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Ciclo climático repetitivo pode transformar uma região da Mongólia em um grande deserto

Em 260 anos, a região nunca esteve tão seca. O calor é tanto que nem o solo possui mais umidade própria, colocando em risco o bioma do local.

Planalto Mongol na Mongólia. Imagem: Ken Shono (Unsplash)

Os anéis das árvores do larício siberiano. Imagem: Ken Shono (Unsplash)

Uma revisão dos padrões climáticos no leste da Ásia nos últimos 260 anos sugere que a região está presa em um ciclo repetitivo e perigoso de ondas de calor que podem remodelar a área de maneira irreversível. Um dos locais que mais deve sentir essas mudanças é o Planalto Mongol, entre a Mongólia e a região chinesa da Mongólia Interior, que futuramente pode se transformar em um deserto árido.

Uma nova pesquisa publicada na revista Science faz um alerta da atual situação climática no leste asiático. Ondas de calor recentes estão acontecendo com mais frequência agora do que há 20 anos e, como aponta o novo estudo, a situação climática atual na região nunca esteve pior do que nos últimos 260 anos. Os autores chegaram a essa conclusão após analisar anéis de árvores, que documentam secas datadas de meados do século 18.

Isso é ruim, porque a região será ainda mais suscetível a extremos de clima quente e seco. O Planalto Mongol é atualmente uma região semiárida, mas pode não permanecer assim para sempre. A região deve ser cada vez mais atingida por ondas de calor, podendo torná-la tão seca e árida quanto partes do sudoeste dos Estados Unidos.

Ao analisar anéis de árvores provenientes do Planalto Mongol, os pesquisadores puderam dizer quando as ondas de calor e as secas aconteceram no passado e quando o solo esteve úmido.

“As coníferas respondem fortemente a temperaturas extremamente altas. Ao examinar seus anéis de crescimento, podemos ver sua resposta às ondas de calor recentes, e podemos ver que elas não parecem ter experimentado nada parecido com isso em suas vidas, que são muito longas”, explicou Hans Linderholm, coautor do estudo e climatologista da a Universidade de Gotemburgo.

O pinheiro silvestre foi uma das várias espécies de árvores analisadas no estudo. Imagem: Peng Zhang

O problema atual tem a ver com a excessiva secagem do solo, bem como devido ao aquecimento global. A evaporação produzida pelo solo úmido resfria o ar imediatamente acima da superfície. Sem umidade, o calor é transferido para o ar ao redor do solo. Isso cria um ciclo de retorno negativo: altas temperaturas são aumentadas pela secagem do solo, e à medida que o solo seca, isso aumenta ainda mais a temperatura, que já é quente.

Hyungjun Kim, coautor e cientista do clima da Universidade de Tóquio, disse que o processo pode levar ao desencadeamento de “um ciclo irreversível” que pode levar a região “rumo a um futuro mais quente e seco”, em um estado permanente de aridez. Na verdade, isso já pode estar acontecendo, já que o clima semiárido entrou em uma fase na qual a umidade do solo não atenua mais a alta temperatura do ar.

Existem outros sinais de alerta que você deve conhecer. Pesquisas na China sugerem que os lagos estão diminuindo de tamanho em todo o Planalto Mongol. Nos últimos seis anos, os cientistas documentaram uma diminuição de 26% no número de lagos com mais de 1 quilômetro quadrado. Mas, como mostra a nova pesquisa, não são apenas os lagos que estão perdendo água — o solo também. A mudança na paisagem vai causar estragos nos ecossistemas locais, incluindo na sobrevivência de grandes herbívoros, como ovelhas selvagens, antílopes e camelos.

É importante ressaltar que a situação climática no interior do leste asiático pode influenciar o clima em outras partes do Hemisfério Norte, já que o clima nesta parte do mundo está conectado às circulações atmosféricas globais.

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