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Satélite que vê buracos negros reaparece com pistas do que aconteceu com ele

A agência espacial japonesa JAXA recebeu algumas mensagens estranhas dele - e temos vídeo do satélite girando descontroladamente no espaço.

Esta semana, algo aconteceu com o novo satélite do Japão feito para ver buracos negros: de repente, ele misteriosamente perdeu todo o contato com a Terra. Agora, a agência espacial japonesa JAXA recebeu algumas mensagens estranhas dele – e temos vídeo do satélite girando descontroladamente no espaço.

Após um longo silêncio, o Hitomi enviou duas mensagens muito concisas em resposta às contínuas tentativas da JAXA de contatá-lo. Isso não significa que as comunicações foram restabelecidas completamente, muito menos qualquer forma de controle. As mensagens eram tão curtas que a JAXA não obteve nenhuma informação nova sobre o estado do satélite, nem sobre o que aconteceu para tirá-lo do caminho.

Pode haver algumas pistas neste vídeo do Hitomi capturado pelo astrônomo Paul Maley nos EUA: você pode ver claramente o Hitomi girando em queda livre. Maley viu pela primeira vez o satélite rodando como um pião em 28 de março. Ele confirmou ao Gizmodo que ainda o viu cair à mesma taxa consistente – uma rotação completa a cada 23,5 segundos – na terça-feira (29) à noite.

Esses movimentos de rotação podem explicar porque estamos tendo tanta dificuldade para conversar com o Hitomi. “Normalmente, a antena estaria apontando para a Terra e poderia ouvir o que a JAXA está tentando dizer. Com a queda, isso é muito mais difícil”, explica Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, ao Gizmodo.

Ainda assim, o fato de que o satélite conseguiu transmitir algumas novas mensagens inspira esperança de que ele possa ser recuperado. Isso também pode nos dar uma pista do que retirou o Hitomi de sua trajetória.

O Joint Space Operations Center, do Departamento de Defesa americano, foi o primeiro a descobrir os detritos do satélite, e disse não ter visto evidências de que a culpa seria de uma colisão. Isso sugere que o problema deve ter acontecido no próprio satélite. A sua rápida rotação poderia apoiar ainda mais essa tese. McDowell diz:

Para o satélite estar girando tão rápido, eu acho que ele estava soltando algum tipo de gás – ou um de seus foguetes propulsores ficou emperrado, ou possivelmente o hélio líquido superfrio evaporou e agiu como se fosse um propulsor do foguete.

O sistema de arrefecimento vinha funcionando muito bem há algumas semanas (e, aparentemente, alguns dos dados enviados são cientificamente interessantes), então talvez o propulsor emperrado seja a hipótese mais provável.

O Hitomi conseguiu recolher alguns dados antes de perder contato com a JAXA. “São dados fabulosos, são dados transformadores”, disse Chris Reynolds, professor de astronomia na Universidade de Maryland (EUA), observando que isso provavelmente seria o tema de seu próximo estudo. “É por isso que não há um choque generalizado sobre o que está acontecendo. Todos nós reconhecemos quanta ciência incrível poderia vir do Hitomi”.

Antes do lançamento, o Japão descreveu o satélite como “essencial” para resolver os mistérios fundamentais do universo, tais como a natureza dos buracos negros e a evolução das galáxias. Isso porque a missão Hitomi representa um grande salto à frente em termos de espectroscopia de raio-X – uma das muitas técnicas usadas pelos astrônomos para estudar fontes cósmicas de raios-X. Reynolds diz:

Você aprende muito sobre o universo analisando espectros: é assim que aprendemos do que as estrelas são feitas, é assim que aprendemos onde há mudanças nas galáxias, é assim que aprendemos como as formações de estrelas ocorreram ao longo da história do universo. Em praticamente todas as faixas de ondas, desde rádio até raios-X, há muita informação que você pode aprender com o universo usando espectroscopia de raios-X.

Entender melhor esses mistérios cósmicos agora depende de uma única pergunta: será que a JAXA vai recuperar o Hitomi com sucesso? A resposta não está clara. “Todos nós ainda temos esperança”, diz Reynolds. “Nós não o declaramos como perdido.”

Imagem: conceito artístico do Hitomi/JAXA. Colaborou: Jennifer Ouellette.

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