A limpeza de Fukushima desperdiçou meio bilhão de dólares em tecnologia ruim

Mais de um terço do orçamento para a limpeza do vazamento na usina nuclear de Fukushima foi desperdiçado, totalizando centenas de milhões de dólares.

A limpeza do vazamento na usina nuclear de Fukushima, no Japão, tem sido longa, cara e cheia de problemas. Agora, a Associated Press menciona uma auditoria do governo que descobriu: mais de um terço do orçamento para a limpeza foi desperdiçado, totalizando centenas de milhões de dólares.

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As alegações de incompetência e até as mentiras que cercam a Tepco (Tokyo Electric Power Co), empresa responsável pela limpeza do local, talvez façam você se perguntar se algum desses milhões foram perdidos devido à corrupção.

Mas a AP diz que a maior parte disso foi desperdiçado porque ninguém realmente sabia como limpar o local. A empresa gastou milhões em equipamentos e máquinas que, teoricamente, poderiam ter funcionado – mas não funcionaram.

A parede de gelo que não congela

Vamos começar com o que AP chama de “a trincheira descongelada”, vazamentos contaminados de água em um dos túneis que atravessam as laterais da usina, criando um grande risco. A Tepco começou a injetar líquido de arrefecimento nessa água, em uma tentativa de congelá-la, criando uma espécie de parede de gelo. Isso não funcionou.

A Tepco diz que “revelou-se extremamente difícil” congelar completamente as trincheiras: “a subsidiária Tokyo Power Technology até mesmo lançou pedaços de gelo, mas teve de derramar cimento para selar a trincheira”, diz a AP. O projeto custou US$ 840.000, que é fichinha se comparado aos outros itens da lista.

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Funcionários da Tepco instalam uma parede congelada no subsolo durante um teste de viabilidade. AP Photo/Koji Sasahara.

Máquinas controversas

Então temos a Areva SA, uma empresa francesa que prometeu que seu sistema ajudaria na limpeza de Fukushima. O problema é que o seu processo foi duramente criticado na França pela Comissão Reguladora Nuclear, por ativistas ambientais e até por médicos.

Na água radioativa usada para resfriar reatores, a Areva acrescenta metais e produtos químicos que se “ligam” aos isótopos e os puxam para baixo. Este lodo é removido e enterrado como lixo nuclear, enquanto a água é recirculada.

Em 2011, a Forbes informou que pessoas próximas à usina de La Hague, na França – que usou a técnica da Areva – sofriam com níveis mais elevados de leucemia, e a água contaminada foi despejada no Canal da Mancha e chegou ao Ártico.

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Contêineres de resíduos nucleares tratados pela Areva na França, em 2011. AP Photo/David Vincent.

Mesmo com esse histórico, a Areva foi contratada para cuidar de Fukushima. O que aconteceu: a máquina de US$ 270 milhões comprada para tratar a água do local foi abandonada dentro de apenas alguns meses.

Ainda mais dinheiro foi desperdiçado nas máquinas que a Tepco comprou para remover o sal da água contaminada – foi usada água do mar para resfriar os reatores logo após o acidente. Nenhuma das máquinas durou mais do que algumas semanas, de acordo com a AP.

Rápido e malfeito

Dois dos outros grandes desperdícios na lista mostram como o ritmo rápido e apressado contribuiu para os deslizes orçamentários. A AP cita tanques de armazenamento para água no valor de US$ 134 milhões que foram “instalados por funcionários não-qualificados” e que “começaram a vazar – a água se infiltrou no solo e, em seguida, foi para o oceano”.

Da mesma forma, uma série de piscinas subterrâneas para armazenamento de água “vazou dentro de semanas”.

A auditoria pinta um retrato de uma limpeza atolada em problemas, que resultou de tecnologia não-testada para limpeza. Isso é agravado porque estão sendo descobertos novos vazamentos em Fukushima sem que a Tepco os comunique às autoridades.

Em fevereiro, revelou-se que havia água vazando da usina para o oceano, e estava 70 vezes acima dos níveis normais de radiação. Só que a Tepco sabia desse vazamento há quase um ano. A empresa pediu desculpas, mas os efeitos disso no meio ambiente – água, solo e alimentos – não será totalmente compreendido por décadas. [Associated Press]

Imagem inicial: sala de controle central dos reatores 1 e 2. AP Photo/Koji Sasahara.

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