Índia testa “casa ovo” para astronautas irem à Lua e Marte
A primeira missão de simulação espacial da ISRO (Agência Espacial Iindiana), o Hab-1 — abreviação de Habitat-1 — entrou em teste com um astronauta por três semanas recentemente nas montanhas do Himalaia, em Ladakh. Construído com Teflon de nível espacial e isolado com espuma de uso industrial, a casa em formato de ovo tem uma cama, uma bandeja que serve como estação de trabalho, espaço de armazenamento para suprimentos e kits de emergência, uma cozinha para aquecer refeições, bem como um banheiro.
A arquiteta espacial Aastha Kacha-Jhala, da empresa Aaka, disse à BBC que o Hab-1 “foi projetado tendo em mente que o espaço será muito limitado na Lua ou em Marte”.
“O astronauta também terá água muito limitada, então projetamos um banheiro seco. Também colocamos em prática um sistema para descarte adequado de resíduos e garantimos que o habitat permanecesse livre de odores”, explicou.
Ela está em negociações com a ISRO para construir a primeira instalação espacial de simulação permanente da Índia em Ladakh. Enquanto isso, a agência se prepara para enviar primeiros astronautas da Índia ao espaço na missão Gaganyaan.
A intenção é colocar três astronautas em órbita baixa da Terra a uma altitude de 400 km por três dias, como teste. O país pretende lançar esta primeira missão em 2025.
Além disso, a Índia ainda quer montar sua primeira estação espacial até 2035 e enviar um homem à Lua até 2040. Atualmente, dois dos quatro astronautas indianos que irão para a missão Gaganyaan estão em treinamento na NASA.
Agências espaciais já planejam construir casas no espaço
As amostras de solo coletadas durante a missão estão em testes na universidade para determinar se os materiais de origem local servirão para construir casas no espaço. Diversas agências espaciais no mundo planejam enviar astronautas à Lua e estabelecer bases permanentes nos próximos anos. A NASA, por exemplo, espera imprimir uma base em 3D usando materiais da superfície da Lua.
De acordo com o professor Subrat Sharma, reitor de estudos de pesquisa da Universidade de Ladakh, à BBC, Ladakh foi escolhida para o experimento porque “de uma perspectiva geográfica, sua paisagem rochosa e árida e seu solo têm semelhanças com o material e as rochas encontrados em Marte e algumas partes do terreno lunar, o que o torna ideal para pesquisa espacial”. Lá, segundo ele, existe a “sensação de estar sozinho no planeta”.
A região do Himalaia na fronteira Índia-China tem altitude de 3.500 metros, ar rarefeito e condições climáticas extremas. A temperatura, por exemplo, vai do máximo de 20ºC para o mínimo de -18C em um dia. Já em Marte, elas podem ficar abaixo de -153ºC — ou na Lua até -250ºC.
“Já que você não pode ir ao espaço para testar todas as vezes, você precisa dessas instalações onde condições semelhantes às do espaço podem ser criadas”, diz Sharma.
De acordo com o astronauta que participou do teste, “os primeiros dias foram ótimos”. “Mas então começou a parecer repetitivo e começou a me afetar. Começou a impactar meu desempenho diário. Meu horário de sono foi afetado um pouco e minha concentração piorou.”
Para os cientistas, uma das tarefas mais importante é simular fatores psicológicos para ver como eles impactariam os humanos no espaço. “Precisamos saber como nossos corpos funcionarão na Lua, onde os dias e as noites são muito mais longos do que na Terra. Ou no espaço, onde não há oxigênio suficiente”, citou.