Matias Duarte fala sobre Jelly Bean, Nexus 7 e o mundo Android

Matias Duarte é diretor de experiência de uso de Android no Google. Ou seja, ele é o artista que deixa as engrenagens do robô verde mais bonitas. Nós tivemos um tempo a sós com ele no Google I/O, e ele contou suas opiniões sobre o Nexus 7, o Jelly Bean, e por que não devemos […]
Matias Duarte

Matias Duarte é diretor de experiência de uso de Android no Google. Ou seja, ele é o artista que deixa as engrenagens do robô verde mais bonitas. Nós tivemos um tempo a sós com ele no Google I/O, e ele contou suas opiniões sobre o Nexus 7, o Jelly Bean, e por que não devemos ficar tão aflitos com a fragmentação do Android.

Giz: Qual sua visão geral sobre o caminho que o Android está seguindo, em termos de interface de uso e design?

MD: Bem, eu tenho um pensamento bem particular sobre como eu crio interfaces. Basicamente, eu acredito que as pessoas querem tocar e interagir com interfaces como no mundo real, e acredito que cada experiência de interação pode ser não só uma ótima experiência, mas também algo fácil. Muitas pessoas veem essas duas coisas de forma distante, mas eu realmente gosto de encontrar soluções de design que juntem as duas.

Eu gosto de dizer que tudo é divertido com botões. E você pode resolver a maioria dos problemas de design ao transformá-lo em botões tangíveis, físicos, sem necessariamente fazê-los como uma cópia de objetos do mundo real, mas mesmo assim tocando aquela parte do cérebro humano e do coração humano que diz: “Eu tenho mãos. Eu fui criado para pegar e mover coisas”. Por isso eu quero transformar os tipos de interação que nós temos com os computadores, que hoje tem tudo a ver com caçar e bicar e pegar e usar menus, em uma experiência muito mais gestual, física, emocional. E transformar todo o sistema operacional assim.

Nós tivemos grandes avanços. Acho que nós começamos no Ice Cream Sandwich [Android 4.0] a empregar esta visão para criar um sistema operacional que fosse realmente lindo, fácil de usar e poderoso. No Jelly Bean [Android 4.1] nós demos um pequeno passo, mas eu estou muito feliz com as melhorias que nós tivemos em performance, porque isso ajuda a criar esta fantasia.

Giz: O Ice Cream Sandwich foi muito bem recebido. Quais foram as primeiras mudanças que você quis fazer na atualização para o Jelly Bean?

MD: Uma das principais mudanças é o Project Butter, em que nós declaramos uma guerra contra a lentidão, a rigidez e a granulação, porque isso era muito importante. Se você realmente quer criar algo bonito, que engaje emocionalmente e que pareça algo real, você precisa ter a velocidade necessária, certo? Você precisar chegar no ponto em que você engana os olhos e engana os dedos. Então, essa foi uma das principais prioridades desde o início.

E, claro, nós queríamos continuar a melhoria em todos os outros aspectos do sistema. Coisas que parecem pequenas, como as notificações expandidas, têm um grande impacto porque, de repente, todo aplicativo pode se expandir e conversar com você de uma forma bem menos intrusiva. Agora, quando eu vejo que tenho um novo email, eu sei exatamente quem o enviou. Eu posso deixar isso para depois ou eu preciso trocar mesmo de aplicativo? Há um grande preço em trocar de aplicativo. Nós deixamos a multitarefa realmente fácil no Android, mas ainda assim é mais fácil dar só uma espiada e dizer “nah, eu não preciso ver isso agora”, passar o dedo e fechá-lo.

Giz: A versão que temos do Jelly Bean neste momento é um preview para desenvolvedores, certo?

MD: Sim, é um preview de desenvolvedores, por isso ele tem alguns bugs que nós já conhecemos, e obviamente alguns outros que iremos descobrir, mas quando os aparelhos começarem a ser entregues com ele daqui a alguns semanas, você verá um cuidado adicional maior.

Giz: Há algo que não foi anunciado que será estará na versão final de lançamento?

MD: Habilidades surpresa?

Giz: Isso.

MD: Bem, se eu te contar, aí não será mais surpresa.

Android por versões até 1o. de junho

Giz: Justo. Voltando ao Ice Cream Sandwich, rapidamente. Ele foi um salto significativo para o Android em termos de design e intuição. Você não fica meio puto quando olha para os números e vê que tão poucos aparelhos o têm, e que uma pequena porcentagem de usuários usufrui dele?

MD: Ah, não, eu acho que estamos fazendo um ótimo trabalho em termos de adoção. É o tipo de coisa que acontece quando você libera um novo sistema operacional, há uma curva de adoção gradual no início, e depois ela cresce rapidamente. Como agora, em que todo mundo está usando o Gingerbread [Android 2.3]. O Gingerbread foi a primeira versão que eu lancei do Android – ele foi lançado alguns meses depois de eu chegar [no Google], mas à época as pessoas diziam a mesma coisa: “ah caramba, o Gingerbread só existe em uma fração mínima de aparelhos!”. Bem, é isso mesmo, você libera algo, e é preciso um tempo para que ele chegue a todos.

Uma das melhores coisas sobre como lidamos com atualizações é que nós não lançamos novas capacidades só por meio de atualizações do sistema. Tipo, sim, várias funções animais como o Google Now estão ligadas ao Jelly Bean, mas há outras coisas que nós liberaremos por meio de nossos aplicativos. Todas as novidades e melhorias e conteúdos no Google Play, você poderá usar no Ice Crean Sandwich. Na verdade, várias delas funcionarão no Gingerbread. Você poderá ter todo o tipo de conteúdo mais novo e você não precisa ter a última versão do sistema. Ou seja, não é algo monolítico.

Giz: Você mencionou o Google Now, que é uma das novidades mais destacadas do Jelly Bean. Você pode nos contar um pouco mais sobre ele?

MD: Uma das coisas que mais me empolgam no Google Now é que ele não é só um produto – não é só uma ideia sobre voos ou sobre tráfego – ele é realmente uma plataforma do Google. Da mesma forma que a busca foi uma plataforma do Google para entregar informação, e isso começou entregando ao usuário apenas dez links azuis, e depois andou para, por exemplo, entregar a temperatura local em um canto, e depois uma caixa de tradução, e depois uma barra de informações lateral, e busca por imagem… De repente, tudo isso começou a fazer parte do Google nas buscas. O Google Now é uma plataforma exatamente assim.

O que você vê hoje é só um exemplo dos primeiros usos, mas isso continuará crescendo da mesma forma orgânica e mágica. Dia após dia, novidades começarão a aparecer. E isso melhora não só quando ele começa a entender você e seus padrões, mas também porque o Google está criando um cenário cada vez melhor nos bastidores, com mais e mais capacidades.

Giz: Parece que ele é capaz de usar um monte de informação de outros apps. Mas ele terá a capacidade inversa? Por exemplo, ele conseguirá adicionar uma reunião no Google Calendar por meio de um comando de voz?

MD: Nós já temos algumas integrações para isso. Você pode pedir para abrir o sistema de navegação por GPS, você pode começar uma ligação pelo Google Now, você pode até mesmo anotar lembretes. Ele ainda não está completamente integrado aos eventos do Calendar por enquanto, mas essas habilidades são embutidas. Essas APIs existem. Como eu disse, a ideia do Google Now é a de que ele é uma plataforma, e todos os serviços do Google melhoram com o passar do tempo.

Giz: Há planos de levá-lo para o desktop, seja com uma integração com o Chrome ou com o Google+?

MD: Bem, nós não temos nenhum anúncio a fazer neste sentido por enquanto.

Homescreens.

Giz: Voltando ao design do Android como um todo, a maioria dos fabricantes coloca uma skin por cima do Android, às vezes em detrimento do sistema. No ICS, qualquer app pré-instalado pode ser removido. Você trabalha com a ideia de requerer que as skins instaladas sejam removidas, para que o usuários possa decidir se quer usar a versão pura do Android?

MD: Da forma que o Android é desenhado atualmente, seria bem difícil fazer isso, mas não é algo improvável de acontecer em algum momento no futuro. Nós sabemos que a parte de customização dessas skins em alguns casos são ruins, mas em alguns são bem boas, e na verdade alguns deles são algo que os consumidores preferem em relação ao Android puro. Essa é uma das questões que faz o ecossistema do Android funcionar: ele fornece muitas escolhas. Nós nunca faremos nada para desencorajar esta escolha nem para evitar que os fabricantes tenham uma certa flexibilidade.

Com o Ice Cream Sandwich, uma das coisas que fizemos para criar mais consistência, além de facilitar a portabilidade para os desenvolvedores, foi exigir do Ice Cream Sandwich para a frente que os widgets padrão e temas de framework estejam sempre inclusos, para que os desenvolvedores possam usá-los e fazer seu aplicativo ter o visual, sensação e funcionamento mais consistente, não importa qual seja a skin colocada sobre ele. Então gostamos de soluções como esta, que colocam o controle nas mãos dos desenvolvedores ou usuários sem retirar quaisquer opções.

Eu acho que há algumas skins incríveis feitas por aí. Eu estou realmente ansioso pela nova colaboração entre a Sharp e a Frog Design, e eu quero muito, muito ver mais fabricantes de Android fazer este tipo de inovação – onde não se trata apenas de pequenos ajustes, e sim de explorar o potencial do Android. Nós estamos construindo uma visão particular de como achamos que você deve ter um computador móvel, e como nós achamos que você deveria organizar sua vida em um espaço móvel, mas há milhões de visões diferentes por aí.

Uma das coisas que realmente me frustra sobre computadores desktop é que, basicamente, todo mundo ficou preso dentro deste mundo Xerox Parc de janelas e arquivos e pastas, e então se foram 20 anos e nada mudou! Na verdade não houve uma inovação qualquer. Só foi com esta era móvel, onde as coisas estão começando a mudar, e as pessoas estão começando a pensar sobre diferentes tipos de experiências no desktop, como você vê com o Windows ou algumas coisas que o Mac OS está fazendo. Eu acho que seria terrível se tudo fosse trancado de novo em um padrão, e os sistemas operacionais não mudassem por mais 20 anos. Então eu realmente quero ver uma variedade maior de skins por aí no ecossistema do Android, porque eu acho que esta é uma força positiva para evitar que aconteça esse tipo de ossificação.

Giz: O Android é aberto por sua própria natureza. Você se sente paradoxalmente limitado por esta abertura?

MD: Ah sim, é muito, muito mais difícil trabalhar em um ecossistema aberto. Quando eu trabalhei em outras plataformas antes, onde nós tínhamos uma estrutura vertical completamente integrada como ambiente de desenvolvimento, você podia só dizer, “Eu não me importo com este problema, porque eu não vou construir este hardware”. No Android, você nunca tem essa opção. Quando você cria algo, e quando você constrói, ele tem que ser robusto o bastante para lidar com tudo o que a fabricante jogar nele. É por isso que eu gosto. Este é na verdade um desafio bem interessante.

É como toda aquela questão de tamanhos de app: como um desenvolvedor deveria escrever um app para diferentes tamanhos de tela? Bem, você pode fingir que há só dois tamanhos de tela no mundo inteiro, ou que há apenas dois tamanhos de tela que alguém iria querer, mas isto é incrivelmente limitante. Seria como se, no seu desktop, você pudesse trabalhar apenas com dois tamanhos de janela, em vez de redimensioná-la para ficar exatamente do tamanho que você quer. Então este é um problema de design muito mais desafiador, mas é um problema que eu acho valer a pena, porque é o necessário para realmente entregar a próxima geração da computação.

Giz: Se eu lhe desse cinco pratas, você obrigaria todas as fabricantes de celular a colocar um botão físico de câmera em todos os aparelhos?

MD: (risos) Não, nem pensar. Esta é uma das coisas com a qual sou bem decidido: a ideia que devemos exigir o mínimo possível, porque eu quero ter o máximo de inovação possível por aí. Por exemplo, há dois anos tinha uma empresa chinesa capaz de lançar um dispositivo com Android que não tinha botões. Não tinha botões virtuais na tela – como temos no Ice Cream Sandwich e também no Jelly Bean – não tinha botões capacitivos, não tinha botões não-físicos. Era nenhum botão mesmo! E ele tinha suporte a todas as funcionalidades do Android – tela inicial, voltar etc. – usando gestos, como o que fizemos no webOS. E isso foi ótimo, porque era compatível com o Android, porque nossas exigências são tão poucas que é possível inovar desta forma. Há outras coisas que se pode fazer, e eu não quero fazer nada que impeça esta inovação. Eu quero que alguém crie um Android apenas com gestos, eu quero alguém que crie um Android sem botões físicos, eu quero que alguém crie um Android que você rode com braille. E eu não quero tratar isto como exceção. Todos eles fazem parte de uma família.

Tablet Nexus 7

Giz: Algo mais que você queira dizer?

MD: Sim, uma das coisas que eu passo o tempo evangelizando é o tipo de pensamento e esforço aplicado no Nexus 7, o design aplicado nesse produto. Não se trata apenas de criar um tablet mais em conta para o Google; eu acho que este é um tipo de tablet realmente interessante que as pessoas meio que ignoraram. Este produto nasceu, na verdade, devido à minha frustração com a ideia de que os tablets não tinham mais para onde ir. Todo mundo pensava “certo, nós criamos tablets de 10 polegadas, e eles respondem ao consumo de mídia e entretenimento, então acabou”. E eu acho que isto não poderia estar certo, porque não respondem a dois tipos de entretenimento que são realmente importantes para mim: livros e jogos.

Quando eu leio um livro, eu quero poder tomar uma xícara de café. Eu quero me apoiar em algum lugar enquanto ando de ônibus, certo? Então o uso com uma só mão é realmente importante. Você não consegue fazer isso com um tablet de 10 polegadas – ele é enorme. Quando eu jogo, eu quero algo com o tamanho de um sistema portátil de gaming. Eu não quero algo enorme, no qual eu vou me cansar. O tablet Nexus 7, veja você, tem dimensões bem semelhantes a um sistema portátil de gaming. Então este é um tipo de tablet que atende casos particulares dos usuários que ainda são pouco atendidos. Nós queríamos mostrar que é possível criar um tablet nesse espaço e ele pode ser não um tablet insosso e barato, ou algo que quer ser um tablet, e sim uma experiência completa de tablet em um tamanho que muda como você interage com ele.

Tudo neste design é otimizado para esse tamanho. A curva do dispositivo foi elaborada com cuidado. Sim, ela é arredondada na traseira, mas não é angulosa na frente. Nós temos um chanfro ao redor que finaliza o dispositivo, então é bem confortável segurá-lo com uma só mão. Nós demos a ele bordas assimétricas nas laterais, para quando você segurá-lo na horizontal, você tenha mais espaço para a empunhadura, porque a borda é mais longa e você tem mais peso para contrabalançar. E as bordas são ótimas quando você joga, porque dão um espaço para deixar seus polegares sem esconder nenhuma parte da tela. Nós pensamos com cuidado no equilíbrio de como as bordas funcionariam com a tela, para que sempre haja uma área escura mais forte na parte inferior, como o efeito fosco em algo impresso. Como se você fosse pendurar uma obra de arte, para que ele tenha um equilíbrio visual perfeito em ambas as dimensões.

Tudo isso vêm à minha mente para tornar o Nexus 7 uma categoria de fato nova, um tipo realmente interessante e empolgante de tablet para entretenimento, para jogos e para toda a comunicação digital que fazemos.

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