A impressão 3D está começando a se popularizar, e uma previsão comum é de que ela transformará a produção, estimulando uma revolução do consumo que irá colocar uma impressora em cada casa. Isso ainda não aconteceu, mas assim como tantas tecnologias emergentes, a impressão 3D encontrou seu lugar em um campo surpreendentemente diferente: a medicina.
Os estudos e projetos a seguir representam alguns dos exemplos mais fascinantes da “bioimpressão”, que usam uma máquina controlada por computador para montar matéria biológica utilizando tintas orgânicas e termoplásticos super-resistentes. Eles vão de reconstruir partes do crânio a imprimir estruturas nas quais células-tronco podem se transformar em ossos.
Crânios
O Osteofab é um produto feito pela empresa britânica Oxford Performance Materials. A OPM começou suas atividades vendendo um polímero de alta performance usado frequentemente em implantes médicos, a polietercetonacetona (ou PEKK). Mas ao longo dos últimos anos, a empresa também foi pioneira na aplicação do material, principalmente através da impressão 3D. Em fevereiro, um paciente americano foi operado para substituir 75% do seu crânio por um réplica feita em impressora 3D. [Osteofab]
Ossos
Implantes impressos em 3D, como maxilares, já existem há alguns anos. Mas certos pesquisadores estão criando ossos de verdade usando impressão 3D. Kevin Shakeshaff, cientista da Universidade de Nottingham (Reino Unido), desenvolveu uma bioimpressora que cria uma estrutura de termoplástico PLA com alginato gelatinoso que é, então, revestida com células-tronco adultas. Segundo a Forbes, a estrutura se dissolve, e é substituída por células ósseas em cerca de três meses. [Forbes]
Vasos sanguíneos e células
Nós até podemos imprimir órgãos, mas parte do problema com estes tecidos fabricados é criar nele um sistema circulatório funcional. Günter Tovar, cientista alemão que dirige o Instituto Fraunhofer para Engenharia Interfacial e Biotecnologia, está conduzindo um projeto chamado BioRap. Ele desenvolve vasos sanguíneos impressos em 3D usando uma mistura de polímeros sintéticos e biomoléculas. Estes sistemas impressos estão sendo testados em animais; ainda não estão prontos para seres humanos, mas poderiam, no futuro, permitir o transplante de órgãos impressos. [Instituto Fraunhofer]
Pele
“Imprimir” pele nova é algo difícil, especialmente na hora de recriar um tom específico de pele sob todo tipo de luz. Como a nossa pele é única, fina e mutável, é difícil chegar a uma réplica exata. Há muitos estudos interessantes nessa área, dos quais destacamos dois. O cientista James Yoo está trabalhando em uma máquina que pode imprimir pele diretamente em vítimas de queimaduras, num projeto financiado pelo Departamento de Defesa dos EUA.
Enquanto isso, cientistas da Universidade de Liverpool (Reino Unido) estão usando scanners 3D cuidadosamente calibrados para capturar amostras da pele existente de uma pessoa. Isso lhes permite imprimir um enxerto mais preciso. As pesquisas continuam, mas a equipe planeja criar um “banco de dados da pele” com as amostras capturadas, que poderia ser usado por hospitais. [Gizmodo; PhysOrg]
Narizes e orelhas
Criar próteses de ouvidos, narizes e queixos é muitas vezes uma experiência dolorosa, cara e trabalhosa tanto para o paciente, como para o médico. Um designer industrial do Reino Unido chamado Tom Fripp passou os últimos anos colaborando com cientistas da Universidade de Sheffield para imprimir em 3D uma prótese facial mais barata e mais fácil de fazer.
Seu processo envolve fazer um escaneamento 3D do rosto de um paciente (muito menos invasivo do que fazer um molde), modelar a peça que será inserida, e imprimi-la com pigmentos, amido e silicone para uso médico. Uma vantagem adicional: quando a prótese se desgasta (inevitavelmente, isso acontece) a peça pode ser impressa novamente gastando pouco. [The Guardian]
Olhos
Na semana passada, Tom Fripp e a equipe da Universidade de Sheffield revelaram os resultados de testar o mesmo processo em olhos. Próteses de olhos são caras de se fazer, já que eles são pintados à mão, e muitas vezes pode levar meses para ficarem prontos. A impressora de Fripp pode fazer 150 olhos em uma hora, e os detalhes – como a cor da íris, tamanho e vasos sanguíneos – podem ser facilmente personalizados com base nas necessidades de cada paciente. Mas, como são próteses, não é possível enxergar usando esses olhos – ainda não chegamos a esse nível. [PhysOrg]
Implantes médicos
À medida que os dispositivos eletrônicos – incluindo implantes médicos – ficam menores, cientistas têm se esforçado para fabricar baterias pequenas o suficiente para eles. Mas uma equipe de engenheiros de Harvard imprimiu em 3D baterias microscópicas que são tão pequenas quanto um grão de areia. A equipe explica:
[O]s pesquisadores criaram uma tinta para o ânodo com nanopartículas… e uma tinta para o cátodo… A impressora deposita as tintas nos dentes de dois pentes de ouro, criando uma pilha firmemente entrelaçada de ânodos e cátodos. Em seguida, os pesquisadores empacotaram os eletrodos em um pequeno recipiente, e o encheram com uma solução eletrolítica para completar a bateria.
Essas baterias podem, no futuro, fornecer eletricidade para implantes médicos que ainda não viraram realidade por questões de energia. [Harvard]