Inteligência artificial pode aumentar em até 5% o desemprego entre menos qualificados nos próximos 15 anos
Ainda que a gente fale pontualmente de inteligência artificial em aplicações específicas, o fato é que a tecnologia vai influenciar profundamente o mercado de trabalho. Para entender um pouco como isso deve ocorrer no Brasil, a FGV Projetos fez uma pesquisa a pedido da Microsoft sobre o assunto. De cara, podemos falar que a implementação de IA pode causar um desemprego de até 5% entre os menos qualificados nos próximos 15 anos.
Antes de falar dos resultados do levantamento, vale explicar um pouco como ele foi feito. A pesquisa tentou considerar o seguinte cenário: e se a inteligência artificial for empregada em determinados setores? Com essa premissa, foram pensados três níveis de implementação (leve, intermediário e intenso, que na tabela são representados pelos cenários 5, 10 e 26, respectivamente) e como isso impactaria o emprego, a produtividade e o PIB (Produto Interno Bruto) do país em 15 anos.
Começando pela parte de emprego, a grande questão são as pessoas pouco qualificadas. No cenário de maior implementação, o desemprego entre pessoas menos qualificada pode chegar a 5,14%. Entre os mais qualificados, a mudança deve ser positiva, com crescimento de vagas de 1,56%.
Quanto maior o cenário, mais impacto da IA no setor
Quando o assunto é salário, tem uma boa notícia, mas acompanhada de uma má. “De modo geral, quanto maior a incorporação de tecnologia, maior a remuneração, tanto em menos qualificados como em mais qualificados, porém a tendência é que haja uma desigualdade maior”, disse Felippe Serigatti, professor da Fundação Getúlio Vargas e responsável pelo estudo, durante apresentação na última sexta-feira (17).
A desigualdade pode ser vista na tabela acima. Ela mostra que o uso intenso de inteligência artificial aumentará o salário de pessoas menos qualificadas em 7%, enquanto entre os mais qualificados o acréscimo será de quase 15%.
Do ponto de vista de geração de riqueza, a implementação da inteligência artificial influenciar no PIB em 6,43% no cenário mais avançado. No mais básico, a variação do PIB seria de 0,64%, e no cenário intermediário, 1,32%.
Por fim, sobre a questão da produtividade, entre os setores considerados na pesquisa, os que devem ser mais influenciados nos próximos 15 anos são transporte e comércio, o setor público e mineração e extração.
Apesar das conclusões, o estudo faz algumas ressalvas. Primeiro, que os resultados são muito distintos, então os efeitos podem variar muito conforme setores, ocupações, tarefas e características da força de trabalho. Além disso, o estudo mira o “médio prazo” — no curto prazo, pode haver “custos de adaptação” a essas novas tecnologias.
Neste cenário em que a inteligência artificial e a automação de diversas tarefas estarão cada vez mais presentes, muitas profissões que conhecemos hoje devem desaparecer ou se transformar. Então, não vai ter jeito, as pessoas deverão ter novas habilidades, e tudo isso passa pelo uso de tecnologia.
“Penso que em questão de anos, deveremos ter profissões como planejador de jornada de realidade aumentada, controlador de transportes, analista de cidades inteligentes ou mesmo técnico de inteligência artificial para saúde”, afirmou Anthony Salcito, vice-presidente mundial de educação da Microsoft.
Junto com o estudo, a Microsoft anunciou o início de um programa de educação online chamado AcademIA, que tem 12 módulos gratuitos de aulas sobre introdução à inteligência artificial e até ensino de linguagem de programação.
Curso de introdução à inteligência artificial tem legendas em português
A iniciativa é bacana, pois basta um cadastro simples e fácil para ter acesso ao material. O ruim é que, agora no início, parte dos conteúdos ainda está em inglês — então, por ora, deve atender quem conhece a língua estrangeira. No entanto, a empresa informa que até 2020 terá todos os conteúdos traduzidos para o português.