Morre John Nash, matemático que inspirou o filme “Uma Mente Brilhante”

O matemático criador da Teoria dos Jogos morreu em um acidente de carro nesse último sábado, (23), em Nova Jersey, EUA.

John Forbes Nash Jr, 86, cuja vida inspirou o filme Uma Mente Brilhante, morreu em um acidente de carro nesse sábado (23) em Nova Jersey, nos EUA. A esposa, Alice Nash, 82, que o acompanhava, também faleceu.

Recém chegados de uma viagem à Noruega, onde Nash aceitou o Prêmio Abel de 2015 — compartilhado com Louis Nirenberg pelo trabalho em equações diferenciais parciais não-lineares e suas aplicações em análise geométrica — o casal viajava de táxi, do aeroporto para casa, em Princeton, quando o motorista do veículo perdeu o controle e se chocou contra a mureta central e um outro carro. Segundo a polícia de Nova Jersey, Nash e Alice foram arremessados do táxi e morreram no local.

Nascido em 1928, na cidade de Bluefield, em Virginia, EUA, John Nash estudou engenharia e química no Universidade Carnegie Mellon (antigo Carnegie Institute of Technology), mas transferiu os estudos para a Universidade de Princeton, onde se especializou em matemática depois de um professor convencê-lo a trocar de curso.

Em 1950, aos 21 anos, Nash obteve o doutorado com as descobertas da chamada Teoria dos Jogos, uma área que analisa a tomada de decisões. Ela avalia como as decisões tomadas entre competidores oponentes podem ser influenciadas por cooperação mútua.

O conceito hoje conhecido como Equilíbrio de Nash é aplicado nas mais diversas áreas, da economia à biologia evolutiva e inteligência artificial. O feito faz com que Nash seja considerado um dos grandes matemáticos do século XX.

John Forbes Nash Jr.No mesmo período em que obteve o doutorado, Nash conheceu Alice Larde, uma estudante de física no MIT, onde ele lecionava. Eles se casaram em 1957 e tiveram um filho em 1959, mesmo ano em que a esquizofrenia de Nash apresentava os primeiros sinais; a primeira internação do cientista ocorreu em abril daquele ano. Foi o primeiro passo da queda de um gênio e o início de uma série de tratamentos que incluíram até mesmo eletrochoques.

Em 1963, Alice decidiu se separar de Nash. Ela, no entanto, se manteve ao lado dele anos após a separação, o abrigando na própria casa em 1970. Ela trabalhava como programadora e recebia ajuda financeira de amigos, familiares e colegas para sustentar Nash e o filho.

A doença começou a cessar por conta própria entre a década de 1970 e 80: sem resultado após anos de internações e terapias, Nash interrompeu o tratamento e apresentou melhoras sozinho, em meados dos anos 80. Ele escreveu em 1996 que, sem medicamento, saiu do próprio pensamento irracional, apenas com auxílio das mudanças hormonais presentes no envelhecimento. Nash afirmou em entrevista, depois de recuperado, ter começado a ouvir vozes aos 30 anos de idade.

Em 1994, ele recebe, junto de Reinhard Selten e John Harsanyi, o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel — o que rendeu um artigo sobre a vida de Nash para o The New York Times, escrito pela professora de jornalismo da Universidade Columbia, Sylvia Nasar. No artigo, Nasar escreve como Nash não publicava um artigo cientifico desde 1958, devido à esquizofrenia.

Em 1998, a professora escreveu Uma Mente Brilhante, biografia não autorizada sobre a vida do cientista. O livro ganhou o prêmio do National Book Critics Circle e foi finalista ao Prêmio Pulitzer, ambos do mesmo ano da publicação.

O livro ganhou vida nas telas em 2001, sob o mesmo título e coestrelado por Russell Crowe e Jennifer Connelly, que protagonizaram John e Alice Nash, respectivamente. A película recebeu quatro estatuetas no Oscar de 2002 por melhor filme, diretor, melhor atriz coadjuvante e roteiro adaptado.

Russel Crowe se pronunciou no Twitter sobre a morte do matemático:

O livro e o filme tornaram Nash (e seu trabalho) uma celebridade científica. Em 2001, ele e Alice se casaram novamente.

Nos últimos anos, Nash continuava a trabalhar, participando de palestras e conferências, além de formular uma nova teoria sobre jogos cooperativos. [NYT, BBC, Quartz]

Fotos por Plinio Lepri/AP e Universidade de Princeton

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