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Jovens que têm contato com a natureza têm menos chances de desenvolver problemas psicológicos

A pesquisa avaliou mais de 3.500 adolescentes entre 9 e 15 anos

Crianças chinesas usando máscara. Crédito: Getty Images

Um estudo publicado hoje na revista científica Nature, feito por pesquisadores da University College London e Imperial College London, sugere que crianças e adolescentes que têm contato com a natureza, seja em parques, lagos ou bosques dentro de uma área urbana, têm menor risco de desenvolver problemas emocionais e comportamentais, além de um melhor desenvolvimento cognitivo.

Em um mundo cada vez mais urbano, que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) verá 70% da população vivendo em cidades, conseguir identificar os benefícios que a natureza pode ter na saúde mental das futuras gerações é fundamental para a preservação – e criação – dessas áreas.

Para entender melhor como essa interação pode ser benéfica, os pesquisadores analisaram dados de 3.568 adolescentes londrinos entre 2014 e 2018, que tinham entre nove e 15 anos. Essa fase da vida é o momento em que esses jovens estão aprimorando habilidades de raciocínio, pensamento e compreensão do mundo. Por isso, os adolescentes foram submetidos a um questionário comportamental e emocional. Depois disso, os cientistas separaram áreas que eles nomearam de ‘área verde’, locais que tinham bosques, parques e, em segundo, o que chamaram de ‘área azul’, com lagos, mares e rios. A pesquisa também contou com ajuda de satélite para mapear a distância que os adolescentes estavam desses locais, de 50 a 500 metros, tanto de casa quanto da escola.

Como resultado, os especialistas descobriram que o contato diário com áreas de floresta aumentou o desenvolvimento cognitivo dos adolescentes e diminuiu em 16% o risco de problemas comportamentais e emocionais depois de anos após o estudo. Em contrapartida, a área azul apresentou uma pontuação menor, e os pesquisadores ligaram isso ao fato de que os jovens tiveram menor contato com o espaço.

Mikaël Maes, autor principal e estudante de doutorado da UCL disse ao EurekAlert! que o contato com a floresta, seja com som vindo das árvores ou rios, paisagens ou até mesmo o fato de simplesmente estar presente ao ambiente é como uma terapia que relaxa e traz benefícios fisiológicos e também psicológicos.

Kate Jones, professora da UCL e coautora do estudo, explicou à publicação que talvez, uma possível explicação para esse indicativo, seria a exposição audiovisual por meio da vegetação. Mas ainda assim, serão necessárias pesquisas para entender a ligação da natureza com a saúde da mente.

Ainda assim, o contato com a natureza está comumente associado à melhor qualidade de vida, principalmente no que diz respeito às doenças respiratórias. Além disso, áreas arborizadas em grandes centros são essenciais para a estabilização climática.

A descoberta do estudo dá margem para futuras pesquisas sobre como a arborização pode ser benéfica para os ambientes, e quem sabe, diminuir a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que cerca de 10-20% dos adolescentes em todo o mundo vivenciam problemas de saúde mental.

O estudo também levou em conta àqueles que moram longe das áreas verdes e azuis, e supõe que a maior proximidade da moradia ou da escola expõe eles mais à natureza e o benefício pode ser maior.

Mireille Toledano, coautora do estudo e Diretora do Mohn Centre for Children’s Health and Wellbeing esclareceu que os benefícios da natureza para a saúde mental leva em conta o histórico familiar, o grau de urbanização em torno do adolescente e o status socioeconômico dos pais.

Esse dado é importante, já que 52,21% dos adolescentes tinham pais que estavam empregados. E outros fatores como taxa de criminalidade não foram levados em conta. Já as variantes que foram levadas em conta incluem, idade do adolescente, origem étnica, sexo, tipo de escola, por exemplo, estadual ou particular. Os pesquisadores destacam que a taxa de poluição do ar pode ter influenciado o desenvolvimento cognitivo, mas preferiram não levar em conta, já que pesquisas adicionais serão necessárias.

Ainda assim, Toledano disse que é fundamental para os pesquisadores descobrir por que os ambientes naturais são tão importantes para nossa saúde mental ao longo da vida. Ela destaca algumas questões que ainda estão sem resposta: o benefício deriva do exercício físico que fazemos nesses ambientes, das interações sociais que muitas vezes temos neles, ou da fauna e flora que podemos desfrutar nesses ambientes ou uma combinação de todos eles?

[EurekAlert!]

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