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Mar do Caribe pode ter invadido Amazônia há 10 milhões de anos

Pesquisadores encontraram grãos de pólen de algas de plâncton marinho em região amazônica. Amostras sugerem presença de água salgada no local

Mar Amazônia

É consenso científico que, entre 23 e 16 milhões de anos atrás, o mar do Caribe invadiu o que é hoje a parte ocidental da Amazônia. E esse evento, ocorrido durante o Mioceno, parece ter influenciado a fauna e flora da região.

No entanto, essa invasão não foi a única. Uma segunda incursão é estimada entre 16 e 11,6 milhões de anos atrás – mas essa deixa algumas dúvidas. Você já vai entender o porquê. 

Um estudo publicado na revista científica Global and Planetary Change analisou grãos de pólen obtidos em um poço perfurado na bacia do rio Solimões, perto da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. Este chamado microfóssil orgânico era proveniente de algas de plâncton marinho, o que indica que a água salgada já ocupou a região. 

Mas não para por aí. A camada geológica em que estava a amostra foi datada por pesquisadores entre 11 e 10 milhões de anos. Ou seja, o mar pode ter invadido a Amazônia em um período mais recente do que se pensava. Há duas hipóteses: a segunda incursão foi mais longa do que o estimado ou outras invasões do mar caribenho ocorreram em períodos subsequentes.

Sabe-se hoje, que, durante o Mioceno, período geológico que compreende entre 23 e 5,3 milhões de anos atrás, parte do noroeste da Amazônia era tomado por um grande pântano, conhecido como lago Pebas. Essa antiga região alagada, apesar de estar a quilômetros de distância do mar, apresenta indícios de que possuía áreas de água doce e também salgada.

Carlos D’Apolito Júnior, palinólogo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), explicou à revista Fapesp que “um sistema de pantanais com influência marinha pode ter funcionado por milhões de anos como uma barreira geográfica que contribuiu para o surgimento de novas espécies”.

Há ainda um complemento: “Ao mesmo tempo, [o sistema] pode ter sido um corredor para o ingresso de novas espécies marinhas, como botos e arraias, e também de plantas”. Pode ser que os ancestrais do famoso boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), por exemplo, sejam originários do Caribe.

Um novo projeto financiado pela Fapesp deve continuar reconstituindo o passado da região Amazônica. Um grupo formado por pesquisadores de 12 países tem como objetivo perfurar e coletar amostras geológicas em faixa contínua da Amazônia, desde a região dos Andes até a margem atlântica. Dessa forma, os cientistas esperam obter dados passados referentes ao clima, vegetação e hidrografia da floresta.

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