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O que você pode fazer para realmente reduzir a mudança climática

Não há dúvida de que se quisermos parar ou diminuir a mudança climática, temos que fazer isso juntos. Mas a ação coletiva começa com escolhas individuais

Não há dúvida de que se quisermos diminuir ou até mesmo parar a mudança climática, temos que fazer isso juntos. Mas a ação coletiva começa com escolhas individuais, e, para todos aqueles que tomam decisões com base em dados, o caminho para se seguir ficou um pouco mais claro. Um novo estudo na Environmental Research Letters determinou exatamente quais escolhas de vida reduzem mais o impacto do carbono.

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Muitas pessoas preocupadas com o clima defendem políticas nacionais e internacionais para reduzir a emissão de carbono pelos humanos. Mas dois pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, sentiam que esse foco nas políticas de alto nível despreza uma oportunidade crítica para a redução de emissão dos gases do efeito estufa: indivíduos em países desenvolvidos. Então, os pesquisadores se encarregaram de classificar uma série de ações – desde ter menos filhos até adotar uma dieta vegetariana – que poderiam empoderar pessoas comuns e torná-las Capitães Planetas em suas narrativas pessoais.

“A ciência nos diz basicamente que o futuro de uma boa vida no planeta Terra depende da redução da poluição climática em cerca de 90% até 2050”, disse a professora de sustentabilidade e coautora do estudo Kimberly Nicholas ao Gizmodo. “Muitas pessoas reconhecem isso e estão prontas para agir, mas a maioria não sabe o que fazer.”

Para identificar os fatores de estilo de vida que mais afetam nossas emissões de carbono, os pesquisadores analisaram dezenas de artigos revisados por especialistas, calculadores de carbono e relatórios de governos, com foco em países desenvolvidos, onde as emissões do gás são maiores. Os pesquisadores tiveram uma abordagem de “ciclo de vida”, onde, por exemplo, o custo de carbono de uma propriedade de um carro inclui os gases de efeito estufa produzidos durante a fabricação do veículo. No final, eles identificaram uma dúzia de ações individuais que podem cortar a emissão de carbono, incluindo quatro recomendadas “que são de magnitude substancial no mundo desenvolvido”.

Imagem: Seth Wynes/Kimberly Nicholas, Environmental Research Letters, 2017

Essas ações são: ter uma dieta baseada em vegetais (economia média de 0,8 tonelada métrica de CO2 por ano), um voo transatlântico a menos (economia média de 1,6 tonelada métrica de CO2 por ano), viver sem carro (economia média de 2,4 toneladas métricas de CO2 por ano) e ter menos filhos (60 toneladas métricas de CO2 por ano). Duas ações adicionais que os pesquisadores pensaram em colocar na lista – não ter um cachorro e comprar energia renovável – foram consideradas de “mérito questionável”, na média de todos os países incluídos no estudo, embora em Canadá, Austrália e Estados Unidos comprar energia renovável resultou em pesadas economias de carbono.

Um estudo publicado em 2013 estima que, para limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius, a emissão média individual de carbono precisaria ser reduzida para 2,1 toneladas métricas de CO2 por ano até 2050. A emissão média de um cidadão americano atualmente está estimada em 16,4 toneladas métricas por ano. A do Brasil está em nove toneladas métricas por habitante por ano. O novo estudo descobriu que poderíamos estar fazendo muito mais para comunicar sobre escolhas de estilo de vida impactantes nesse sentido.

Analisando 216 ações individuais recomendadas nos livros didáticos das escolas canadenses, os pesquisadores descobriram que as melhores ações para reduzir a poluição de carbono eram, “em sua maioria, apresentadas de uma forma menos efetiva, ou nada efetiva”, enquanto escolhas de menor impacto, como reciclagem, estavam destacadas. Uma ênfase em escolhas de baixo impacto também foi encontrada nos guias governamentais de Estados Unidos, Austrália, Canadá e União Europeia.

“A surpresa foi que essas duas fontes de informação”, livros didáticos e recomendações governamentais, “focavam em ações de impacto baixo ou moderado”, disse Nicholas. “São coisas boas a se fazer, mas elas não atingem a escala suficiente do desafio.”

É óbvio que uma vida sem filhos, sem carros, sem viagens e sem carne não é para todos. Eu, por exemplo, amo comer uma costela de vez em quando. Mas achei bem fácil deixar de dirigir em uma grande cidade e, agora que eu sei exatamente o quão ruim é viajar de avião, vou me sentir uma pontada incômoda de culpa todas as vezes que comprar passagens. E se você estiver mais preocupado em pagar as contas do que salvar o planeta, está tudo bem. Mas Nicholas aponta que muitas das escolhas destacadas no artigo podem ter benefícios pessoais, também.

“Eu descobri por experiência própria que fazer essas mudanças para reduzir as emissões tem sido muito positivo”, disse ela, explicando como abriu mão de viagens de avião e passou a privilegiar os trens ao viajar dentro da Europa e acabou experimentando muitas aventuras inesperadas com isso. “Acho que nós, indivíduos com grandes emissões de carbono, realmente precisamos tentar parar a poluição”, adicionou. “Mas não precisamos deixar de ter qualidade de vida.”

[Environmental Research Letters]

Imagem: Dennis Yang/Flickr Creative Commons

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