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Jogos e sanduíches: as experiências de um desenvolvedor estrangeiro em visita ao Brasil

Vlad Micu veio direto da Holanda para mostrar o jogo de seu estúdio, conhecer a cena indie do Brasil e comer nossos deliciosos sanduíches.

por Bruno Izidro

Quem perguntar para Vlad Micu o que ele achou da visita ao Brasil, é provável que ele fale em como o mercado de games no país está crescendo ou como os jogadores daqui são bem apaixonados, mas talvez o que mais tenha marcado o desenvolvedor foi a culinária local. “Eu estou aqui há alguns dias e consegui conhecer São Paulo um pouco. Comi meu primeiro bauru e sanduíche de mortadela no Mercado Municipal”, fala em entrevista ao Gizmodo.

Vlad não saiu de Amsterdam, na Holanda, somente para aproveitar nossos deliciosos sanduíches. Como desenvolvedor de negócios do estúdio Data Realm, ele veio participar da Brasil Game Show desse ano. Aliás, ele era o único desenvolvedor estrangeiro na área indie da feira e mesmo estando, literalmente, no último espaço da área de exposição, algumas pessoas paravam para ver o jogo em desenvolvimento pelo estúdio: Planetoids Pioneers.

Mas por que o interesse pelo Brasil? A resposta está no jogo anterior deles, Cortex Command.“Descobrimos que o Brasil está entre os cinco maiores países que jogam Cortex Command”, fala Vlad. Por isso, quando eles souberam da BGS, viram a oportunidade perfeita de conhecer os jogadores, além de mostrar o novo trabalho do estúdio. “Há pelo menos 250 mil pessoas vindo pra cá, aqui tem uma área indie, então fez sentido vir e mostrar os nossos jogos”, argumenta.

A Data Realm é composta por 12 pessoas, cada um em um país diferente, mas somente Vlad veio para o Brasil. Afinal, viajar para eventos e “espalhar a palavra” dos jogos do estúdio é a principal função dele. Não significa que seja mais fácil, mesmo chamando a atenção na BGS por ser o único estrangeiro na área indie: não é uma tarefa simples mostrar um jogo se você não fala o idioma local, ainda mais sendo a primeira vez no país.

Felizmente Vlad já conhecia alguns desenvolvedores daqui que o ajudaram. Dois deles estavam no estande para explicar o jogo ao público em português. Outros que deram uma força para ele foram Amora Bettany e Pedro “Santo”, da MiniBoss, que emprestaram até a TV deles para que Vlad pudesse apresentar os jogos na BGS.

Os dias foram de bastante trabalho e mesmo ainda se mostrando prestativo enquanto nos dava entrevista, no terceiro dia da BGS, Vlad já demonstrava alguns sinais de cansaço. Para ele, porém, isso tudo logo se pagou pela boa recepção do público ao novo jogo Planetoid Pioneers (que falaremos daqui a pouco) assim como para conhecer os fãs e perceber o quanto o trabalho da Data Realms influenciou eles. “Um do indies que estão em outro estande veio até aqui, falou o quanto ele era um fã de Cortex Command e como isso, na verdade, o encorajou a se tornar um desenvolvedor de jogos. Isso é demais”.

Por falar em outros indies, a passagem de Vlad pela BGS também serviu para ele conhecer mais dos jogos desenvolvidos por aqui. O que ele viu só comprovou o que já tinha ouvido falar daqui, que a comunidade e a cena indie ainda estão se desenvolvendo, mas que ainda tem muito o que melhorar. Vlad fala bem honestamente das qualidades e defeitos dos games que viu pela área indie da BGS. “A maioria dos jogos aqui parece ser a primeira tentativa dos desenvolvedores em fazer algo legal, então você vê a paixão, mas também vê a inexperiência ao mesmo tempo”.

Vlad fala que, apesar de ter visto boas ideias de jogos, não consegue apontar nenhum que conseguiu chamar tanta sua atenção. Além disso, para muitos estúdios daqui ainda falta um olhar mais de negócios, em como tirar o maior proveito de estarem em uma feira como a BGS. “O que eu tento fazer quando conversei com alguns é encorajá-los, mas confrontá-los com a realidade. Em mostrar, por exemplo, lançar algo no Steam e esperar vender 10 mil cópias ou 30 mil cópias. Então não vejo ainda muito senso de negócios”, completou.

Planetoid Pioneers

Planetoid Pioneers é o atual jogo em desenvolvimento pela Data Realm. Um jogo 2D de exploração, o seu objetivo inicial é reconstruir sua nave após cair em um planeta. Para isso, é preciso explorar tanto a superfície quanto o interior do local para coletar os quatro tipos de recursos: carbono, água, metal e silício.

Vlad compara o jogo com as clássicas aventuras de Robinson Crusoé, mas com algumas facilidades para justificar a jogabilidade. “Você tem ferramentas para sobreviver e pode coletar recursos com elas e construir uma espaçonave para escapar, mas então descobre que há todos esses outros planetoides envolta, alguns feitos por nós, outros por jogadores e pode ter diferentes tipos de exploração e aventuras”, explica o desenvolvedor.

Assim como o primeiro jogo do estúdio, Planetoids Pioneers está sendo criado para possibilitar que modificações e adição de conteúdo para ele feito pelos usuários. Quando for lançado, o jogo terá um planetoide com conteúdo para 2 a 4 horas de gameplay, após isso, estará nas mãos dos próprios jogadores criarem mais itens, criaturas, planetoides para explorar e fazer o jogo continuar sempre atualizado. “Nós estamos admitindo desde o início que algumas das coisas mais criativas [para o jogo] virão dos jogadores, e não de nós”, diz Vlad.

Tudo isso será possível graças a ferramenta mais impressionante do jogo: a engine Crush 2D. Ela está sendo desenvolvida há seis longos anos pelo estúdio e possui um editor de fases quase que mágico.  Ao demonstrar como ele funciona, Vlad simplesmente abriu uma pasta no computador com diversos veículos, criaturas e planetas criados e salvos como arquivo de imagens, arrastou para dentro da tela do game e pronto, eles já faziam parte daquele mundo.

No vídeo abaixo (em inglês), Vlad me mostra como essa feitiçaria esse processo acontece. Já peço desculpas pela tremidas e enquadramento errados.

“Fantástico”. Essa era a única palavra que eu poderia dizer após o que foi mostrado de Planetoid Pioneers. O jogo deve sair no começo de 2016, em early access no Steam.

Vlad não chegou a ficar até o fim da BGS. Ele teve de partir para a Polônia, onde iria participar de outro evento de games. Mas mesmo com pouco tempo em terras brasileiras, ele foi marcado por três coisas: “Ótima cultura, boas pessoas e comidas fantásticas”. Ninguém discordaria dele.

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