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Como itens conectados de uma casa têm se tornado instrumento para abusadores domésticos

O crescimento da popularidade de dispositivos de casa inteligente — como alto-falantes inteligentes, termostatos, câmeras e afins — tem criado uma nova categoria perigosa: abuso por meio de dispositivos conectados à internet. Uma reportagem do New York Times revela uma tendência perturbadora na qual dispositivos conectados estão sendo usados como ferramenta para abuso doméstico. Embora […]

O crescimento da popularidade de dispositivos de casa inteligente — como alto-falantes inteligentes, termostatos, câmeras e afins — tem criado uma nova categoria perigosa: abuso por meio de dispositivos conectados à internet.

Uma reportagem do New York Times revela uma tendência perturbadora na qual dispositivos conectados estão sendo usados como ferramenta para abuso doméstico. Embora não seja algo super novo que dispositivos conectados possam ser usados por pessoas mal-intencionadas, o uso dessa tecnologia como meio para promover guerra psicológica e vigilância em relacionamentos abusivos é desconcertante.

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De acordo com o jornal, termostatos, campainhas, alto-falantes e luzes controladas pela internet, entre outros dispositivos inteligentes para casa, estão sendo usados por agressores domésticos como forma de estabelecer poder ou assediar seus parceiros. Uma mulher disse que seu ar-condicionado foi desligado sem que ela quisesse; outra disse que o código para entrar em sua casa era modificado constantemente; uma terceira mulher informou que sua campainha frequentemente tocava quando não havia ninguém na porta. Uma delas resolveu desinstalar o termostato inteligente após uma série de acontecimentos esquisitos.

Pessoas que trabalham atendendo vítimas de agressores domésticos disseram ao NYT que eles detectaram um crescimento em chamadas no último ano de pessoas que não tinham controle de seus dispositivos inteligentes de casa. “Quem ligava dizia que os agressores estavam monitorando e controlando os itens remotamente por meio de eletrodomésticos inteligentes e sistemas de casa inteligentes”, disse Muneerah Budwani, da National Domestic Violence Hotline, ao jornal norte-americano.

“As pessoas começaram a se expressar sobre isso em treinamentos e a perguntarem sobre o que fazer nesses caos”, disse Erica Olsen, diretora da Safety Net Protect, da National Network to End Domestic Violence. Ela caracterizou o abuso do uso da tecnologia da casa inteligente como “frequente”.

Nos últimos anos, houve grande crescimento de dispositivos de casa conectados nos Estados Unidos, indo de 17 milhões em 2015 para 29 milhões em 2017, segundo a consultoria McKinsey. O mercado de casa inteligente deve alcançar a cifra de US$ 27 bilhões em 2021.

A tecnologia tem perpetuado a vigilância e casos de abuso por anos. Em 2014, a NPR (Rádio Pública Nacional dos EUA) fez uma pesquisa em 70 abrigos de violência doméstica nos EUA e descobriu que 85% deles tinham casos de vítimas que foram rastreadas por meio do GPS, e 75% das vítimas foram espionadas pelos agressores por meio de apps móveis. Um estudo de 2015 do Domestic Violence Resource Centre Victoria concluiu que 98% dos entrevistados “disseram que tinham clientes que tiveram abuso ou perseguição facilitada pela tecnologia”.

O que é problemático nesses relatos da reportagem do NYT é como a proliferação de tecnologias emergentes e de desenvolvimento de produto podem contribuir diretamente para a violência contra a mulher. Tornou-se muito fácil e barato permitir que uma casa seja controlada pelo smartphone em uma máquina de vigilância, e, para muitos desses dispositivos conectados, os agressores precisam apenas de um app para exercer controle sobre as vítimas.

Fica claro que uma indústria dominada por homens não previu como suas criações poderiam se tornar armas para agressores domésticos. É uma consequência comum e perigosa da ideia do Vale do Silício de “se movimente rápido e quebre coisas”, que muitas vezes negligencia grupos mais vulneráveis com suas criações.

[New York Times]

Imagem do topo: Getty Images

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