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Ministério da Saúde dificulta acesso a dados de coronavírus, e iniciativas tentam contornar

Ministério da Saúde quer mudar metodologia de dados do coronavírus; várias iniciativas independentes agora mostram dados consolidados da pandemia.

Estrutura do novo coronavírus COVID-19

Imagem: CDC

No último fim de semana, o governo brasileiro fez mudanças na divulgação de dados da pandemia de COVID-19 no Brasil. O site do Ministério da Saúde parou de exibir o número acumulado de óbitos e casos desde que a doença chegou ao País. A medida levou a várias iniciativas para contornar a restrição e reestabelecer a publicação da contagem.

Após uma série de declarações e medidas contra a divulgação dos números da COVID-19 no Brasil, o site do Ministério da Saúde parou de divulgar o total de infectados e mortos pela doença. A aba Situação, que também informava esses números, foi removida do aplicativo para Android oficial do Ministério da Saúde — no iOS, ela ainda aparece.

A medida levou a uma retirada temporária do Brasil do painel da COVID-19 da Universidade Johns Hopkins, uma das principais fontes de informação sobre a pandemia no mundo. O País voltou a aparecer no sistema, mas com dados defasados. O fato ganhou cobertura da imprensa internacional, inclusive.

Na noite de domingo (7), o Ministério da Saúde disse que voltaria a disponibilizar os dados acumulados. A pasta promete uma nova ferramenta interativa, “que trará a análise de casos e mortes por data de ocorrência, de forma regionalizada”, de acordo com a Agência Brasil.

Iniciativas para disponibilizar os dados

Para contornar o que parece ser uma tentativa de ocultação dos números, várias iniciativas independentes estão consolidando os dados das secretarias estaduais de saúde.

Atrasos, recontagem e dados contraditórios

A divulgação dos números diários de infectados e mortos pelo novo coronavírus já vinha sofrendo com atrasos, chegando a ser publicada somente às 22h. Durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta, esse boletim era divulgado às 17h, e o horário passou para 19h durante a gestão de Nelson Teich. Ambos já deixaram o comando da pasta, que está a cargo interinamente de Eduardo Pazuello, general do Exército.

A postura levantou suspeitas de que o novo horário seria para diminuir a repercussão na mídia. O próprio presidente Jair Bolsonaro confirmou: “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse ele à CNN Brasil. Em seu Twitter, porém, ele alegou que o horário era para evitar inconsistências e subnotificação.

No sábado (6), novos fatos e declarações vieram à tona. O empresário Carlos Wizard Martins, que colaborava com o Ministério da Saúde e era cotado para assumir um cargo de secretário na pasta, disse ao jornal O Globo, que pretendia fazer uma recontagem do número de mortos pela COVID-19 no Brasil.

Sem apresentar evidências, ele disse que os dados até agora eram “fantasiosos” e inflados pelas secretarias estaduais e municipais para conseguir mais recursos.

A declaração de Wizard gerou reações e repúdio. Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, disse que uma recontagem traria um número maior de mortos, não menor, como insinuou o empresário. Wizard, por fim, pediu desculpas e comunicou que não assumiria nenhum cargo no Ministério.

O Brasil é um dos países com menor número de testes de coronavírus realizados por número de habitantes: de acordo com o site Worldometers, o País realizou 4.706 testes por milhão de habitantes. É o segundo menor número entre os 10 países com maior número de casos da doença, atrás apenas da Índia.

Além disso, vários estudos apontam para uma grande subnotificação da doença no Brasil. Alguns dizem que o número real de casos podem ser até 15 vezes maior que os confirmados.

No fim da noite de domingo (7), o Ministério da Saúde disse que o número de óbitos por coronavírus confirmados nas últimas 24 horas era de 1.382. No painel, porém, a informação é de que são 525 mortes. A pasta ainda não esclareceu qual o dado correto.

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