O imenso iceberg da Antártida virou um grande experimento científico

Conhecido como A68, o iceberg está provando ser uma mina de ouro científica para pesquisadores

No mês passado, a humanidade assistiu com uma mistura de admiração e terror enquanto um iceberg com a metade do tamanho da Jamaica se separou da plataforma de gelo Larsen C, na Península Antártica. Mas a história ainda não acabou para a Larsen C ou para sua parte recentemente removida, o iceberg agora conhecido como A68. Conforme ambos o iceberg e a plataforma continuam a se transformar diante de nossos olhos, eles estão provando ser uma mina de ouro científica para pesquisadores.

• Ainda não sabemos o quanto o planeta vai aquecer neste século, mas precisamos agir
• O iceberg gigante da Antártida está começando a se desintegrar

Um comentário publicado nesta quarta-feira (2) na Nature Climate Change oferece um resumo de alguns dos impactos que vimos desde que a A68 teve sua grande quebra em 12 de julho, separando-se da plataforma de gelo Larsen C após meses de espera. Muitas das descobertas dos pesquisadores são coisas que já noticiamos — o iceberg está começando a se afastar para o norte, se separando em icebergs menores, por exemplo. Mas, à medida que a dissolução da A68 e da plataforma de gelo da Larsen C continua, os cientistas estão se concentrando cada vez mais em uma pergunta única: esse evento foi a ponta do iceberg para Larsen C?

“As imagens de satélite revelam muita ação contínua na plataforma de gelo Larsen-C”, afirmou a glacióloga e coautora do estudo Anna Hogg, em um comunicado. “Podemos ver que as rachaduras restantes continuam crescendo em direção a uma característica geográfica chamada elevação de gelo Bawden, que fornece suporte estrutural importante para a plataforma de gelo restante. Se uma plataforma de gelo perder o contato com a elevação de gelo, seja através de uma afinação prolongada ou de um grande evento de quebra de iceberg, isso pode provocar uma aceleração significativa na velocidade do gelo e, possivelmente, uma maior desestabilização.”

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Ilustração da plataforma Larsen C apresentando fatores e processos chave. Imagem: British Antarctic Survey

A possibilidade de uma maior desestabilização da plataforma de gelo é abordada por cientista há anos, e existem opiniões contraditórias. A Larsen C está atualmente em seu menor tamanho desde que o registro por satélite começou, e outras prateleiras de gelo ao longo da Península Antártica têm retraído por décadas – em parte, acreditam os cientistas, devido às mudanças climáticas. Mas se o que resta de Larsen C continuará a se romper após o recente evento de quebra depende de muitos fatores, incluindo o apoio estrutural que o iceberg forneceu ao resto da prateleira e se a prateleira se soltará nos pontos de fixação chave, como a elevação de gelo Bawden.

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Dado de satélite mostrando o crescimento das rachaduras na plataforma de gelo Larsen C antes do grande iceberg se soltar. Imagem: A.E. Hogg, CPOM, University of Leeds

O que é claro é que os cientistas estão famintos pelas novas imagens que chegam todas as semanas da NASA e dos satélites da Agência Espacial Europeia. Embora a recente separação da Larsen C seja consistente com os ciclos de quebras naturais das prateleiras de gelo, ela também se tornou uma experiência científica. Os cientistas vão colocar os dados dessa experiência em modelos e, com sorte, desenvolver uma compreensão melhor de como outras geleiras da Antártida vão se desintegrar, e com que rapidez, em um mundo em aquecimento.

“Vamos continuar a usar vários tipos de dados de satélite, cuidadosamente coletados por agências espaciais em todo o mundo, como a ESA e a NASA”, disse Hogg ao Gizmodo em um email. “Vamos combinar essas observações com modelos de fluxo de gelo para testar nossas ideias sobre como a plataforma restante respondeu ao evento de quebra do iceberg e, o mais importante, quais são os processos físicos responsáveis pela condução dessa mudança.”

“Acho que é seguro dizer que estamos provavelmente a apenas 50% do caminho da história da Larsen-C”, ela acrescentou.

[Nature Climate Change]

Imagem do topo: A. Fleming, British Antarctic Survey

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