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Huawei ajudou Coreia do Norte a construir sua rede 3G, diz jornal

O governo dos EUA impôs sanções rigorosas contra a realização de negócios com o governo norte-coreano. Mas a Huawei, uma gigantesca empresa de telecomunicações no centro de uma disputa entre os EUA e a China, pode ter violado essas sanções ao ajudar a construir uma rede sem fio 3G para a Coréia do Norte, segundo […]

O ditador norte-coreano Kim Jong Un e o presidente dos EUA Donald Trump na zona desmilitarizada (ZDM) que separa a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, em foto tirada no dia 30 de junho de 2019. Foto: Getty Images

O governo dos EUA impôs sanções rigorosas contra a realização de negócios com o governo norte-coreano. Mas a Huawei, uma gigantesca empresa de telecomunicações no centro de uma disputa entre os EUA e a China, pode ter violado essas sanções ao ajudar a construir uma rede sem fio 3G para a Coréia do Norte, segundo uma nova reportagem do Washington Post.

O Post cita três fontes anônimas, incluindo um ex-funcionário da Huawei, que forneceu documentos que mostram que a Huawei pode estar trabalhando na Coréia do Norte com a empresa de tecnologia Koryolink. De acordo com o jornal, muitos dos detalhes ainda são obscuros, mas os documentos, que às vezes incluem códigos numéricos secretos em vez de nomes de países, levantam questões sobre possíveis violações de sanções.

A Huawei está supostamente trabalhando com uma empresa chamada Panda International Information Technology, que é de propriedade do governo chinês. A Panda foi incluída na lista de entidades do Departamento de Comércio dos EUA em 2014. Ela não tem presença nos EUA; portanto, tecnicamente, não importa se ela viola as sanções americanas já que não tem nada a perder. A Huawei, por outro lado, tem presença nos EUA, o que significa que não pode fornecer tecnologia ou serviços para a Coreia do Norte se quiser continuar a trabalhar nos EUA legalmente.

A maior questão que permanece em aberto é quanto do trabalho no Coreia do Norte foi feito pela Huawei e quanto foi pela Panda International, algo difícil de discernir. Mesmo assim, a informação de que a Huawei possa ter feito qualquer trabalho no país, comandado pelo notório ditador Kim Jong Un, é bastante importante.

Do Washington Post:

De acordo com um contrato de 2008, a Panda transportaria equipamentos da Huawei para Dandong, uma cidade no nordeste da China conhecida pelo comércio transfronteiriço. De lá, ele seria levado de trem até Pyongyang.

Documentos internos mostram que a Huawei fez negócios com uma empresa chinesa distinta, a Dandong Kehua, que em novembro de 2017 foi sancionada pelo Departamento do Tesouro dos EUA por exportar e importar mercadorias para e da Coreia do Norte — comércio visto por autoridades dos EUA como fontes de financiamento para os programas nuclear e de mísseis balísticos de Pyongyang. A Dandong Kehua não respondeu publicamente as sanções.

Representantes da Huawei negam as alegações de que fizeram trabalhos na Coreia do Norte. Ao Post, eles disseram que “não têm presença comercial” no país comunista. A Huawei não respondeu a um pedido de comentário do Gizmodo feito esta manhã.

A Coreia do Norte ficou atrás do resto do mundo na construção de uma infraestrutura moderna de comunicações, mas o país vem recebendo lentamente serviços modernos de telefonia e internet. A internet na Coreia do Norte é censurada e já foi comparada ao filme O Show de Truman dos anos 1990, por ser como um mundo alternativo e artificial.

A Huawei já está em maus lençóis nos EUA, já que o Departamento de Justiça apresentou acusações contra a empresa, incluindo fraude, obstrução de justiça e roubo de segredos comerciais da T-Mobile. O Departamento de Comércio colocou a Huawei na chamada Lista de Entidades, por preocupações de que ela representasse uma ameaça à segurança nacional.

Empresas americanas estão proibidas de fazer negócios com qualquer empresa na Lista de Entidades, embora o governo Trump tenha concedido a empresas como o Google um período de tolerância de 90 dias. Outras empresas precisam solicitar uma isenção para fazer negócios com a Huawei, mas a burocracia é complicada e dificulta o processo de trabalho com a gigante chinesa da tecnologia. As grandes empresas de tecnologia têm trabalhado nos bastidores para pressionar Trump e, espera-se, suspender as restrições à Huawei.

Mas, até agora, as coisas têm estado mais restritas do que nunca para a empresa chinesa. A Huawei cancelou o lançamento de seu novo laptop MateBook, citando as restrições comerciais dos EUA. O caso de sua diretora financeira, Meng Wanzhou, ainda está no limbo. Meng, filha do fundador da Huawei, Ren Zhengfei, foi presa em Vancouver, no Canadá, em dezembro de 2018, a pedido do governo dos EUA por supostamente violar as sanções dos EUA contra o Irã. Meng está em prisão domiciliar, e os EUA tentam extraditá-la para que ela seja julgada.

O presidente Donald Trump sugeriu que ele poderia aliviar as sanções contra a Huawei nos EUA em troca de termos comerciais favoráveis, mas essa estratégia parece estar indo a lugar nenhum. A Huawei está frustrada porque as sanções não foram flexibilizadas e Washington está frustrado porque não obteve melhores condições comerciais.

Ninguém sabe com certeza o que o futuro reserva para a Huawei nos EUA, mas, se esta última reportagem é uma dica, a Nova Guerra Fria está apenas começando. Mas amanhã é um novo dia, e o presidente Trump é conhecido por mudar de ideia, especialmente quando se trata de países como a Coreia do Norte.

Dois anos atrás, Trump estava ameaçando explodir a Coreia do Norte do mapa com “fogo e fúria”, algo que nunca vimos. Mas hoje, seu relacionamento pessoal com o ditador Kim Jong Un está melhor do que nunca. O presidente americano chegou inclusive a dizer que eles estão apaixonados.

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