Uma máquina voadora fracassada de Alexander Graham Bell foi revivida na forma de uma estrutura flutuante
Em 1899, o inventor do telefone se propôs a solucionar outro problema: o avião. Mas ele falhou miseravelmente. De verdade. Mas agora uma equipe de arquitetos e engenheiros ressuscitaram o design de 106 anos da máquina voadora de Bell para um propósito diferente: um modelo para estruturas movidas a energia solar flutuantes.
No começo do século XX, os engenheiros do mundo queriam provar a ideia de voos tripulados (ou provar que eram impossíveis). Alguns argumentavam que aeronaves pesadas eram fisicamente impossíveis, já que aumentar a área de superfície de uma asa tornaria a asa muito mais pesada. Outros contra-argumentavam com diversas teorias sobre máquinas voadoras que eram grandes e leves. Alexander Graham Bell era um deles.
Em 1899, Bell começou a desenvolver um novo design de uma aeronave que tinha uma grande área de superfície e ao mesmo tempo era leve. Ele se encontrou completamente imerso no projeto (“Por que? Eu não sei”, ele explicou enigmaticamente), argumentando que provas de máquinas voadoras mais pesadas do que o ar estavam no mundo natural. “Nós todos estamos interessados em locomoção aérea”, ele escreveu. “E eu tenho certeza que ninguém que observou com atenção o voo de pássaros pode duvidar por um momento do voo aéreo de corpos especificamente mais pesados do que o ar.”
Ao longo dos quatro anos seguintes, Bell desenvolveu um conceito de pipa com uma enorme área de asa, mas armação leve, graças a suportes finos em forma de diamante. Estas formas tetraédricas criam uma rede densa de pequenas asas, o que aumenta a envergadura de asa com pouca adição de peso. Bell foi além e criou o protótipo de muitas pipas. E, em 1903, ele criou uma enorme máquina voadora de 3.393 células baseadas nas armações, que ele batizou de Cygnet.
Equipado com um cockpit para um passageiro – que controlaria com um volante – o Cygnet levantou voo em 1907 carregando um intrépido piloto chamado Thomas Selfridge. Levado até o Atlântico por um barco, a engenhoca realmente ganhou um pouco de altitude, atingindo cerca de 60 metros antes do vento mudar de direção, levando-o rapidamente para baixo. Apesar da linha que ligava o Cygnet ao rebocador ter sido concebida para ser danificada, ela não foi, e Selfridge foi arrastado pela água envolto em restos de arame da nave por um tempo. Ele sobrevivei – mas acabou morto no ano seguinte como passageiro do Flyer dos irmãos Wright.
Bell, por sua vez, abandonou o projeto no mesmo ano que os irmãos Wright tiveram sucesso com a aeronave deles. O Cygnet foi uma resposta bem sucedida para a questão do peso, mas um fracasso para transporte.
Ironicamente, foi esse o motivo de Tomás Saraceno, um arquiteto e artista contemporâneo, se interessar no projeto. Saraceno é fascinado por estruturas suspensas no ar. Ele e sua equipe de designers da Faculdade de Engenharia Aeroespacial da Universidade Técnica Delft conseguiram replicar com sucesso o design da pipa de Bell.
Mas ele fez algumas mudanças e melhorou o projeto. Para começar, cada vela é feita de uma célula solar de papel fino. E a própria armação é feita com fibra de carbono, o que a torna ainda mais leve que a de Bell. No entanto, o novo projeto não tem a intenção de voar para qualquer lugar (na verdade, ele está ancorado no chão), já que Saraceno diz que é uma demonstração de como prédios e cidades do futuro poderão flutuar estacionadas acima do chão. É um conceito bem maluco, mas é meio que a forma que Saraceno age como artista. “A brincadeira é um dos processos de aprendizagem da vida”, ele diz sobre o Solar Bell. “Estou cultivando o que achamos que não é possível, que é flutuar.”
Saraceno está demonstrando o Solar Bell em uma área da Delft para visitantes interessados. E por mais que seja apenas um experimento, ele espera que a sua pesquisa seja usada em trabalhos futuros. É estranho pensar na ideia de Bell, abandonada há 110 anos, voltar à vida – agora, como um conceito de uma estrutura futurista movida a energia solar.
Imagens via TAAK.