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Made in Brazil Microsoft fala ao Giz sobre a dura história do Vista, concorrência e Windows 7

Para Ricardo Wagner, gerente de produtos Windows para usuários, o Vista "pagou o preço pelo pioneirismo"; os concorrentes não lançam produtos finalizados e o brasileiro já mudou a cabeça sobre pirataria. Franco e gente boa, o executivo da Microsoft Brasil - que chegou à empresa justo no lançamento do criticado sistema operacional - passou um bom tempo conversando comigo sobre o (bom) momento que a Microsoft passa, no meio da crise, os ensinamentos do Vista e perspectivas do Windows 7.

O Windows 7 é claramente um polimento do Vista, que foi muitíssimo criticado. Há um sabor de doce vingança ao ver as pessoas elogiarem o Win 7?
O Vista é um caso que vai ficar registrado na história de produtos. Foi um SO que pagou muito o preço do pioneirismo, pelas suas premissas. Atendemos todas as expectativas, sejam técnicas ou comerciais. Olhando hoje, vê-se que o Vista cumpriu a proposta dele no nosso ciclo de vida de produtos. Ele cumpriu uma necessidade do mercado e colocou a gente em um outro patamar. Quando o Vista foi lançado, fizemos uma pesquisa de mercado. E em 2004 não se falava de outra coisa a não ser segurança. Todas as nossas pesquisas apontavam para isso. Fomos ao extremo e criamos o sistema operacional mais seguro do mercado [PB: que envolve uma quantidade enorme de aporrinhações para o usuário avançado]. E qual foi a contrapartida? Precisamos fazer um novo kernel, um SO do zero.

Mas além da aporrinhação de segurança, de ser pesado, o Vista não dava pau com vários produtos, como impressoras e placas gráficas?
Como era tudo novo, os produtos antigos precisariam de novos drivers. Bem antes do Vista ser lançado, a MS fez todo esse processo. Falamos aos fabricantes: "teste este novo produto. Crie esse driver para sua base instalada." O que aconteceu: nem nós tínhamos noção da base mundial do legado Windows, e nem todas as empresas criaram drivers para o Vista. Alguns correram do trabalho com o seguinte raciocínio: "Pra que vou fazer driver da impressora de 2004? A pessoa tem de comprar uma impressora nova!" Aí a Microsoft tomou a decisão: "se o fabricante não vai fazer um driver, eu vou precisar criar?" Então caímos em um trabalho muito intenso, e os drivers foram aparecendo no Windows Update. Hoje você pluga uma câmera digital e ele já reconhece na hora. Mas no início, da perspetiva do cliente final, o que acontecia era depoimentos do tipo: "Comprei uma impressora pra esse computador novo. E funcionou não!". E esse cara passou isso adiante. E aquele que ouviu falar passou pra frente.

Mas isso foi no início. O boca a boca foi tão grande a ponto de não mudar a percepção das pessoas sobre o produto ao longo do tempo?
Mudou e não mudou. Fizemos uma experiência interessante: o Mojave Experiment. Chamamos 150 pessoas que davam nota 0 pro Vista em San Francisco. Colocamos o Vista em várias máquinas novas, escondendo o nome, e o apresentamos como um novo sistema operacional. As pessoas adoraram. "Um Media Center? Barra lateral? Aero?" Disseram que comprariam facilmente. Só no final revelávamos que era o próprio Vista, para surpresa dos cobaias.

E o problema da lentidão em comparação ao XP?
A verdade é que não eram todos os mercados que estavam preparados para um sistema operacional desse porte. Em mercados de primeiro mundo, a configuração mínima de 1 GB não era problema em 2004. Mas aqui talvez sim. Muito do que podemos comprar de computadores melhor configurados hoje é consequência do lançamento do Vista: ele impulsionou o mercado e todo mundo se beneficiou.

O que vocês acharam da boa recepção do beta e o release candidate do Windows 7?
Pra gente é crucial o apoio da nossa comunidade técnica e clientes que possam nos ajudar, trazer informações, sugestões de melhorias. Encontrar erros, bugs. Precisamos operar a satisfação de 1 bilhão de consumidores em 36 diferentes idiomas, das questões técnicas aos mínimos elementos de ajuda e correção ortográfica. É importante sim ter o maior número de pessoas nesse desenvolvimento. Já que a Microsoft, diferente de um concorrente, tem uma proposta de lançar sempre uma versão final do produto. Diferentes de concorrentes, não deixamos os nossos produtos em beta. Esse formato de beta do Windows 7 é vitorioso: quanto mais gente testar, mais rápido tende a ser o lançamento final. É um ciclo virtuoso. E deu tão certo que fomos direto do beta pro RC.

A Microsoft conseguiu criar notícias favoráveis este ano. O Windows 7 é um sucesso, o Zune HD está sendo desejado, agora o Bing parece uma boa alternativa (pelo menos nos EUA). O que muda para vocês?
Isso é o legal de ser da Microsoft. Os comentários, opiniões, críticas, forçam a Microsoft a ficar sempre na crista da onda. E fazemos isso não olhando o concorrente. Estamos sempre pensando em como fazer as pessoas realizarem o potencial. Nós atuamos com um propósito maior, de evolução, diferenciação. A Microsoft não é uma empresa que está reagindo. Esse momento bom atual, a receptividade possibilita à empresa contar muito mais sobre o seu produto. Muita coisa do 7 já existia no Vista. E o 7 vai ser uma ótima oportunidade para contar o que contávamos sobre o Vista, e as pessoas vão ouvir. Pra gente é importante trazer esse momento positivo.

A crise econômica não é um empecilho pra um lançamento tão grande?
Pelo contrário. Vamos aproveitar para mostrar como a tecnologia pode trazer benefícios para os governos, aumentar a produtividade, diminuir custos. É esse tipo de discussão que queremos. Você precisa fazer uma ligação, pode usar o messenger. Ou o Office Communicator para uma conferência. Mostramos como aproveitar mais e mais disso. É importante todo esse ciclo de produtos justamente nessa fase que todas as economias precisam de alternativa. Essa é a nossa visão de copo metade cheio.

O que vocês acharam da campanha laptop hunters?
Acho que criar um estereótipo por usar o Windows, julgar uma pessoa por usar óculos ou ter dinheiro, ou  pelo sistema que usa… Essa não é a nossa forma de pensar o mundo. Diferente do concorrente. Fazemos produtos para as pessoas. Somos uma empresa de software. Fazemos coisas para que as pessoas realizem coisas, seja na Índia ou no interior do Brasil. Não importa suas restrições. Veja, contratei um surdo-mudo porque ele pode trabalhar perfeitamente com o Messenger. E, pegando a essência disso: o computador deve ser feito para todo mundo. Não importa se você é cool ou não – e não quer dizer que se não uso Windows, eu não sou cool. Aqui no Brasil não tivemos participação, mas a campanha foi importante por isso: sou cool mas não preciso pagar caro para um computador. Foi muito bem sucedida nesse sentido. Em seus comerciais, a Microsoft tem responsabilidade. Os outros vendem 6 milhões de computadores por ano, é mais fácil atacar. A gente tem de ter uma postura madura. Não adianta ir lá e fazer propagandas engraçadinhas.

Mas em alguns elementos do Windows 7 não há alguma inspiração na Apple? A barra de tarefas reformada, por exemplo?
Na verdade é uma tendência das interfaces. A tua interface hoje é muito mais associada a uma imagem que um texto. Hoje você trabalha muito mais com identidade visual de ícones, e apostamos nisso naturalmente. Não é uma imitação. É uma pesquisa própria e desenvolvimento de laboratório. Tudo é evolução. É preciso evoluir, mas com personalidade. Você não se livra da barra criando um sistema novo. Temos essa responsabilidade com 1 bilhão de usuários. Fizemos o melhor, com a familiaridade, e trouxemos o que as pessoas queriam.

Por que no Brasil não há a opção de venda ou upgrade online?
É uma questão de restrição de política que não conseguimos atender. Mas certamente estamos trabalhando para atender essa demanda. Não é impossível, já que nós temos boa experiência quando conseguimos avisar uma pessoa que ela é vítima de pirataria – nossos parceiros fazem a validação online, que é praticamente uma venda.

(Moblin, "concorrente" do Windows em netbooks)

Com o emergente mercado de netbooks, a Microsoft teme a concorrência as distribuições Linux embarcadas nesses laptops?
A primeira coisa na discussão: respeitamos o concorrente. Através da competição buscamos a inovação, e desde a concepção da empresa, a questão da competição está no nosso DNA. Faz parte da nossa cultura. Alguns concorrentes querem sistemas diferentes na oferta, mas temos que mostrar a nossa diferencial. E estamos muito longe de pensar só no computador. Temos de fazer o software pensando na interação das 3 telas: televisão, celular e computador.

Como vocês veem a questão da pirataria no Brasil? Houve avanços?
Sim. Há duas questões. Uma é com relação ao movimento de mercado. Grandes fabricantes de computador, por escala ou padrão de qualidade, conseguem criar uma quantidade enorme de oferta numa condição atrativa. Só não foi realizada antes por causa de impostos, ou dólar. Mas principalmente porque não havia um canal de vendas para isso, que é o varejo. Nos últimos 5 anos, redes como Walmart, Magazine Luiza, Ricardo Eletro, Casas Bahia, supermercados, enfim, redes varejistas que as vezes vendiam só móveis, começaram a oferecer computador. Porque tem consumidor querendo comprar. Esse tipo de canal – ao contrário das pequenas lojas especializadas – consegue conceder crédito e é tudo que o consumidor precisa. Além disso, houve o incentivo fiscal para produção no Brasil, a MP do Bem. O dólar estável. A classe C começou a comprar. E todo esse movimento dos grandes com o canal varejista trouxe uma nova relação com software original.

O segundo fator é a questão ideológica. Não é só Windows. A MS tem 96 mil empregados do mundo atrás desse CD. As pessoas começam a perceber e dar valor. Há a nossa conscientização, sobre os riscos de se ter um software não original. O governo também entra mostrando o mercado por trás da pirataria. Pirataria é crime.

Quais as perspectivas de avanço na interface? Vocês esperam que mais computadores adotem o toque, por exemplo?
O Vista trouxe essa possibilidade de interação com touchscreen, que está sendo consolidado com o Windows 7. Estamos ansiosos com as possibilidades. Na educação há bastante espaço. Poderemos ver um professor de física mostrando a resolução de um prolema no computador, de forma lúdica, com o Crayon physics deluxe. Numa brincadeira a criança está aprendendo. Haverá novas formas de interação com imagem. Com o Surface, há aplicativos médicos interessantíssimos. Poderemos ter um cirurgião do Incor mostrando ao vivo técnicas para um medicó no Amapá. Pra onde caminhamos é mágico. Estamos preparando os desenvolvedores, o ecossistema. O valor da nossa tecnologia é o quanto as pessoas podem aproveitá-la.

* Algumas frases foram adaptadas/editadas para fins de clareza no texto. A entrevista foi feita a convite da Microsoft.

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