Homem morre e esposa está em condições críticas após tomarem cloroquina para se prevenirem contra coronavírus

O casal tentou se medicar com cloroquina por conta própria depois de ver Trump falar sobre o medicamento na televisão como um tratamento para coronavírus.
Um medicamento contendo cloroquina em um hospital francês. Foto: Gerard Julien (AFP via Getty Images)

Um homem do Arizona morreu e sua esposa está em estado crítico depois de ouvirem Donald Trump promover o medicamento contra malária cloroquina como um tratamento para o novo coronavírus e decidirem tomar por conta própria, informou a CNN na segunda-feira (23) à noite.

Trump repetidamente mencionou a cloroquina como possivelmente um tratamento “muito poderoso” para o vírus, com base em um pequeno estudo francês, apesar das advertências do diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Dr. Anthony Fauci, de que seu uso não é comprovado e se baseia apenas em dados anedóticos.

De acordo com a NBC News, a mulher em tratamento intensivo disse que ela e o marido estavam com “medo de adoecer” e tentaram se medicar com cloroquina depois de ver Trump falar sobre o medicamento na televisão. Os dois tomaram um produto para infestações de parasitas em aquários que listava o fosfato de cloroquina como ingrediente e que só estava em sua residência porque eles já tiveram uma carpa.

A cloroquina pode ser extremamente tóxica quando não administrada sob a supervisão de um médico; doses baixas de dois gramas podem ser fatais, e há uma variedade de efeitos colaterais graves. Em uma declaração à imprensa, o sistema hospitalar Banner Health escreveu que o casal, com mais de 60 anos, ingeriu o medicamento e em meia hora “experimentou efeitos imediatos que exigiam internação em um hospital próximo da Banner Health”.

Como a Slate observou, Trump tuitou no sábado que acredita que a hidroxicloroquina, um análogo menos tóxico da droga, deve “ser posta em uso IMEDIATAMENTE” e na terça-feira mencionou um artigo citando um homem que acredita que a hidroxicloroquina o ajudou a vencer o coronavírus.

Embora pesquisas de laboratório tenham demonstrado que o medicamento é eficaz em outros coronavírus relacionados que causam síndrome respiratória aguda grave (SARS), o CDC e a Organização Mundial de Saúde ainda estão estudando se o mesmo se aplica ao atual surto de SARS-CoV-2 e à doença que causa, COVID-19.

Atualmente, o medicamento é permitido apenas para ser usado no tratamento de coronavírus nos EUA por motivos “compassivos”, o que significa que o médico está sem opções comprovadas para ajudar um paciente e ambos concordaram em correr o risco de um tratamento não comprovado.

Em entrevista ao Vaughn Hillyard, da NBC News, a mulher em questão afirmou ter ouvido que a Food and Drug Administration não havia aprovado o medicamento. Mas ela acrescentou que “Trump continuou dizendo que era basicamente uma cura…meu Deus. Não tome nada. Não acredite em nada. Não acredite em nada que o presidente diga, e seu povo, porque eles não sabem do que estão falando…É uma dor que nunca vou superar”.

O Dr. Daniel Brooks, diretor médico do Centro de Informações sobre Intoxicações e Medicamentos da Banner Health, escreveu no comunicado que “a última coisa que queremos agora é inundar nossos departamentos de emergência com pacientes que acreditam ter encontrado uma solução vaga e arriscada que poderia potencialmente comprometer sua saúde…Estamos pedindo fortemente à comunidade médica que não prescreva este medicamento a nenhum paciente não hospitalizado”.

Promover prematuramente a cloroquina como um remédio milagroso, com potencial para interromper a pandemia de coronavírus, não é a única estratégia imprudente que Trump adotou ultimamente.

Enquanto as autoridades federais de saúde se esforçavam para disponibilizar testes de vírus – questões que ainda não foram totalmente resolvidas – e o número de casos confirmados nos EUA subiu para dezenas de milhares, Trump minimizou a gravidade do surto. Mas, nesta semana, ele sugeriu que pode lançar avisos sobre distanciamento social ao público devido ao seu impacto na economia, algo que poderia ameaçar seriamente os esforços para conter o aumento dos casos em um momento em que hospitais em todo o país já estão sobrecarregados.

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