Ao avistarem drones, macacos emitem mesmo alerta de quando avistam águias

Ao avistarem drones, macacos verdes emitem som de alerta similar ao emitido por macacos vervet ao serem ameaçados por águias, indicando herança genética.
Macaco verde no Senegal. Crédito: Julia Fischer

Pesquisadores no Senegal recentemente lançaram drones nas proximidades de macacos verdes para ver como os primatas reagiriam. Incrivelmente, eles produziram um alarme instintivo que corresponde à forma como reagem ao avistarem uma águia. Isso até que faz sentido – exceto pelo fato de que macacos verdes não são ameaçados por águias.

Uma nova pesquisa publicada na Nature Ecology and Evolution apresentou uma perspectiva sobre como os macacos são capazes de adaptar respostas instintivas a ameaças oferecidas por novos, mas aparentemente familiares, perigos. Neste caso, os macacos verdes da África Ocidental foram observados produzindo um alarme de quando avistam águias ao serem confrontados com “novos objetos voadores”, também conhecidos como drones aéreos. O novo artigo, liderado por Julia Fischer, do German Primate Center, em Göttingen, também fala sobre a possível origem precoce da linguagem entre os primatas.

Várias espécies de macacos produzem alertas para sinalizar a presença de uma ameaça a seu grupo. Esses alarmes são comportamentos inatos, o que significa que eles são geneticamente programados, ao contrário de respostas culturalmente aprendidas. Um ponto relevante para o estudo é o fato de que macacos vervet da África Oriental têm alertas específicos e distintos em resposta a cobras, leopardos e águias. Os macacos verdes da África Ocidental, uma espécie intimamente relacionada aos macacos vervet, só têm avisos de alerta para leopardos e cobras; esses macacos nunca foram observados produzindo alertas em resposta a aves de rapina.

Com isso em mente, Fischer e seus colegas queriam descobrir como os macacos verdes reagiriam a uma ameaça aérea desconhecida: um drone. O objetivo não era aterrorizar os macacos, mas analisar o alcance e a flexibilidade dos ruídos vocais produzidos pelos macacos e avaliar sua capacidade de dar sentido e reagir ao alerta.

Os pesquisadores, que estavam trabalhando no Parque Nacional Niokolo-Koba, no Senegal, expuseram 80 indivíduos de três diferentes grupos a drones aéreos de fevereiro a julho de 2016 e depois novamente de junho a julho de 2017. A exposição aos drones variou de uma a três ocorrências. Dispositivos de gravação foram usados ​​para capturar os sons produzidos pelos macacos verdes quando um drone se aproximava.

Não demorou muito para que os macacos identificassem a chegada de um drone apenas pelo seu som. Quando um drone se aproximava, os macacos verdes emitiam uma vocalização que os pesquisadores nunca tinham ouvido antes pela espécie. A análise das gravações, no entanto, mostrou que os sons eram praticamente idênticos aos alertas de águia produzidos por seus primos, os macacos vervet. Esta semelhança sugere que os macacos verdes mantiveram esta mensagem de aviso no seu DNA ao longo do tempo evolutivo. Consequentemente, isso pode ser considerado um traço vestigial, em que o alarme de águia foi adquirido e utilizado por um ancestral comum aos macacos verdes e vervet.

Em uma segunda fase do experimento, os pesquisadores reproduziram gravações do alerta de águia/drone emitido pelos macacos verdes alguns dias antes. Os macacos “imediatamente examinaram o céu e correram para se esconder”, apesar de nenhum drone estar voando na área, escreveram os autores no novo estudo.

Para Fischer, essas observações “nos dizem que a produção vocal é ainda mais fortemente conservada geneticamente do que imaginávamos, e que a aprendizagem, por outro lado, é mais rápida e flexível do que pensávamos”, disse ela ao Gizmodo. “Enquanto o primeiro diferencia claramente a comunicação entre macacos e humanos, o segundo enfatiza as continuidades cognitivas”, disse Fischer.

De fato, essas descobertas apontam para uma possível origem da linguagem humana. Algumas das primeiras “palavras” usadas por nossos ancestrais distantes foram provavelmente alertas de perigo, que então se tornaram mais sofisticados e com nuances ao longo do tempo e conforme as habilidades cognitivas permitiram, resultando em termos culturalmente compartilhados que foram transmitidos de uma geração para outra. No novo estudo, os três grupos de macacos verdes, que antes não utilizavam o alarme de águia, passaram a usá-lo e rapidamente aprenderam a mensagem por trás do sinal, adicionando-o ao seu repertório de alertas. Essas capacidades e comportamentos, portanto, podem ser interpretados como precursores da linguagem produzida culturalmente.

No futuro, Fischer afirma que gostaria de conduzir o experimento com um número maior de macacos de outras espécies.

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