Uma breve linha do tempo para entender o fracasso da Intel em smartphones

A Intel cancelou sua próxima geração de chips móveis, especialmente na área de smartphones. Ela chegou tarde, e sua divisão móvel vem sangrando dinheiro.

A Intel entrou tarde no mercado de smartphones e tablets, e sua divisão móvel vem sangrando dinheiro há tempos. Neste final de semana, a empresa confirmou ao Anandtech que cancelou sua próxima geração de chips móveis, especialmente na área de smartphones.

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Isso inclui o programa SoFIA, uma abordagem agressiva para o mercado low-end: ela fez parceria com as fornecedoras chinesas Rockchip e Spreadtrum, criou sistemas-em-um-chip usando núcleos Atom e modems da Intel, e produziu esses chips em fábricas de terceiros para reduzir custos.

Alguns smartphones chegaram ao mercado este ano com processadores Atom x3 dessa iniciativa, que foi cancelada “com efeito imediato”, segundo o Anandtech.

A Intel também cancelou a plataforma Broxton, que seria a próxima geração de processadores Atom para smartphones e tablets baratos. Os recursos dedicados a ela estão sendo movidos para outras áreas dentro da empresa.

O motivo do cancelamento é simples: a Intel torrou bilhões de dólares para se tornar relevante no mercado de dispositivos móveis, e fracassou. Em 2014, o prejuízo da divisão móvel foi de US$ 4,2 bilhões – valor que, segundo a Bloomberg, teria falido a maioria das rivais. Em 2015, a Intel parou de detalhar o desempenho da divisão móvel.

Por isso, e por causa do lento declínio dos PCs, a Intel está se reorganizando. Ela vai demitir até 12.000 funcionários, ou cerca de 11% de sua força de trabalho. Daqui para a frente, seu foco estará na nuvem – mais especificamente, em computadores para data centers e armazenamento XPoint – e também no 5G e na Internet das Coisas.

Como a Intel chegou até esta situação? Acompanhe na linha do tempo:

– 2007: Apple anuncia o iPhone, que usa processador com arquitetura da concorrente ARM.

– 2008: um executivo da Intel diz que as limitações do iPhone são culpa da ARM, e arremata: “o smartphone atual não é muito inteligente; o problema é que eles usam ARM”. (O executivo em questão hoje trabalha na Qualcomm.)

Dias depois, a Intel diz em comunicado que seus executivos não deveriam discutir produtos específicos da concorrência, e mais: “o processador Intel Atom de baixo consumo de energia ainda não chega à autonomia de bateria dos processadores ARM em um smartphone”.

Na mesma época, é lançado o primeiro smartphone Android, o T-Mobile G1 (também conhecido como HTC Dream); ele usa processador da Qualcomm com arquitetura ARM.

– 2010: Intel se junta com a Nokia para lançar o MeeGo, pensado para smartphones e reunindo a iniciativa Moblin (Mobile Linux) da Intel e o Maemo.

– setembro de 2011: Intel anuncia uma parceria com o Google para otimizar o Android para chips x86. Linux Foundation cancela o desenvolvimento do MeeGo.

– dezembro de 2011: rumores dizem que a LG vai lançar um Android com processador Intel, algo que nunca se concretiza.

– janeiro de 2012: Intel anuncia parceria estratégica com a Motorola durante a feira CES. Quatro meses depois, ela é adquirida pelo Google.

– abril de 2012: É lançado o primeiro smartphone com processador Intel, da indiana Lava. O Xolo X900 tem desempenho equivalente aos concorrentes, não consome mais bateria que eles, nem esquenta muito.

– setembro de 2012: Motorola anuncia o Razr i, primeiro – e único – smartphone da empresa com processador da Intel. Este também foi o primeiro Android com chip Intel que chegaria ao Brasil.

– fevereiro de 2013: Asus anuncia o Fonepad, tablet com processador Intel que faz ligações. Este é o último grande dispositivo com a plataforma Medfield.

No mesmo mês, a Intel anuncia a plataforma Clover Trail+, uma das mais bem-sucedidas. Ela está presente no Asus Zenfone 5, Zenfone 6 e Fonepad 7, e até mesmo em tablets da Samsung.

– fevereiro de 2014: Intel anuncia seus primeiros processadores de 64 bits para o Android, chamados Merrifield e Moorefield.

– janeiro de 2015: surgem os principais smartphones com a plataforma Moorefield – o Asus Zenfone 2 e o Zenfone Zoom. No entanto, outras variantes anunciadas depois (Zenfone 2 Laser, Zenfone Live, Zenfone Go) já usam processador da Qualcomm ou MediaTek.

– fevereiro de 2015: Intel anuncia plataforma Cherry Trail com processadores Atom x3, x5 e x7. A presença em smartphones é pífia, restrita a fabricantes como as brasileiras Positivo e Qbex.

– abril de 2016: Intel cancela o desenvolvimento de processadores Broxton, que seriam os sucessores do Cherry Trail. Os processadores Atom x5 e x7 – presentes em tablets com Windows, como o Surface 3 – continuarão a ser produzidos, mas a Intel não deixa claro se ainda vai desenvolver o sucessor Willow Trail.

A Intel seguiu uma trajetória semelhante à da Microsoft em dispositivos móveis: menosprezou a concorrência, viu que o mercado era importante, chegou tarde demais, suas iniciativas conquistaram pouco espaço, e o projeto custou bilhões em prejuízo. Assim como a Microsoft, a Intel decidiu concentrar seus esforços na nuvem e demitir milhares no processo. Agora resta ver se essa aposta dará certo.

[Anandtech via Android Police]

Foto por OnInnovation/Flickr

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