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Por que o Facebook é maligno, de acordo com a nova série Mr. Robot

A série Mr. Robot como empresas como Facebook monetizam os nossos relacionamentos sociais.

O misterioso drama psicológico Mr. Robot — que fez um tremendo sucesso no SXSW 2015 — se tornou uma série no canal USA Network. É uma daquelas raras séries de televisão que parece realmente entender o que é corrupto e podre dentro da indústria tecnológica — e quer destruí-la. O Gizmodo conversou com o criador do programa.

Sam Esmail criou Mr. Robot e escreveu o primeiro episódio da série. Ele diz que a inspiração veio do próprio passado como programador, quando ele criou um empresa de internet. Mas em grande parte, a história é sobre um aspecto específico da tecnologia: mídias sociais, e como elas estão destruindo relacionamentos humanos ao tornar nossas emoções em mercadorias.

O programa se passa pelo ponto de vista do hacker Elliott (Rami Malek), cuja raiva é focada nos usuários de Facebook que clicam em “curtir” sem perceber como as corporações controlam cada aspecto de suas vidas. Existe um forte elemento de Clube da Luta na série, e isto funciona porque Malek faz um ótimo trabalho ao dar vida às dores e aos aborrecimentos de Elliott.

Como você pode ver no teaser acima, Elliott odeia o Facebook. E isso é algo que ele compartilha com Esmail:

Eu realmente odeio o Facebook, embora eu tenha uma conta lá. Eu tenho certeza de que o Facebook pode ser usado para o bem, e eles têm programas filantrópico, o que é digno de respeito — mas eu acho que quando corporações decidem ganhar dinheiro com as relações humanas, isso se torna incrivelmente perigoso. Cruza um limite.

As pessoas acham que o Google é mau, mas eu sou fã dele porque é ótimo para mim que ele anuncie por algo que estou procurando — isso faz sentido para mim. Mas o Facebook tem um modelo de negócio de “você está aprendendo sobre mim, usando meus relacionamentos e me usando para ganhar dinheiro com isso”. É um cavalo de troia para algo sinistro.

O Facebook já disse que quer suas emoções e ligações sociais em um único lugar e que controlará isso para você. Eles estão abertamente pedindo para que você dê este poder a eles, e isso parece uma combinação perigosa. Eu não digo que isso é algo consciente que o Facebook faz, mas pode ir ladeira abaixo. É um poder que eu não quero dar a algo como o Facebook. Além disso, eu também odeio o termo “redes sociais”. São os nossos relacionamentos com pessoas.

Mas Esmail não é tão desesperançoso como o personagem criado por ele: “Eu espero que as mídias sociais mudem”, ele diz. “Existe um bom conceito por trás delas”. Inclusive, uma das coisas que o inspirou a escrever Mr. Robot foi ver seus sobrinhos mais novos usarem as mídias sociais para uma mudança política no Egito:

Sou egípcio e fui ao Egito depois da Primavera Árabe. Meus sobrinhos são novos e estavam bravos, mas eles canalizaram essa raiva para uma mudança positiva. O espírito revolucionário que eles possuíam foi muito inspirador e comovente — e eles fizeram essa mudança pelo Twitter e Facebook, algo que a geração mais velha não teve como deter. Isso para mim foi a peça final do quebra-cabeça que foi escrever Mr. Robot.

Assim como os jovens do Primavera Árabe, Elliott de Mr. Robot quer mudanças — mas ele não sabe como fazer isso. Ele é então contatado por um grupo secreto de hackers chamado F-Society (liderada por Mr. Robot, interpretado por Christian Slater) e, de alguma forma, Elliott começa a se tornar um herói problemático. Perguntei a Esmail porque ele acha que o geek antissocial é um atual sucesso da cultura pop. Ele responde:

Tem algo a ver com o herói hesitante — você simpatiza com um cara como este. Você não gosta do cara que ama ser o herói. Você gosta do cara que não ama a fama do heroísmo, mas ainda é bom no que faz. Eles estão apenas tentando ser normais, mas não são. Eu acho que é isso. É o arquétipo de um personagem que está entre nós por um bom tempo, mas agora se encaixa no perfil do hacker nerd.

Já vimos esse perfil até enjoar no sentido cômico em The Big Bang Theory e em Silicon Valley, mas eu acho que não na versão dramática — nós ainda não a vimos o bastante. Temos A Garota da Tatuagem de Dragão, e também A Rede Social, mas este ainda é um ângulo novo e pouco explorado.

O programa estreia em 24 de junho na USA Network, sem previsão para chegar ao Brasil. Confira o trailer abaixo:

E por sinal, Esmail nos disse que o “E” de Evil Corp é “o logo da Enron”, empresa que manipulou seus balanços financeiros escondendo dívidas de US$ 25 bilhões para inflar os lucros, e faliu em 2001 quando o esquema foi descoberto. Esmail riu: “não é como se eles fossem nos processar por isso”.

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