A internet está reconfigurando nossos cérebros, e isso pode ser um problema

Quem usa bastante a internet visita diversos sites todo dia, cada um recheado de links que levam a mais outro site, mais outro assunto, e contêm tanta informação que você mal consegue processar tudo isso, quanto menos se lembrar onde você estava quando começou. O problema é que, segundo diversas pesquisas científicas, isto está nos tornando mais distraídos e menos dispostos a nos concentrar e aprender - mesmo longe da tela do computador. Que tipo de cérebro a internet está nos dando?

Quem usa bastante a internet visita diversos sites todo dia, cada um recheado de links que levam a mais outro site, mais outro assunto, e contêm tanta informação que você mal consegue processar tudo isso, quanto menos se lembrar onde você estava quando começou. O problema é que, segundo diversas pesquisas científicas, isto está nos tornando mais distraídos e menos dispostos a nos concentrar e aprender – mesmo longe da tela do computador. Que tipo de cérebro a internet está nos dando?

Esta é a pergunta que Nicholas Carr faz em seu novo livro, "The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains". A Wired publicou um excerto do livro que resume a ideia principal: a internet promove a leitura superficial, raciocínio raso e distração constante. Na prática, temos mais conteúdo disponível em alguns cliques, mas nossos cérebros não conseguem lidar com tudo adequadamente – mais informação não significa mais conhecimento.

O principal culpado disso são os links. Antes vistos com entusiasmo como forma de alavancar o aprendizado, os links começaram a ser visto cada vez mais com ceticismo. Uma pesquisa mostra que pular de um texto para outro via links prejudica a compreensão. Outra pesquisa mostra que as pessoas compreendem melhor textos sem links do que com eles – mesmo que você não clique neles.

 

Sobrecarga na memória

Por que o excesso de links seria um problema? Pela forma como nosso cérebro funciona. Nós gravamos informações de duas formas: com a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. É na memória de longo prazo que conseguimos relacionar conceitos e informações que vimos, lemos ou ouvimos, interligar tudo isso e transformar em conhecimento. Enquanto a memória de longo prazo pode armazenar uma quantidade enorme de informações, a memória de curto prazo tem capacidade limitada e volátil: logo você se esquece o que estava fazendo cinco minutos atrás.

O problema com os links é que, com a abundância de conteúdo que trazem, eles geram uma sobrecarga cognitiva: nossa memória de curto prazo fica tão agitada que não consegue transferir as informações para a memória de longo prazo – e então você esquece o que viu ou leu. Além disso, o link pede que você realize uma ação: clicar ou não. Isso tira a atenção do texto, o que causa mais um problema no cérebro: o custo de alternar tarefas. Cada vez que mudamos de tarefa, o cérebro precisa se reorientar, e estudos mostram que isso piora a sobrecarga cognitiva.

 

Cérebros reprogramados

E quando saímos do computador, o problema continua. O especialista em neuroplasticidade Michael Merzenich diz que, quando nos adaptamos ao uso de uma nova mídia, nosso cérebro se transforma. Ou seja, seus hábitos online são transferidos para os outros aspectos da sua vida, porque seu cérebro foi reprogramado. Isso pode ser visto em um estudo que comparou dois tipos de pessoas: as que costumam fazer várias tarefas ao mesmo tempo, e outras que são menos multitarefa. O resultado diz tudo: as pessoas-multitarefa se distraem fácil com tudo – e geralmente com as coisas mais irrelevantes -, lembram-se menos das coisas e têm dificuldade para se concentrar em uma tarefa.

Nem tudo são más notícias, no entanto: a internet melhora nossa inteligência visual-espacial e habilidades como coordenação dos olhos e resposta a reflexos, além de nos tornar mais capazes de resolver problemas mais rápido. Mas, como diz a psicóloga Patricia Greenfield, "cada nova mídia desenvolve certos tipos de habilidades cognitivas em detrimento de outras": estamos fazendo uma troca entre maior habilidade visual-espacial e menor compreensão profunda de textos e capacidade de atenção.

 

O que achamos

É difícil discordar que a internet nos faz ler de forma mais rasa. Eu geralmente hesito em ler um texto na internet se ele for muito extenso e o assunto não for terrivelmente interessante, e não estou sozinho nisto – não é à toa que o TL;DR (Too long, didn’t read, ou "muito grande, não li") virou expressão corrente na internet. A sobrecarga de conteúdo também é inegável: e-mail, notícias, Twitter, feeds RSS, vídeos – e ainda sentimos que falta tempo para ainda mais conteúdo. Os problemas que a multitarefa causam na gente também são conhecidos: nos concentramos menos, nos distraímos mais – e as consequências disso podem ser sérias (e em alguns casos, trágicas).

Mas sou um pouco cético em relação a esse alarmismo. Eu não acredito que sejamos tão passivos em relação a torrente de conteúdo que surge em nossa frente todo dia. Pelo contrário, a chave para lidar com tanta informação é ser seletivo e contar com a própria tecnologia para ajudar. Você recebe muitos e-mails? Experimente o Inbox Zero, um conjunto de ideias para manter sua caixa de entrada sempre zerada. Encontrou algum texto longo para ler depois? Use o Read It Later ou o Instapaper para guardar para depois. Quer ler um texto sem distrações? Use o Readability e/ou coloque seu navegador em tela cheia. Sempre tem alguma forma de domar o excesso de conteúdo e as distrações, mas ainda estamos aprendendo a fazer isto. Em vez de ler 30 mil sites sobre um mesmo assunto, escolha dois ou três que você aprecia mais a opinião e os textos. 

Os links são apontados como principais culpados disso tudo, e Nick Carr obviamente não propõe que acabemos com eles: em vez disso, os links devem ficar no fim do texto, como notas de rodapé. Dessa forma, você consegue ler sem distrações e, se quiser explorar mais, tem a opção de fazer isto. Eu não me sinto confortável com isso – as notas iriam me distrair tanto quanto os links – mas se você quiser, pode exeprimentar isso com qualquer texto na web usando o Readability.

E você? Qual a sua opinião? [Wired; imagem inicial via Wall Street Journal]

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