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O mundo está prestes a ter a maior queda anual de poluição do ano por conta da quarentena

Levantamento de site britânico estima que a pandemia poderia causar uma redução de emissões de carbono na ordem de 1.600 megatoneladas neste ano.

Cidade de San Francisco, Califórnia, vazia durante a quarentena. Crédito: Getty Images

Cidade de San Francisco, Califórnia, vazia durante a quarentena. Crédito: Getty Images

Como resultado da pandemia do coronavírus, o mundo está em modo hibernação. Nós já sabíamos que isso resultaria em uma redução dramática da poluição, mas várias análises estão agora mostrando que nossa emissão de gases do efeito estufa têm diminuído também. De fato, a pandemia pode levar à maior queda de emissões em um ano já registrada.

O Carbon Brief, um site britânico especializado na cobertura do meio ambiente, reuniu dados e publicou uma análise nesta quinta-fera (9) que descobriu que a pandemia poderia causar uma redução de emissões de carbono na ordem de 1.600 megatoneladas neste ano. Isso equivale a tirar mais de 345 milhões de carros das ruas e seria a maior queda anual de emissões já registrada. Também pode ser uma informação subestimada, pois esperamos que mais dados sejam disponibilizados por outros países e setores atingidos pela pandemia.

A enorme queda nas emissões não é motivo para comemorar a atual pandemia, é claro. Pelo menos 90 mil pessoas morreram e outras 1,5 milhão ficaram doentes globalmente, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Só nos EUA, a taxa de desemprego atingiu 13%, com mais de 17 milhões de pessoas ficando sem trabalho nas últimas três semanas. É um problema real, e os impactos negativos da pandemia na economia e na saúde pública serão sentidos nos próximos anos. Nessa perspectiva, a projetada queda nas emissões de gases de efeito estufa é outro sinal de quão inédita é a situação e reflete como a sociedade tem respondido ao coronavírus.

Muitas pessoas estão trabalhando de casa, por isso os prédios de escritórios estão usando menos energia de combustíveis fósseis. O estado de quarentena significa também mais carros fora das ruas e menos voos no céu, reduzindo ainda mais as emissões. A atividade industrial tem desacelerado, resultando em um baixo consumo de energia em 16 anos, informou a Reuters, marcando mais uma forma de diminuir a poluição por carbono. O mundo parece muito diferente do que era no início do ano.

Mas a queda nas emissões ainda está muito longe do que precisa acontecer para evitar mudanças climáticas perigosas. A análise do Carbon Brief mostra que, para evitar o aquecimento catastrófico, precisamos reduzir as emissões global sem 2.200 megatoneladas de dióxido de carbono por ano durante a próxima década para ter uma boa chance de limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.

Isso exigiria tirar mais de 475 milhões de carros das estradas a cada ano. Ou consumir menos 5 bilhões de barris de petróleo. Fazer o que for preciso para chegar lá é a meta. Infelizmente, a atual queda nas emissões provocadas pela pandemia é o mais próximo que chegamos de reduzir as emissões porque líderes mundiais se recusam a levar a sério a gravidade da crise climática.

Lidar com um vírus altamente contagioso não é um substituto para se chegar a um plano climático significativo. Também não é um plano sustentável. A U.S. Energy Information Administration divulgou no início desta semana uma previsão de que as emissões de dióxido de carbono relacionadas à energia cairão 7,5% em 2020 em comparação com 2019. No entanto, também é esperado que as emissões aumentem em 2021 em 3,6%, à medida que a economia se recupera um pouco.

Não podemos esperar pela próxima crise para diminuir nossas emissões, especialmente quando já temos uma crise grave em nossas mãos. Os líderes precisam agir o mais rápido possível. A crise climática é mais do que suficiente para lidar com ela, e combater dois desastres ao mesmo tempo será difícil e mortal.

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