Mudanças climáticas podem mudar a proporção dos sexos dos jacarés

Os répteis, que dependem da temperatura para determinar o sexo, podem ter a continuidade de sua espécie ameaçada por conta da falta de parceiros
Imagem: Rhona Wise/AFP (Getty Images)

Muitos dos efeitos das mudanças climáticas são óbvios, como padrões meteorológicos alteradosaumento do nível do mar e perda de espécies como resultado do desmatamento e degradação do habitat. Alguns, porém, são um pouco inusitados.

Um deles são as mudanças nas proporções sexuais de certas espécies de répteis, que podem se tornar inteiramente masculinas ou femininas à medida que o planeta esquenta. Populações de jacarés americanos, em particular, podem eventualmente se tornar majoritariamente fêmeas, resultando em declínios populacionais e subsequentes efeitos em todos os ecossistemas que habitam.

“Muitos répteis carecem da totalidade de cromossomos sexuais (ao contrário dos humanos, onde seu sexo é determinado pelo fato de você receber um cromossomo X ou Y) e dependem da temperatura para determinar o sexo”, disse Samantha Bock, da Universidade da Geórgia“Este é um processo conhecido como determinação sexual dependente da temperatura.”

Nas tartarugas, por exemplo, as fêmeas são produzidas em altas temperaturas e os machos em baixas temperaturas. Já para os crocodilianos, as fêmeas nascem em temperaturas extremas (baixas e altas) e os machos nas medianas. Os jacarés americanos (Alligator mississippiensis) são um desses tipos. As temperaturas dos ninhos entre 32,5 e 33,5 graus Celsius produzirão os machos, enquanto temperaturas acima ou abaixo destas produzirão as fêmeas. 

Um estudo liderado por Bock e publicado no início do ano passado mostra o que podemos esperar em relação ao assunto. A pesquisadora e sua equipe mediram as temperaturas de 86 ninhos em dois locais diferentes para examinar a influência das temperaturas diárias do ar na temperatura dos ninhos. Assim, foi constatado que a mudança de apenas 1 grau é suficiente para mudar o sexo dos bichos.

O perigo é que aumentos maiores na temperatura, como aqueles previstos para o ano 2100, provavelmente produzirão mais fêmeas, com quase nenhum macho eclodindo. Isso quer dizer que, no futuro, pode não haver sexo oposto o suficiente para impedir a extinção da espécie. Além disso, répteis em desenvolvimento podem não ser capazes de sobreviver no ninho se as temperaturas ficarem muito altas devido ao choque térmico — o que significa que a prole morrerá antes de nascer e ocasionará a diminuição da população. Em sistemas ecológicos, cada organismo desempenha um papel na grande teia alimentar. Mesmo pequenas mudanças no status de uma única espécie podem acarretar efeitos para toda a comunidade.

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“Os jacarés desempenham papéis importantes nos ecossistemas, pois fornecem habitats para outras espécies por meio da construção de ninhos e da criação de tocas. Eles também são predadores, mantendo populações de presas sob controle”, explica Bock. “O declínio dessas espécies pode, portanto, ter efeitos no ecossistema como um todo.”

Embora a mudança climática possa causar estragos, ainda não é o fim dos répteis como os conhecemos. “Uma maneira de garantir que eles sejam capazes de resistir às proporções sexuais alteradas na natureza é implementando programas de incubação artificial, onde coletamos os ovos dos ninhos, os incubamos na temperatura que produz o sexo raro e soltamos os filhotes de volta à natureza”, disse a pesquisadora. “Além disso, a proteção do habitat se tornará ainda mais importante para garantir que os répteis possam se recuperar, facilitando a conectividade da população para preservar a diversidade genética.”

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