Médicos relatam problemas neurológicos em alguns casos leves de COVID-19

Médicos estão começando a relatar problemas cerebrais graves relacionados à pandemia de COVID-19 que os cientistas haviam advertido anteriormente.
Imagem de cérebro humano tirada por um tomógrafo de emissão de pósitrons, também chamado de PET scan
Crédito: Fred Tanneau/Getty

Médicos estão começando a relatar problemas cerebrais graves relacionados à pandemia de COVID-19 que os cientistas haviam advertido anteriormente. Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (8) detalha os pacientes que pegaram o novo coronavírus e passaram a desenvolver complicações neurológicas, incluindo comprometimento cognitivo, problemas de locomoção ou caminhada e alucinações e delírios. Estes sintomas aconteceram mesmo em pessoas que tiveram sintomas respiratórios leves para COVID-19.

Em abril deste ano, alguns pesquisadores alertaram sobre uma onda potencial de doenças neurológicas causadas pelo COVID-19, principalmente com base no que sabiam sobre pandemias passadas e outras infecções virais como a gripe.

Na época, já havia relatos de casos isolados de pessoas com sintomas neurológicos que começaram durante ou após terem adoecido do novo coronavírus. Mais relatos surgiram desde então, inclusive em crianças que desenvolvem uma rara condição inflamatória ligada à doença.

Este último estudo, publicado na revista Brain, parece oferecer um olhar mais extenso até agora sobre estas complicações em adultos que tiveram COVID-19.

Os autores estudaram casos de 43 pessoas confirmados ou suspeitos de terem COVID-19 que foram encaminhadas para um grande hospital no Reino Unido, especializado em problemas neurológicos.

Os pacientes tinham entre 16 e 85 anos de idade e variavam na gravidade de seus outros sintomas. Seus sintomas neurológicos incluíam delírio (um período de grave confusão mental que muitas vezes acontece rapidamente), psicose, derrame cerebral, convulsões e fraqueza muscular facial ou de membros, entre outros. Em imagens cerebrais havia evidência de inchaço, hemorragia e outros danos a várias partes do cérebro.

Muitos dos casos também desenvolveram uma condição rara conhecida como encefalomielite aguda disseminada, ou ADEM. A ADEM é caracterizada por uma breve mas potente explosão de inflamação que ataca a camada externa da mielina que envolve as fibras nervosas.

Embora alguns sintomas neurológicos tenham aparecido com mais frequência em pessoas com sintomas respiratórios severos de COVID-19, a gravidade não parecia relacionada com probabilidades de contrair a ADEM nesses casos. Mesmo casos relativamente leves de COVID-19 levaram a episódios de doenças neurológicas.

Em um exemplo particularmente surpreendente, uma mulher de 55 anos havia sido internada no hospital com muitos dos sintomas clássicos de COVID-19, incluindo febre, dificuldade para respirar e perda do olfato. Sob os cuidados médicos, ela precisou apenas de apoio com oxigênio e teve alta três dias depois, em condições de saúde aparentemente boas.

No dia seguinte, seu marido relatou que ela estava desorientada e se comportando de maneira estranha, vestindo e tirando seu casaco repetidamente. A mulher relatou então alucinações visuais e auditivas, incluindo ver leões e macacos em casa. Ela também ficou paranoica e desenvolveu a Síndrome de Capgras, uma condição em que uma pessoa sente que seus entes queridos foram substituídos por estranhos idênticos, o que fez com que ela agredisse sua família e os funcionários do hospital.

Embora sua desorientação tenha desaparecido, seus sintomas psiquiátricos permaneceram. Na época da publicação do estudo, os médicos relataram que sua condição havia melhorado durante três semanas, com a ajuda de medicamentos antipsicóticos.

Os sintomas neurológicos ligados às infecções virais tendem a ser raros em geral, e não parece haver neste momento fortes evidências de que o próprio coronavírus invada regularmente o sistema nervoso, o que seria especialmente preocupante.

Mas no contexto de uma pandemia recentemente surgida que já infectou milhões e provavelmente adoecerá muito mais antes que uma vacina ou tratamento altamente eficaz esteja disponível, isso significa que pode haver muitas vítimas potenciais que terão que lidar com algumas complicações neurológicas, às vezes ao longo da vida, mesmo que só experimentem sintomas leves.

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