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Pesquisadores criam joias anticoncepcionais em tentativa de encontrar método não-invasivo

Medicamento é transmitido por meio de um adesivo nas joias e funcionou em teste com ratos; ainda é preciso fazer testes em humanos

Mohammad Mofidfar, LauraO’Farrell, Mark R.Prausnitz

Atualmente, quando se trata de não engravidar, o fardo cai quase completamente sobre as mulheres. E a menos que você tenha feito uma extremamente dolorosa inserção de DIU, vários dos métodos comumente usados exigem uso constante para atingir seu máximo de eficácia. É por isso que pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, querem que as mulheres tenham a opção de vestir seu contraceptivo na forma de uma joia.

Os pesquisadores publicaram suas descobertas no Journal of Controlled Release neste mês. Seu trabalho ilustra como eles estão desenvolvendo o que descrevem como uma joia farmacêutica — um brinco, um anel, um colar e um relógio de pulso equipados com um adesivo transdérmico que entrega o hormônio contraceptivo levonorgestrel. Esse hormônio é geralmente usado prevenir a gravidez depois da relação sexual no caso de o anticoncepcional inicial ter falhado ou sido usado incorretamente. Ele é normalmente administrado em pílulas. Esse remédio é também encontrado em DIUs como Mirena, Kyleena e Skyla.

“Nós, portanto, esperamos que administrar o levonorgestrel através da pele a partir de um adesivo em um brinco deve ser tão eficaz quanto fazê-lo com um DIU ou um implante, contanto que mantenhamos a concentração correta de medicamento no sangue”, disse ao Gizmodo Mark Prausnitz, professor da Escola de Engenharia Química e Biomolecular do Instituto de Tecnologia da Geórgia e um dos três pesquisadores envolvidos no estudo.

Os pesquisadores ainda precisam testar as joias contraceptivas em humanos, mas eles já realizaram um teste com um brinco em ratos. Eles o aplicaram durante 16 horas e o retiraram por 8 horas a cada período de 24 horas, de forma a refletir a duração da utilização de alguém que vista a peça durante o dia.

“Nossos experimentos iniciais nesse estudo fornecem prova de princípio de que podemos fazer isso em ratos”, disse Prausnitz. O estudo apontou que as concentrações do hormônio abaixaram quando o adesivo foi retirado, mas permaneceram “bastante acima do limite contraceptivo humano”. Prausnitz afirmou que é necessário “mais desenvolvimento e estudos futuros em humanos” para confirmar se um brinco com o adesivo é tão eficaz quanto implantes anticoncepcionais, como o DIU.

Adesivos de controle de natalidade já existem — eles podem ser usados na barriga, no braço, nas nádegas ou nas costas, de acordo com a organização norte-americana Planned Parenthood, e precisam ser substituídos a cada semana durante três semanas, com uma semana de pausa entre os ciclos. Se usados perfeitamente, eles são 99% eficazes, mas a Planned Parenthood aponta que, “na realidade, o adesivo é cerca de 91% eficaz”, com espaço para erros.

Se — e isso é um grande “se” — sua eficácia for provada, as joias contraceptivas seriam únicas em sua forma. Minha primeira reação foi de que soa como um método de administração medicinal bastante inofensivo. Não acho que exista algo inerentemente errado em ter mais opções de anticoncepcional para escolher, especialmente novas alternativas indolores e não-invasivas. Minha segunda reação foi: eu adoraria ver mais pesquisas sobre contraceptivos masculinos, em vez de um jeito mais bonitinho de as mulheres prevenirem a gravidez. Perguntei a Prausitz se sua equipe estava explorando métodos anticoncepcionais masculinos, e ele disse que não estão criando nenhum novo tipo, apenas melhorando a maneira de tomá-los.

“Existem pesquisas ativas sobre contraceptivos masculinos, mas não estamos envolvidos atualmente”, afirmou. “Se e quando houver um bom anticoncepcional masculino, então ficaríamos animados em desenvolver um sistema de administração (do medicamento) que seja otimizado para ele.”

Minhas colegas que tomam ou já tomaram contraceptivos acharam que, na melhor das hipóteses, a joia anticoncepcional era bonitinha — e enervante na pior delas. Aquelas que ficaram entre em um meio-termo também se perguntaram por que não estão gastando mais energia em desenvolver novos mecanismos pelos quais os homens também possam considerar tomar o contraceptivo. Outras ficaram preocupadas se se lembrariam de colocar os brincos todos os dias pela quantidade necessária de tempo ou mesmo se iriam querer usá-los na maioria dos dias.

Uma colega que odiou o brinco anticoncepcional apontou que a presença da joia pode indicar a alguns que você está tentando evitar gravidez, o que, em círculos mais conservadores, cria conflito indesejado. E a ausência do brinco também pode sinalizar para alguns que você está tentando engravidar. Claro, muitas pessoas usam brincos. Seria necessária uma adoção bastante ampla para que esse tipo de método começasse a criar indícios visuais de se você está transando ou não. Mas, certamente, é algo a se pensar.

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