Qual nome os japoneses deveriam dar ao raro elemento químico 113?
Físicos de partículas japoneses receberam um ótimo presente de Ano Novo: eles ganharam o direito de nomear o elemento superpesado que eles passaram mais de uma década tentando criar em laboratório. É a primeira vez que uma equipe de físicos da Ásia terá a honra de nomear um novo elemento.
Eles venceram uma equipe rival de físicos do Instituto Conjunto de Pesquisa Nuclear em Dubna, Rússia, e do Laboratório Nacional Lawrence Livermore (LLNL), nos EUA.
O elemento 113, provisoriamente conhecido como unúntrio, fica bem entre o copernício e o fleróvio na tabela periódica – mas você não encontrará nenhum deles na natureza. Os físicos tiveram de criá-lo em um acelerador de alta energia, como Tony Stark fez em Homem de Ferro 2, usando seu próprio cíclotron para descobrir um novo elemento.
Para os físicos do mundo real, isso demorou muito mais tempo – sintetizar um novo elemento é mais complicado sem uma montagem cinematográfica para acelerar as coisas.
Caçando o elemento 113
Tudo começou em 2003, quando a equipe conjunta EUA/Rússia anunciou ter descoberto evidências de um novo elemento. O grupo japonês no instituto RIKEN relatou uma observação semelhante em 2004, seguida de mais um evento de assinatura em 2005. A União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) é quem toma a decisão final sobre tais descobertas, mas eles não se convenceram.
O problema é que elementos mais pesados não perduram muito tempo; isótopos do elemento 113 duravam menos de um milésimo de segundo. Isso faz com que seja muito difícil analisar as cadeias de desintegração nuclear, com indicadores que servem de assinatura para um novo elemento.
“Por mais de sete anos, continuamos a procurar por dados para identificar conclusivamente o elemento 113, mas nós nunca vimos outro evento”, disse o líder do grupo, Kosuke Morita, num comunicado à imprensa. “Eu não estava preparado para desistir, no entanto, porque acreditava que, um dia, se nós não desistíssemos, a sorte voltaria para nós de novo.”
Seu otimismo mostrou resultado em 12 de agosto de 2012, quando o grupo finalmente relatou o terceiro evento tão aguardado. Desta vez, a análise dos dados foi conclusiva o suficiente para convencer a IUPAC da descoberta, e com essa honra veio o direito de nomear o elemento 113.
A agência vai publicar seu relatório oficial na próxima edição da revista Pure and Applied Chemistry. Ao mesmo tempo, a IUPAC também confirmou a descoberta dos elementos 115, 117, 118 por cientistas do LLNL e Dubna.
Superpesados e estáveis
Se é tão difícil criar novos elementos pesados, por que os físicos continuam tentando fazer isso? Bem, a ciência, por sua natureza, nunca se cansa de descobrir coisas novas – trata-se de empurrar os limites do conhecimento humano. Esse tipo de pesquisa vai melhorar ainda mais a nossa compreensão dos núcleos atômicos.
E há uma perspectiva ainda mais emocionante para os físicos. De um modo geral, quanto mais pesado for o elemento, mais curto será seu tempo de vida. No entanto, a última observação de elementos superpesados sintéticos parecem mostrar vidas ligeiramente mais longas. Para os físicos, isso sugere uma “ilha de estabilidade” na tabela periódica: elementos ainda não descobertos que poderiam ser ao mesmo tempo superpesados e estáveis.
Esse será o foco do grupo RIKEN daqui para a frente. “Agora que demonstramos conclusivamente a existência de elemento 113”, disse Morita, “queremos olhar para o território inexplorado do elemento 119 e além, com o objetivo de examinar as propriedades químicas dos elementos nas sétima e oitava linhas da tabela periódica, e um dia descobrir a ilha de estabilidade”.
Foto por larrywfu/Flickr