Plano da Microsoft de zerar emissões de carbono tem um problema: contratos com petroleiras

A Microsoft tem uma meta ousada para 2030: zerar suas emissões de carbono. Além disso, a companhia quer, até 2050, retirar o carbono que já emitiu. O plano ambicioso tem um problema: contratos de longo prazo com petroleiras.
Imagem: Getty

Na última quinta-feira (16), o presidente da Microsoft, Brad Smith, fez uma promessa ousada sobre o clima: até 2030, a companhia passaria a remover mais carbono do ambiente do que emite. E ele foi além: até 2050, removerá mais carbono do que a empresa já produziu em sua história.

Este é um grande passo à frente dos planos de ação climáticos anteriores da Microsoft. Mas não está claro o que o plano significará para os contratos da empresa com empresas de petróleo e gás que estão alimentando a crise climática. E enquanto a Microsoft continuar ajudando essas empresas, seu compromisso com a emissão “negativa” de carbono não é tão grandioso quanto parece.

Smith disse em seu anúncio que a Microsoft passará a usar 100% de energia renovável até 2025, e que sua “frota de veículos de operações em campus” em todo o mundo utilizará apenas energia elétrica até 2030.

Para dar transparência ao progresso, a companhia publicará um Relatório Anual de Sustentabilidade Ambiental “baseado em fortes padrões de relatórios globais”. A empresa tem sido “neutra em emissões de carbono” desde 2012, mas ativistas dizem que a Microsoft confiou demais na compra de créditos de energia renovável para compensar as suas emissões de carbono, em vez de os reduzir diretamente.

A iniciativa acontece menos de um ano após a empresa realizar outras promessas climáticas, apesar de terem sido menos ousadas. Mas em geral, o novo plano faz algumas grandes promessas que são definitivamente boas.

A empresa também tem planos para reduzir as emissões de carbono ao longo da cadeia de fornecimento. Mas o plano não diz nada específico sobre descarbonização de empresas às quais fornece serviços, especificamente a computação em nuvem.

A Microsoft mantém contratos de vários anos para vender serviços de nuvem à Shell e à Chevron e está desenvolvendo tecnologia de inteligência artificial com a BP (British Petroleum). Em fevereiro, a Microsoft anunciou uma parceria com a ExxonMobil que poderia expandir a produção da gigante do petróleo em até 50 mil barris de petróleo por dia até 2025, a partir da bacia de Permian.

Tradução: Contudo, é importante notar que este objetivo é incompatível com contratos que visam aumentar a extração de petróleo, um processo que sabemos não ser sustentável.

“A união com a Exxon, BP, Chevron e outras empresas para extrair mais petróleo e gás é uma grande desconexão e agrava a crise climática”, disse Elizabeth Jardim, ativista climática do Greenpeace, em um comunicado. “Para se tornar verdadeiramente negativa ao carbono, a Microsoft tem de acabar com os seus contratos de inteligência artificial com a Big Oil [grandes empresas do ramo]”.

E parece que isso não deve acontecer tão cedo.

“O significado e a complexidade da tarefa à frente é incrível e vai exigir contribuições de todas as pessoas e organizações do planeta. É por isso que estamos empenhados em continuar a trabalhar com todos os nossos clientes, incluindo os do negócio de petróleo e gás, para ajudá-los a satisfazer as exigências comerciais atuais, ao mesmo tempo que inovamos juntos para alcançar as necessidades comerciais de um futuro sem carbono”, diz o plano da Microsoft (grifo nosso).

A meta de carbono negativo da empresa também vai depender de tecnologia que não existe hoje. Para isso, a Microsoft disse que também vai criar um fundo de US$ 1 bilhão para acelerar o desenvolvimento da tecnologia de remoção de carbono.

A remoção de dióxido de carbono não é um objetivo exclusivo da Microsoft. A ideia é popular entre os grandes poluidores. Uma aliança de 13 grandes companhias de petróleo e gás impulsionou uma iniciativa de captura de carbono no ano passado. Em 2016, foi realizado um investimento de US$ 1 bilhão entre 10 empresas de combustíveis fósseis para o desenvolvimento dessas tecnologias.

E faz sentido que as indústrias poluidoras queiram que essa tecnologia avance, porque, em teoria, ela permitiria que elas se tornassem neutras em carbono sem mudar seus modelos de negócios.

A Microsoft se promove junto à indústria de combustíveis fósseis como uma ferramenta para ajudar a extrair mais petróleo e gás mais rapidamente (a companhia até patrocinou uma conferência que apresentou Caleb Rossiter, membro do CO2 Coalition, uma organização sem fins lucrativos que defende que o dióxido de carbono na atmosfera contribui para o planeta).

Com US$ 1 bilhão em pesquisa de tecnologia de captura de carbono, a a companhia provavelmente continuará nesse mercado – a ideia é de não faz mal emitir gases com efeito de estufa desde que você possa retirá-los do ar depois.

Mas a ciência mostra que precisamos acabar rapidamente com a extração e o uso de combustíveis fósseis. Não temos tempo para esperar por novas tecnologias, que podem levar anos para serem desenvolvidas.

O Gizmodo entrou em contato com a Microsoft para comentar e irá atualizar esse post se obtiver alguma resposta.

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