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A internet está ficando puritana por influência dos EUA?

Um artigo de opinião no The Register apresenta uma questão interessante e controversa: o conservadorismo moral dos Estados Unidos está arruinando a internet? Será que a hipócrita aversão dos americanos a nudez, linguagem explícita, liberdade sexual e drogas (ao menos em público) está sufocando o resto do mundo?

Um artigo de opinião no The Register apresenta uma questão interessante e controversa: o conservadorismo moral dos Estados Unidos está arruinando a internet? Será que a hipócrita aversão dos americanos a nudez, linguagem explícita, liberdade sexual e drogas (ao menos em público) está sufocando o resto do mundo?

Jane Fae Ozimek quer que nós consideremos se a internet está hipócrita e careta demais por conta da influência moral das corporações americanas que a dominam. E dominam mesmo. Como aponta Paul Carr, do TechCrunch, "a América é o lar da vasta maioria dos maiores sites do mundo ocidental". E é verdade: Facebook, Google, MySpace, AIM, todos sobrinhos do Tio Sam. Este é um outro ponto ocasionalmente controverso sobre os EUA, mas, por ser dono da ICANN, o país pode ser considerado de certa forma "dono" da internet. (Apesar da Suíça ser responsável pela criação da Web como conhecemos.)

A forte influência americana na internet é inegável. Então qual é o argumento de Ozimek? O Facebook, para começar, caça grupos sexualmente explícitos e proíbe as mulheres de postarem fotos suas de topless. Ozimek cita o fechamento do grupo de moda "Fetish Rocks", e também aponta para a decisão brevemente polêmica do Facebook de proibir uma propaganda pró-maconha no site. A propaganda em questão incomodou os censores da Facebook por conta da sua imagem da icônica folha e, apesar de grande apoio popular, acabou sendo considerada radical demais para os interesses publicitários do Facebook. 

E interesses publicitários são o cerne da questão aqui. Agora, é verdade que o Facebook não é os Estados Unidos. O Facebook é uma empresa. O Google é uma empresa. E empresas querem ganhar o máximo possível de dinheiro. Se uma empresa acredita que algo pode ser ofensivo para um grupo de pessoas das quais pode ganhar algum dinheiro, ela vai evitar aquilo. É bem simples. Isso não é um valor cultural particular dos americanos, é uma realidade econômica mundial. Mas as empresas americanas, em virtude do fato de estarem tão emaranhadas na vida global (por conta das centenas de milhares de usuários do mundo inteiro que fazem uso), podem estar transformando a neurose pelos dólares dos anunciantes em supressão estrangeira. Quando o Facebook bloqueia nudez porque acredita que isso pode ofender os puritanos americanos e seus dólares, ele toma uma decisão moral pelo resto do mundo (ao menos a parte que usa o site). 

É claro que o Facebook não é um regime fascista. Eles não entram no seu quarto e deletam as fotos que você tirou da sua namorada. Você escolhe fazer parte do Facebook. Mas, sendo a maior, melhor e mais integrada forma de interação social virtual no mundo inteiro, eles precisam enfrentar responsabilidades morais além das financeiras. Permitir anúncios pró-maconha pode ofender alguns nos EUA, mas também pode ajudar na visão do Facebook enquanto sociedade online interconectada. Um mundo aberto precisa ser tolerante, então deixe a discussão sobre o que é obsceno ou não nos Feeds de Notícias, não no escritório de vendas publicitárias. 

Foto: Michelle Hofstrand

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