Lady Gaga – cala boca galvão.mp3 e a obsessão dos brasileiros no Twitter

  Desde a abertura da Copa do Mundo, o Twitter tem prestado grandes homenagens ao narrador da Rede Globo, Galvão Bueno. Depois de cada comentário nas transmissões, centenas de tweets surgiam. Assim, o termo “Cala boca Galvão” chegou ao topo dos trending topics mundial. A partir daí, uma sequência de piadas com os curiosos estrangeiros começou. Mas por que diabos a brincadeira não terminou, cinco dias depois de seu início?

Desde a abertura da Copa do Mundo, o Twitter tem prestado grandes homenagens ao narrador da Rede Globo, Galvão Bueno. Depois de cada comentário nas transmissões, centenas de tweets surgiam. Assim, o termo “Cala boca Galvão” chegou ao topo dos trending topics mundial. A partir daí, uma sequência de piadas com os curiosos estrangeiros começou. Mas por que diabos a brincadeira não terminou, cinco dias depois de seu início?

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Como já somos o segundo país com mais usuários no Twitter, não foi assim tão difícil chegar ao topo. Galvão Bueno já é “homenageado” assim desde antes do surgimento das redes sociais, com gritos e faixas nos estádios. Assim que o termo “Cala Boca Galvão” chegou ao topo, muitos gringos, sem entender nada, começaram a perguntar o que a frase significava. E aí veio a ideia coletiva de brincar com a história. Primeiramente, Cala Boca Galvão seria o nome da nova música de Lady Gaga, a cantora que está sempre nos trending topics. Alguns pequenos blogs americanos replicaram a notícia, dizendo que a música seria uma homenagem a um tipo de pássaro latino. Daí pra frente, a bola de neve só aumentou.

A sacada seguinte foi inventar que Galvão era uma espécie rara de pássaro brasileiro, e que cada tweet com o termo Cala Boca Galvão doaria 10 centavos à Fundação Galvão Bueno. Vamos admitir, o pôster e a ideia foram engraçados. Colocar o logo do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama só tornou a piada mais real. Pouco tempo depois, um bem trabalhado vídeo, em inglês, espalhava a mensagem. Até o momento, ele já foi visto mais de 200 mil vezes em um dia. Bom número para ser considerado um viral.

O topo é meu

Mas o curioso é que não há estrangeiros acreditando nessa brincadeira, salve raríssimas exceções. A piada foi replicada em sites como o do jornal espanhol El País, que desmascarou a história com facilidade. Mas se você clicar no trending topic, verá muita gente rindo de uma suposta “enorme piada interna” criada, que só nós estaríamos rindo. Realmente, só nós estamos rindo, mas não é da cara de ninguém. Basta ver os trending topics de outros países ou cidades para ver que o movimento é nacional. Há, no fundo, um prazer visível nos tweets em estar supostamente enganando muita gente, e uma enorme alegria por estar no topo dos trending topics.

Conversei com Alexandre Inagaki, o @inagaki, um desses bons visionários da internet, e claro, do Twitter. A ideia era entender melhor por que nós, brasileiros, gostamos tanto de estar no topo das redes sociais. “Desde que o Brasil emplacou o primeiro trending topic, com aquela história do #Chupa que foi reverberada pelo Ashton Kutcher, há uma certa obsessão dos twitteiros brasileiros em conseguir chegar ao trending topic, esse Santo Graal dos ociosos no Twitter”, diz. Porém, dessa vez, não tivemos a influência de nenhum famoso americano, nenhuma Oprah da vida participou da piada – só o Paulo Coelho, mas ele não conta, né?

Então por que diabos a piada não teve fim? “Puro schadenfreude.” diz Inagaki. “Aquela história de rir em cima dos outros, saca? Creio que é por aí que o mote do CALA BOCA GALVÃO ganhou força. A partir da sacaneada no Galvão e na Rede Globo por tabela, tirar uma dos gringos.”

Para Inagaki, não há motivos para reclamar. Os movimentos online sempre criam boas piadas que tornam-se virais engraçados e estimulam ainda mais a participação dos usuários. E, claro, quem não gostar, não precisa em momento algum participar da piada. “Quanto mais gente estiver interagindo e produzindo conteúdo no Twitter, é melhor para a rede. O bom de Twitter é que cada usuário possui controle sobre o conteúdo que aparece em sua timeline. Questão de seguir as pessoas certas e de dar unfollows estratégicos”.

Porém, é bom frisar que estamos rindo sozinhos mesmo. Há dias ninguém mais cai na piada e mesmo assim a frase continua no topo. Além de quem acha que está fazendo uma grande pegadinha, entram em ação todos os retardatários do Twitter que estão comentado só agora a piada – convenhamos: no Twitter, cinco dias é uma eternidade de acontecimentos. E como nós brasileiros invadimos a rede do mesmo modo que invadimos o orkut em 2004, temos muita força. Enquanto conversava com Inagaki, o termo Immanuel Kant entrou nos trending topics brasileiros. Motivo? Centenas de retweets de uma só conta, a Cantodosaber, e mais uma centena de milhares perguntando o que ele fazia ali na lista. O tal Santo Graal do Twitter já não é assim mais tão brilhante e impossível. Aliás, nada que foi ocupado por Justin Bieber por tanto tempo pode ser algo fenomenal.

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