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Estudo mostra que mesmo lesões cerebrais traumáticas leves podem aumentar risco de demência

Um dos enredos mais comumente usados na ficção, uma pancada na cabeça para deixar alguém momentaneamente inconsciente, é muito mais perigoso na vida real. Um novo estudo publicado nesta semana na The Lancet Psychiatry reafirma que lesões cerebrais traumáticas (LCTs), mesmo aquelas relativamente moderadas, estão ligadas a um maior risco de demência no final da vida. […]

Um dos enredos mais comumente usados na ficção, uma pancada na cabeça para deixar alguém momentaneamente inconsciente, é muito mais perigoso na vida real. Um novo estudo publicado nesta semana na The Lancet Psychiatry reafirma que lesões cerebrais traumáticas (LCTs), mesmo aquelas relativamente moderadas, estão ligadas a um maior risco de demência no final da vida.

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Os pesquisadores obtiveram e estudaram registros médicos de 2,5 milhões de moradores dinamarqueses vivendo no país em 1995 (diferentemente de muitos países, incluindo os Estados Unidos e o Brasil, os históricos médicos dos moradores de países escandinavos como a Dinamarca são facilmente rastreados por meio de vários registros nacionais). Eles então olharam mais adiante para ver quantos dos dinamarqueses com mais de 50 anos de idade seriam diagnosticados com demência em algum momento entre 1999 e 2013.

Ao todo, apenas 4,5% das pessoas com mais de 50 anos haviam desenvolvido demência até 2013. Mas aqueles que visitaram um hospital entre 1977 e 2013 devido a lesões cerebrais traumáticas eram notavelmente mais propensos a receberem o diagnóstico de deficiência cognitiva.

Pessoas que sofreram LCTs eram, coletivamente, 24% mais propensas a desenvolver demência, depois de se levar em conta outros fatores de risco, como idade e 16% mais propensas a desenvolver mal de Alzheimer em particular. Aqueles que tiveram uma LCT avaliada como severa eram 35% mais propensos a ter demência, enquanto aqueles com LCT moderada, o que normalmente chamamos de concussão (trauma sofrido na cabeça e que leva à desorientação e à perda momentânea de consciência), eram 17% mais propensos.

Quanto mais LCTs alguém teve, maior era o risco de desenvolver demência. Pessoas com dois e três LCTs tinham um risco 33 maior; aqueles com quatro LCTs tinham um risco 61% maior; e os que tiveram cinco ou mais LCTs eram cerca de três vezes mais propensos a desenvolver demência do que aqueles sem histórico de lesões cerebrais traumáticas.

“O que nos surpreendeu foi que mesmo uma só LCT moderada esteve associada com um risco significativamente maior de demência”, disse o autor principal do estudo Jesse Fann, professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em um comunicado. “E a relação entre o número de lesões traumáticas cerebrais e o risco de demência foi muito claro… De modo parecido, uma só lesão cerebral traumática severa parece ter o dobro do risco associado com a demência do que uma lesão cerebral traumática moderada.”

O estudo está longe de ser o primeiro a sugerir que concussões (particularmente aquelas sofridas durante a disputa de esportes profissionais) podem aumentar o risco de demência, embora outros estudos recentes tenham surgido com resultados contraditórios. Mas os autores dizem que seu estudo é um dos primeiros a observar um grupo grande de pessoas ao longo de décadas. Um estudo com 3,3 milhões de pessoas na Suécia publicado em janeiro deste ano descobriu um padrão parecido.

As descobertas são preocupantes tanto para os mais jovens quanto para os mais velhos. Eles descobriram que o risco de demência em uma pessoa atingia seu pico seis meses depois de uma LCT — uma descoberta que reflete outra pesquisa mostrando que LCTs entre pessoas mais velhas aumentava especialmente seu risco de demência. Mas também descobriram que pessoas na casa dos 20 anos, ao sofrer uma LCT, eram 60% mais propensas a ter demência por volta dos 50 anos do que aqueles de mesma idade sem histórico de LCTs.

Embora os autores advirtam que o risco geral de demência segue baixo para maioria das pessoas, mesmo com um histórico de LCTs, eles dizem que suas descobertas, assim como outras, exigem que as pessoas levem lesões na cabeça mais a sério.

“Se alguém tem uma lesão cerebral traumática ou uma concussão, precisa seguir rigorosamente os protocolos para deixar o jogo e receber avaliação apropriada e o tratamento necessário”, disse Fann. “Se tiver um histórico de lesão cerebral traumática, a pessoa precisa fazer o seu melhor para evitar futuras lesões cerebrais traumáticas.”

Estima-se que 2,3 milhões de pessoas nos Estados Unidos estiveram em salas de emergência em 2013 por causa de LCTs, enquanto mais de 300 mil crianças relataram lesões na cabeça relacionadas a esportes em 2012.

[The Lancet Psychiatry]

Imagem do topo: Pixabay

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