Ciência

Mongólia já esteve debaixo d’água por mais de 100 milhões de anos

Os pesquisadores se intrigaram pela presença de rochas vulcânicas no noroeste da Mongólia, que datam do período Devoniano; saiba mais
Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Há mais de 400 milhões de anos, uma ressurgência de rochas quentes do Manto da Terra gerou um oceano onde é a Mongólia, durando por 110 anos, colocando a região do atual país debaixo d’água.

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Um estudo publicado em maio revelou essa descoberta. O foco do estudo era entender a formação dos Ciclos de Wilson, o processo em que um continente se move, formando uma bacia oceânica, e depois forma um supercontinente.

Esses processos em grande escala ocorrem lentamente, com a massa de terra se movimentando menos de um centímetro por ano.

De acordo com o co-autor do estudo, Daniel Pastor-Galan, a história geológica do oceano que havia na Mongólia mostra que os “processos geológicos da Terra não são tão fáceis de enxergar e nem de compreender”.

A Mongólia ficou debaixo d’água devido a uma interação do Manto da Terra com uma crosta exatamente onde fica o país asiático. Sobre esse fenômeno, o estudo comenta que, antes de entendermos a ruptura de Pangeia, era difícil compreender as interações entre o manto e a crosta.

Evidências de oceano em Mongólia

No novo estudo, os pesquisadores se intrigaram pela presença de rochas vulcânicas no noroeste da Mongólia, que datam do período Devoniano, entre 419 e 359 milhões de anos atrás.

Durante o período Devoniano, os peixes dominavam o oceano e as plantas começaram a se espalhar pela Terra. Dois grandes continentes, Laurásia e Gonduana, bem como microcontinentes, gradualmente colidiram entre si e se fundiram através de um processo chamado acreção.

Em 2019, os pesquisadores iniciaram trabalham de campo na região da Mongólia, onde há a presença de rochas do período da acreção dos continentes na superfície.

Mapa mostrando oceano na Mongólia há 400 milhões de anos.

Onde o oceano passava na Mongólia há milhões de anos. Imagem: Journal of Asian Earth Sciences/Divulgação

Ao estudar as idades e composições químicas das rochas antigas, eles descobriram que a formação do oceano chamado Mongol-Okhotsk ocorreu anteriormente há 410 milhões de ano.

A química das rochas vulcânicas revelaram a presença de pluma mantélica, uma coluna de rocha quente que sobe do manto. “As plumas mantélicas, geralmente, estão no primeiro estágio de um Ciclo de Wilson: a ruptura de continentes. E a criação de um oceano, como o Atlântico”, diz o estudo.

Por que a Mongólia ficou 100 milhões de anos debaixo d’água?

Normalmente, as rupturas acontecem no meio de uma parte sólida de um continente. Neste caso, porém, a geologia é particularmente complexa.

A pluma mantélica estava separando crostas que se juntaram anteriormente via acreção. O que levou a Mongólia a ficar debaixo d’água por 100 milhões de anos, segundo o estudo, foi a combinação de pontos fracos entre os microcontinentes amalgamados e a pluma mantélica.

O oceano que havia há 100 milhões de anos sumiu no mesmo lugar onde surgiu. Isso é um padrão comum dos ciclos de vida de oceanos, segundo Pastor-Galán.

De acordo com os pesquisadores, a estabilidade do Hotspot (Ponto Quente) foi o que manteve o oceano no mesmo lugar por milhões de anos.

Conforme os continentes na crosta se movem através do ponto quente do manto, o ponto quente deixa para trás rochas vulcânicas e composições químicas. Isso ajudou os pesquisadores a posteriormente rastrear o movimento das placas ao longo dos milênios.

A formação do oceano da Mongólia – que deixou debaixo d’água um país hoje sem saída para o mar – ocorreu similarmente ao Mar Vermelho atualmente. O Mar Vermelho passa, assim, por um fenômeno em que a crosta se afasta um centímetro a cada ano.

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Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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