Até as moscas dentro de hospitais carregam bactérias resistentes a antibióticos

Pesquisa analisou insetos capturados em hospitais do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido e revelou que bactérias são resistentes a antibióticos.
Imagem: Ferran Pestaña/Wikimedia

Mais de 90% dos insetos encontrados em hospitais britânicos carregam bactérias potencialmente prejudiciais, de acordo com uma nova pesquisa. De forma alarmante, uma porção significativa desta bactéria é resistente a um ou mais antibióticos, destacando um risco, antes subestimado, para a saúde – embora os pesquisadores digam que as chances de infecção são baixas.

A nova pesquisa publicada na semana passada no Journal of Medical Entomology mostra que quase nove em cada dez insetos capturados em hospitais britânicos carregavam germes problemáticos, incluindo bactérias potencialmente nocivas, como E.coli, Salmonella e Staphylococcus aureus.

Mais da metade dessas bactérias foi considerada resistente a um ou mais antibióticos. A grande maioria dos insetos analisados ​​neste estudo eram voadores, o que reforça “a importância das medidas de controle de pragas em ambientes de saúde para prevenir riscos à saúde pública para os pacientes”, conforme observado em um comunicado à imprensa da Aston University.

Em um e-mail para o Gizmodo, Federica Boiocchi, coautora do estudo e aluna de doutorado na Aston University, disse que existe um risco de infecção, mas não é tão alto quanto poderíamos pensar.

“Depende principalmente da bactéria transportada pela mosca e onde a mosca pousa”, disse ela. “Nosso estudo mostrou que algumas moscas carregam bactérias patogênicas, mas a quantidade de bactérias recuperadas não foi suficiente para causar infecção. O risco está relacionado principalmente ao fato de que as moscas representam um reservatório de bactérias”.

Boiocchi ofereceu o seguinte cenário: Uma mosca pousa em uma fatia de maçã e libera algumas células bacterianas que estavam presentes em suas pernas ou em suas fezes. Essas células bacterianas, mesmo que sejam patogênicas, não são capazes de causar uma infecção porque há muito poucas delas, disse ela, mas talvez depois de horas – dependendo do tipo de bactéria – elas podem ter se proliferado a um número grande o suficiente para causar uma infecção em alguém que come a maçã.

Anthony Hilton, o principal autor do novo estudo e professor de microbiologia aplicada na Universidade de Aston, também apresentou o mesmo discurso no comunicado de imprensa, dizendo que os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (NHS) da Grã-Bretanha “são ambientes extremamente limpos” e que o risco de infecção bacteriana causada por insetos “é muito baixo”.

A mensagem principal do artigo, ele disse, “é que mesmo nos ambientes mais limpos, é importante tomar medidas para impedir que bactérias sejam levadas para hospitais por insetos”, acrescentando que “os hospitais do NHS já estão implementando muitas dessas medidas, mas há passos simples que podem ser dados para melhorar ainda mais”.

Os insetos que se reproduzem dentro de hospitais, como baratas, percevejos e formigas, são um problema de saúde bem estudado , mas sabe-se menos sobre insetos voadores e seu potencial para disseminar doenças em contextos de saúde.

Para o novo estudo, a estudante de PhD da Universidade de Aston, Federica Boiocchi, e seus colegas usaram armadilhas de luz ultravioleta (UV), matadores de moscas eletrônicos e armadilhas pegajosas para coletar quase 20.000 insetos.

As armadilhas foram posicionadas em enfermarias, unidades neonatais e de maternidade e em áreas onde a comida estava sendo preparada. Os insetos foram capturados em sete hospitais britânicos diferentes durante um período de 18 meses, de março de 2010 a agosto de 2011.

Dos 19.937 insetos capturados, as moscas (Diptera) foram as mais comuns, representando 73,4% das amostras. Estes incluíram espécies como mosca-doméstica, varejeiras (verdes e azuis), mosquitos e pernilongos. Outros insetos capturados incluíam pulgões, formigas, vespas, abelhas e traças.

Focando nas moscas, os pesquisadores detectaram 86 linhagens bacterianas distintas, dentro ou fora de seus corpos, mas não em quantidades necessárias para estimular uma infecção. Os tipos mais comuns incluíram a família Enterobacteriaceae (um grupo que inclui E.coli e Salmonella) em 41%, Bacillus (alguns dos quais resultam em intoxicação alimentar) em 24%, e Staphylococcus (um grupo que inclui S. aureus, que pode causar infecções de pele e respiratórias) em 19%.

Os pesquisadores descobriram que 53% das bactérias encontradas nas moscas eram resistentes a um ou mais tipos de antibióticos. Destes, 19% eram resistentes a múltiplos antibióticos. A penicilina foi encontrada entre os menos eficazes dos antibióticos, com vancomicina e levofloxacina não muito atrás. Como Boiocchi apontou, isso é “um lembrete vívido de como o nosso uso excessivo de antibióticos nos serviços de saúde está dificultando o tratamento das infecções”.

Questionada sobre o que mais a surpreendeu no estudo, Boiocchi disse que foi a grande diversidade de espécies de insetos encontradas em hospitais.

“O fato de moscas transportarem bactérias não é novidade, mas fiquei realmente surpresa ao encontrar muitas espécies diferentes, especialmente insetos ao ar livre que não pertencem a esse ambiente!”, escreveu ela.

Os dados apresentados no novo artigo são definitivamente um pouco preocupantes, mas, como apontou Hilton, os insetos desempenham “um papel muito pequeno na transferência de bactérias”. A chance de adquirir uma infecção de um inseto voador é baixa, mas não seria má ideia reduzir suas populações nos hospitais apenas por segurança.

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