Com tantos processos judiciais, como o app Lulu conseguiu voltar ao Brasil?

O polêmico aplicativo Lulu voltou e agora permite a entrada de homens na rede.

Depois de alguns processos judiciais, muitas reclamações e sumiço das app stores brasileiras em 2014, o aplicativo Lulu retorna ao Brasil e aos holofotes, graças a uma remodelação, que incluem novas funções e trazem de volta o programa às lojas de aplicativos brasileiras.

Lançado no Brasil no final de 2013 e retirado das app stores em janeiro de 2014, o Lulu voltou oficialmente ao Brasil no dia 20 de julho, alcançando a quarta posição dos aplicativos mais baixados da App Store. A empresa afirma que ele não foi retirado do ar pela Justiça, e sim por uma sobrecarga no sistema, que não pôde atender a demanda da época. “Decidimos remover o aplicativo do Brasil e reconstruí-lo para ser mais estável, e estamos muito empolgados em levar Lulu de volta ao Brasil”, explica uma representante do aplicativo.

Na época, cada usuária brasileira acessava o app, em média, nove vezes por dia. Porém, processos e até mesmo um inquérito do Ministério Público contra o aplicativo, colocam essa afirmação da empresa em cheque.

Para quem não se lembra, conforme explicamos, o Lulu é um aplicativo de funcionamento simples: moças avaliam rapazes respondendo questões e escolhendo hashtags, positivas e negativas, que classifiquem o desempenho (durante o encontro, no dia a dia e até mesmo o sexual) dos perfis masculinos. Só mulher entrava na brincadeira — ou tivesse um perfil feminino no Facebook, já que para se cadastrar era necessário ter uma conta na rede e foi este o principal problema que o Lulu trazia.

Processos

No final de 2013, o Ministério Público do Distrito Federal abriu um inquérito contra a empresa responsável pelo app, a Luluvise Incorporation, e o Facebook — como o aplicativo fazia uso de informações fornecidas (de maneira muito fácil, diga-se de passagem) da rede social, a culpa caia até mais em cima dela do que do Lulu.

Na época, o grande problema era a criação de perfis masculinos sem autorização. Como o cadastro era feito com informações do Facebook, quando uma mulher se registrava, todos os amigos dela já estariam no app para que ela pudesse distribuir notas. Aos homens, restava apenas deletar o perfil depois que ele já estivesse feito e, talvez, até mesmo avaliado. Isso resultou em inúmeras reclamações e processos. À Folha, o promotor de Justiça Leonardo Bessa explicou a situação:

“Que haja uma autorização genética nos termos de uso do Facebook não é o suficiente para que as informações dos usuários sejam utilizadas em outros aplicativos quando se trata do direito à privacidade e dignidade. Nesses casos é necessário um consentimento específico”, diz. Ele avaliou também a gravidade das avaliações anônimas, que ele considerou gravíssimas. “A própria constituição garante liberdade de expressão, mas veda o anonimato”.

O advogado de uma das “vítimas” das avaliações no Lulu produziu um dossiê com diversas informações sobre o aplicativo e o entregou ao Ministério Público para colaborar com o inquérito.

O Lulu saiu do ar logo depois da entrega do dossiê, após uma determinação na Justiça para que Facebook e Lulu excluíssem todas as informações postadas sem autorização. De acordo com informações do Extra, a relatora Ana Cantarino determinou:

“A exclusão imediata dos dados e imagens de toda e qualquer pessoa que não tenha manifestado consentimento prévio, específico e informado para figurar no aplicativo Lulu como pessoa a ser avaliada, vedação à possibilidade de se avaliar pessoas sem identificação posterior e conservação dos dados dos usuários do aplicativo Lulu que apõe informações os usuários e somente disponibilizá-los a eventual interessado legítimo”.

E o que mudou?

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Primeiro, o Lulu não faz mais cadastros com informações do Facebook. Para fazer parte do aplicativo é necessário ter um número de celular. O cadastro valida este número por meio de um código enviado por SMS.

A decisão de não usar mais informações da rede social, segundo a empresa, permite a ela controlar o “próprio destino e não depender de nenhum outro parceiro”. Uma vez encerrado este passo, é possível criar um perfil masculino ou feminino.

Sim, com a remodelação, homens podem fazer parte do aplicativo. Não da mesma forma que as mulheres, já que eles não as avaliam ou sequer tem acesso as notas de outros usuários. É possível a eles ver a própria avaliação, além também de entrar contato com outras usuárias.

Outro ponto: perfis não são mais criados automaticamente e sem autorização. Apenas homens que fizeram o cadastro estarão disponíveis para receber avaliações. Nenhum perfil será criado automaticamente, como a versão anterior — o que pode ser alívio para muitos e dificilmente gerará processos, já que, agora, só participa quem quer.

Uma outra novidade é a função que lembra uma mistura de Secret com salas de bate-papo. Um usuário ou usuária pode deixar uma mensagem que é exposta em quadros e outros podem responder e iniciar conversas — conversas que podem, inclusive, ser levados para o privado, exatamente como as clássicas salas de bate papo dos anos 1990.

Ah, e tudo isso é feito em segredo. As mulheres sempre aparecem anônimas e durante as conversas dos blocos de mensagens os homens também são mostrados com pseudônimos. Nenhum nome é revelado em momento algum e caso os usuários queiram se conhecer é preciso trocar o número de celular ou alguma rede social por mensagens.

Agora o Lulu, assim como o Tinder, também oferece assinaturas, mas apenas para os homens. Em meu próprio perfil, recebi apenas a avaliação do perfil feminino falso que criamos no Gizmodo Brasil.

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Na versão para mulheres do Lulu, consigo ver qual é a minha nota (acima); na masculina, posso vê-la apenas depois de receber um total de quatro avaliações ou pagando US$ 2,99 ao mês (abaixo).

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E funciona?

Testamos o aplicativo em suas duas versões: para homens e para mulheres. Na primeira, é feito um perfil, nos mesmos parâmetros que outros aplicativos do gênero, como o Tinder. Depois disso, é preciso aguardar avaliações.

Com a versão feminina, não é solicitada foto ou nome, como na masculina. Depois de feita a confirmação do número de celular, é mostrado um mar de homens prontos para serem avaliados. E a avaliação funciona da mesma forma que o Lulu de 2013: com questionários e hashtags um tanto cafonas.

Funcionar, ele funciona. Agora, se você vai gostar dele é outra história: a redatora Beatriz Bonduki usou o Lulu remodelado, mas por apenas alguns instantes. “Logo de cara vi um amigo meu, me pus no lugar dele e me bateu uma crise de consciência”. Constrangida com a ideia por trás do aplicativo, ela o deletou em seguida.

Resumindo, o Lulu ganhou funções, se esquiva de possíveis processos fazendo perfis apenas de quem quer ser avaliado e se torna um tanto mais social ao permitir a conversa entre homens e mulheres, com aspectos bem parecidos de salas de bate-papo de sexo.

Mesmo com a entrada de homens e todos os aspectos sociais inseridos nele, a ideia por trás do Lulu continua a mesma: mulheres avaliando a performance dos homens. Ou, como Alexandra Chong, CEO da Luluvise, disse, o aplicativo não é sobre vingança, mas sobre dividir informações.

De resto, ele continua bem parecido com a versão anterior, ainda sendo bem fácil fazer uma conta do sexo feminino para checar o que é falado dos homens. Então, ainda é um tanto ingênuo acreditar nos resultados, já que qualquer um com um número de telefone pode criar uma conta e falar o que bem entender de quem estiver ali.

O Lulu conta hoje com 5 milhões de usuários no mundo e a média de acesso caiu de 9 para 6 vezes ao dia para as mulheres. Os homens, entretanto, o acessam, em média, 11 vezes ao dia, segundo informações da empresa. O Lulu está disponível na App Store e na Google Play.

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