização dos médicos sobre a DCJ, notando que eles levam em média duas semanas para diagnosticar ou descartar esses casos. Esse atraso pode aumentar o risco de infecção cruzada em hospitais, devido à esterilização inapropriada de equipamentos médicos contaminados.

Os príons têm uma natureza zumbi e podem sobreviver a coisas que matam facilmente outros patógenos, como radiação e produtos químicos como o formaldeído.

[IDWeek via Live Science]

Imagem do topo: tpa (Pixabay)

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