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Cientistas fizeram uma múmia de 3 mil anos “falar”

Uma experiência científica buscou descobrir qual seria a voz de uma múmia de mais de 3 mil anos de idade. Os pesquisadores conseguiram, mas os resultados não impressionam.

Corpo mumificado de Nesyamun durante a tomografia computadorizada. Imagem: Leeds Teaching Hospitals/Leeds Museums and Galleries

Já se perguntou como seria a voz de uma múmia egípcia se ela pudesse falar? Uma nova experiência científica finalmente respondeu a esta pergunta, mas o resultado é talvez menos impressionante (e certamente menos sinistro) do que você possa pensar.

O som do trato vocal de uma múmia de 3 mil anos foi recriado usando tomografias, uma impressora 3D e um sintetizador de voz. Detalhes deste feito foram publicados nesta quinta-feira no periódico Scientific Reports.

Você provavelmente está se perguntando porque os cientistas que embarcaram neste projeto se preocuparam em fazer uma coisa dessas. Não é como se as múmias tivessem o hábito de voltar dos mortos para falar conosco. Mas, como explicou o coautor do estudo John Schofield, ele e seus colegas simplesmente queriam ver se isso poderia ser feito, o que é uma boa razão no final das contas.

“Queríamos ver se poderíamos recriar uma voz do passado”, disse Schofield, um arqueólogo da Universidade de York no Reino Unido, ao Gizmodo. “Fizemos tanto para melhorar nossa compreensão da cultura passada quanto para demonstrar que poderia ser feito”.

“Parte da motivação também era melhorar as maneiras pelas quais as pessoas podem se envolver com o passado, em museus e sítios patrimoniais, por exemplo,” acrescentou.

Cada um de nós produz sons distintos, baseados nas dimensões únicas das nossas vias vocais. Para o novo estudo, os pesquisadores procuraram caracterizar as dimensões de um antigo indivíduo egípcio, especificamente um sacerdote egípcio chamado Nesyamun. Curiosamente, Nesyamun recebeu o apelido de “voz da verdade” quando faleceu.

Como outros dignitários mumificados, Nesyamun foi “envolvido de tal forma para preservar o corpo para sua passagem para o além”, explicou Schofield, o que significa que “o tecido mole sobreviveu, incluindo, para este estudo, a cavidade torácica.”

Em cima: tomografias do trato vocal da múmia. Em baixo: representação digital das duas metades do trato vocal impresso em 3D. Imagem: D. M. Howard et al., 2020/Scientific Reports

O estado de preservação era muito bom, e o trato vocal reteve integridade física suficiente para que a experiência pudesse ser feita. Os dados adquiridos a partir de uma tomografia foram usados para imprimir em 3D uma réplica do trato vocal da múmia.

Por sua vez, o modelo do trato vocal foi combinado com uma laringe artificial chamada de Órgão do Trato Vocal, que é frequentemente usada para sintetizar a fala. Isso permitiu aos pesquisadores reproduzir um som parecido com uma vogal, que na língua inglesa é semelhante a um som preso entre as palavras “bed” e “bad”.

Esse único som vogal, para ser justo, é menos do que eu esperaria para um estimado sacerdote egípcio. Mas foi isso o que a simulação conseguiu descobrir, então quem sou eu para discutir?

Apenas um som poderia ser reproduzido porque “o trato vocal tem apenas uma forma – a forma como ele se encontra em seu sarcófago – que produz apenas um som”, disse Schofield. Para criar mais sons, os cientistas vão “procurar manipular essa forma do trato vocal no computador para permitir que outros sons semelhantes aos da fala possam ser feitos, e no futuro, frases inteiras podem se tornar possíveis”, disse ele.

Com esta experiência para provar um conceito, os pesquisadores podem tentar outras possibilidades, tais como recriar palavras e até frases inteiras. Fica a expectativa de que consigam fazer a múmia parecer mais sinistra, mas os primeiros resultados sugerem o contrário.

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