Médicos estudam como determinar a morte de um paciente antes da doação de órgãos

Cientistas estudam como determinar a morte de uma pessoa e como isso pode tranquilizar os familiares sobre a doação dos órgãos.
Crédito: Alex Wong (Getty Images)

Uma nova pesquisa sugere que os médicos são, felizmente, hábeis em identificar corretamente a hora da morte de uma pessoa – um aspecto crucial para garantir órgãos saudáveis ​​para doação. Ao mesmo tempo, o corpo às vezes pode apresentar oscilações de atividade cardíaca, mesmo depois que a morte se tornou verdadeiramente irreversível, de acordo com um estudo publicado no New England of Medicine.

Há muita curiosidade mórbida em torno da morte. Mas de acordo com os pesquisadores por trás desse projeto, conhecido como Estudo de Predição e Fisiologia de Morte após a Remoção da Terapia, ou DePPaRT, há muitas coisas que não sabemos com certeza sobre os últimos minutos de vida de uma pessoa.

Desde 2014, eles vêm coletando dados de sinais vitais de pacientes terminais no Canadá, no Reino Unido e na República Tcheca como parte de seu trabalho. Seu principal objetivo é documentar o máximo possível sobre o processo de morte, especialmente em pessoas gravemente doentes que são retiradas de mecanismos de suporte vital.

Eles também têm estudado como e por que as famílias decidem doar os órgãos de seus entes queridos logo antes da morte e como a doação os afeta. As pessoas no estudo – cerca de 600 no total – só foram incluídas após consentimento expresso de suas famílias. O projeto recebeu financiamento do governo canadense, bem como do Programa Canadense de Pesquisa de Doação e Transplante.

Embora alguns órgãos, como os rins, possam ser mantidos viáveis ​​por mais de um dia antes de serem transplantados, outros, como o coração, precisam ser transplantados em poucas horas. Qualquer atraso pode significar literalmente a diferença entre a vida e a morte para os receptores de órgãos. Mas as pessoas são compreensivelmente sensíveis à morte, e muitas famílias e alguns médicos podem ter esperança de uma recuperação milagrosa, mesmo depois que uma pessoa é retirada do suporte vital.

“Reconhecemos que existem histórias sobre pessoas que voltaram à vida, até mesmo de membros da comunidade médica. Então, realmente queríamos fornecer evidências científicas sobre o processo de morte, para dissipar qualquer potencial mito para as pessoas”, disse ao Gizmodo por telefone o pesquisador-chefe do projeto Sonny Dhanani, pediatra do Instituto de Pesquisa CHEO em Ontário.

Hoje em dia, os médicos no Canadá são instruídos a esperar pelo menos cinco minutos após a interrupção da circulação sanguínea depois que os mecanismos de suporte vital são retirados antes de determinar oficialmente a hora da morte de uma pessoa. Nos Estados Unidos, são recomendados de dois a cinco minutos. No Brasil, o teste de apneia para determinar morte cerebral consiste em desligar o ventilador que mantém o paciente respirando por 10 minutos para depois realizar uma série de outros exames.

Nos pacientes que a equipe da pesquisa recente estudou, não houve casos em que os médicos se enganaram sobre a determinação da morte. Dito isso, o sinal de morte visto em filmes – uma linha reta imediata em um monitor de ECG – também não pode ser utilizado como critério.

Às vezes, em cerca de 14% dos pacientes, houve momentos intermitentes de atividade cardíaca. Porém, é importante ressaltar que esses momentos geralmente duravam alguns segundos e não resultavam no coração reiniciando totalmente ou nas pessoas acordando repentinamente. O tempo mais longo que um coração levou para parar completamente foi cerca de quatro minutos, indicando que a regra dos cinco minutos é realmente um bom medidor para aguardar a determinação da morte (se o coração reiniciar durante esse período, os médicos irão esperar mais cinco minutos antes de declarar a hora da morte).

“Médicos e familiares devem estar cientes de que isso acontece 14% das vezes. Mas eles também devem ter certeza de que isso não significa que a pessoa vai voltar à vida”, disse Dhanani.

Essa garantia é muito importante para as famílias, especialmente quando se trata de decisões sobre a doação de órgãos. Nos EUA, as pessoas também podem oferecer essa permissão registrando-se preventivamente como doadores de órgãos. (No Brasil, apenas os familiares podem autorizar a doação de órgãos após a morte.)

Dhanani e sua equipe ficaram surpresos com quantas famílias optaram por participar do projeto quando questionadas (93%). E ele espera que o trabalho de sua equipe ajude as pessoas a reconhecer melhor os benefícios da doação de órgãos e, ao mesmo tempo, sentir-se mais tranquilas em relação ao processo.

“Em última análise, queremos que nossa pesquisa ajude a abrir a discussão sobre a morte, estado terminal e doação, que são tópicos que podem ser desconfortáveis”, disse ele. “E esperamos que essa pesquisa possa tranquilizar as pessoas que estão preocupadas com a ideia de serem doadores, talvez por temerem que seus órgãos sejam retirados antes de morrerem. Há um processo claro de doação, e nossa pesquisa mostrou que as pessoas não serão desrespeitadas.”

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