Pesquisadores descobriram livros venenosos na biblioteca de uma universidade na Dinamarca

Analisar livros antigos não parece algo particularmente perigoso, a menos que esses livros estejam cobertos de um arsênio fatal, como os pesquisadores Jakob Povl Holck e Kaare Lund Rasmussen, da Universidade do Sul da Dinamarca, recentemente descobriram. Escrevendo para o The Conversation, a dupla contou como acidentalmente descobriu três livros venenosos na biblioteca de sua universidade, […]

Analisar livros antigos não parece algo particularmente perigoso, a menos que esses livros estejam cobertos de um arsênio fatal, como os pesquisadores Jakob Povl Holck e Kaare Lund Rasmussen, da Universidade do Sul da Dinamarca, recentemente descobriram. Escrevendo para o The Conversation, a dupla contou como acidentalmente descobriu três livros venenosos na biblioteca de sua universidade, todos datados dos séculos XVI e XVII.

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Holck e Rasmussen encontraram os perigosos livros enquanto tentavam ler textos antigos escondidos dentro de suas capas. Anteriormente, arquivistas de biblioteca já haviam descoberto que as capas dos três livros haviam sido fabricadas a partir de materiais reciclados, mais especificamente, fragmentos de manuscritos medievais, como cópias do direito romano e do direito canônico. Nesse processo de reciclagem bem documentado, encadernadores europeus colocaram esses fragmentos dentro das encadernações para fortalecer a base dos livros. Porém, para arquivistas, esses fragmentos de manuscritos são tesouros escondidos esperando para serem desvendados.

Holck e Rasmussen estavam tentando identificar os textos em latim embutidos dentro das encadernações, porém, uma grossa camada de tinta verde tornou o conteúdo impossível de ser lido. Para perfurar a tinta, os pesquisadores usaram uma técnica de escaneamento conhecida como análise de fluorescência de raio-X, ou micro-XRF. Esse método é usado para investigar os elementos químicos de cerâmicas e pinturas antigas, funcionando ao usar raios-X para revelar o espectro químico de um material. Nesse caso, os pesquisadores esperavam usar a análise de micro-XRF para diferenciar os elementos químicos da tinta sob a tinta, vendo, então, se poderiam discernir letras individuais. Para sua surpresa, no entanto, eles descobriram que a camada verdade era composta por arsênio.

Lesões de pele causadas pela exposição ao arsênio, como mostradas nesse livro médico de 1859. Imagem: Wellcome Collection

O arsênio é uma substância natural altamente tóxica capaz de levar a envenenamento, câncer e, às vezes, até a morte. Os sintomas depois da exposição ao material podem incluir dor no estômago, intestinos e pulmões irritados, náusea, diarreia e lesões na pele. As capas desses três livros foram pintadas com verde-Paris, o triarsenito de acetato de cobre (II). Holck e Rasmussen explicaram mais detalhadamente sobre a prática de usar arsênio na tinta em seu artigo no Conversation:

O pigmento de arsênio — um pó cristalino — é fácil de fabricar e já foi comumente usado para várias finalidades, especialmente no século XIX. O tamanho dos grãos de pó influencia na tonalidade da cor, como visto nas tintas a óleo e em vernizes. Os grãos maiores produzem um verde mais escuro distinto — grãos menores, um verde mais claro. O pigmento é especialmente conhecido por sua intensidade de cor e resistência ao desbotamento.

A produção industrial de verde-Paris foi iniciada na Europa, no início do século XIX. Pintores impressionistas e pós-impressionistas usaram diferentes versões do pigmento para criar suas obras-primas vívidas. Isso significa que muitas peças de museu hoje em dia contêm o veneno. Em seu auge, todos os tipos de materiais, até mesmo capas de livros e roupas, podiam ser revestidos de verde-Paris por razões estéticas. O contato contínuo da pele com a substância, é claro, levaria a sintomas de exposição.

Porém, na segunda metade do século XIX, os efeitos tóxicos da substância eram mais comumente conhecidos, e a variante com arsênio deixou de ser usada como pigmento e era usada com mais frequência como pesticida em fazendas. Descobriu-se que outros pigmentos substituem o verde-Paris nas pinturas e na indústria têxtil etc. Em meados do século XX, o uso em terras agrícolas também foi eliminado.

Curiosamente, os autores dizem que o pigmento não foi usado para fins estéticos, já que a tinta só foi usada para cobrir partes dos livros. Uma possível explicação é que a tinta verde tenha sido usada para proteger os livros de insetos e vermes.

Tinta verde-Paris. Imagem: Chris Goulet/Wikimedia Commons

Em relação ao risco enfrentado pelos pesquisadores da Universidade do Sul da Dinamarca, Holck disse ao Gizmodo que “não houve perigo real” e que os livros foram armazenados em uma unidade de self-storage e que não estão facilmente acessíveis.

“Eles foram manejados cuidadosamente, mesmo antes da descoberto”, Holck disse ao Gizmodo, alertando que “arquivistas e pesquisadores devem reagir quando estiverem em dúvida razoável sobre um item ser venenoso ou não”.

Por segurança, os livros foram colocados em caixas de papelão individuais (com etiquetas de aviso) e agora estão armazenados em um armário bem ventilado. O próximo passo será digitalizar os livros para minimizar a necessidade de manuseio.

Apesar do veneno, Holck disse que foi capaz de identificar pelo menos quatro textos em latim escondidos nas encadernações.

“Isso também se deveu a olhos afiados, e não apenas aos raios-X”, disse.

[The Conversation]

Imagem do topo: Jakob Povl Holck e Kaare Lund Rasmussen

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