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Mais alguém decreta a morte do PC

O escritor americano Bruce Sterling gosta de fazer previsões para além das previsões em seu bacana blog "Beyond the Beyond" (que poderia ser traduzido como "além do que está além"). Semana passada ele esteve aqui no Brasil e deu algumas entrevistas interessantes sobre tendências na computação. Ele não fala mais que o conceito de PC vai morrer, como alguns prevêem. Ele prefere ir um pouco além e dizer que "já morreu e ninguém percebeu". O raciocínio é interessante:

O escritor americano Bruce Sterling gosta de fazer previsões para além das previsões em seu bacana blog "Beyond the Beyond" (que poderia ser traduzido como "além do que está além"). Semana passada ele esteve aqui no Brasil e deu algumas entrevistas interessantes sobre ficção-científica e tendências na computação. Ele não fala mais que o conceito de PC vai morrer, como alguns prevêem. Ele prefere ir um pouco além e dizer que "já morreu e ninguém percebeu". O raciocínio é interessante: 

E está na ótima entrevista que ele deu para o Alexandre Matias no Link, do Estadão:

Na retrospectiva que estamos fazendo no Link, elegemos três assuntos com os principais temas de 2010: Facebook, geolocalização e aplicativos. Você concorda com a escolha? O que estas três tendências têm em comum?
O que há de importante sobre essas três coisas é que nenhuma delas precisa do sistema operacional da Microsoft. Por um bom tempo, ter um computador dizia respeito apenas ao sistema operacional e ao processador. E o Windows criou uma simbiose com fabricantes de chip: lançava um sistema operacional logo que um processador mais rápido chegava ao mercado. E isso tornou-se sufocante, não havia mais nenhum entusiasmo. E até a Microsoft teve um hit neste ano, com seu dispositivo de detecção de movimento, como é o nome mesmo…

Kinect.
Kinect! Kinect é o aparelho eletrônico doméstico que mais vendeu em todos os tempos – e está vendendo duas vezes mais rápido do que o ex-detentor desse título, que era o iPad. E o que há em comum entre Kinect e iPad? Eles não têm nada a ver com os velhos computadores. Quando coisas assim aparecem, eu procuro o que morreu. Se as pessoas estão olhando para aplicativos, geolocalização e redes sociais, em que elas pararam de prestar atenção? O computador pessoal morreu neste ano e ninguém percebeu. Qual é a definição de computação pessoal: eu tenho um computador e ele é meu e tem todas as minhas coisas! Se você oferecer um desses para alguém hoje, um computador em que você não pode entrar na internet, nem compartilhar nada, que só serve para processar dados e, sei lá, editar filmes… Mesmo que ele seja ótimo, ninguém vai querer! Talvez se você pagasse, alguém teria o computador verdadeiramente pessoal.

Por PC está claro que estamos falando de notebooks e desktops, independente de ser Mac ou Windows. E por "morte" estamos falando do conceito, do objeto de desejo. É claro que muita gente ainda vai ter um e comprar. E antes que você, geek, comece a bater em fúria em um teclado físico e dizer que precisa do computador para rodar aquele jogo específico ou abrir 130 janelas ao mesmo tempo, pense no resto do mundo que é (difícil de acreditar, eu sei) diferente de você. Quem vai querer um PC para usar fora do trabalho? Todo mundo vai baixar e ver um filme, ouvir música, navegar na internet, ler pdfs, editar fotos e vídeos. Mas quem vai querer fazer isso em um PC, conectado com fios? Para quê carregar um negócio pesado ou instalar grandes programas se as coisas mais usadas estão em apps pequenas ou sites na internet? Se poderemos fazer tudo isso com uma caixinha embaixo da TV, um smartphone ou um tablet?

Em 2008, quando as vendas de notebooks duplicaram no Brasil, escrevi um artigo sobre "a morte do notebook" para um especial de tecnologia da Superinteressante. Meu argumento era que o EeePC de 7 polegadas da Asus, hit à época, tinha o mesmo tanto de funções e performance que um smartphone teria dali a pouco tempo. Há dois anos e pouco, a tecnologia de processamento, memória e tela de um smartphone ainda não estavam prontos. O netbook, como um PDA anos antes, era claramente uma tecnologia de transição – ele apontava o que as pessoas gostariam (fazer "tudo", carregando menos peso) – mas não era exatamente o que as pessoas queriam. Hoje os netbooks, bem mais potentes, já estão caindo em vendas. Em 2008 eu não previa o "tablet", mas é um amadurecimento da ideia dos smartphones-computadores e do "PC mais pessoal e portátil" que o Sterling fala.

Não vejo por que médicos, jornalistas ou advogados, para ficar em algumas profissões que usam bastante o computador, precisem de "PCs" em um futuro próximo para trabalhar – para entretenimento, não precisam mais. Aliás, vou viajar por 15 dias no fim do ano e fazer um experimento inédito: ficar só com o iPad, teclado físico e smartphone. Sobreviverei? Teremos posts no Giz? A ver.

Leia a entrevista completa do Sterling no [Link] e comentem aí: o cara é um maluco ou há sentido no que ele fala?

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