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Museu do racismo nos EUA traz registro cruel de “Round 6” real no século 20

Assim como “Round 6”, os jogos perigosos realizados nos Estados Unidos reuniram pessoas marginalizadas pela sociedade. Mas diferente da série, o prêmio não era milionário: os vencedores recebiam apenas alguns trocados

Round 6 / Squid Game

Foto: reprodução/Netflix

Enquanto a geração da Netflix curte os episódios de”Round 6”, o público branco dos Estados Unidos se entretinha em brutais apresentações ao vivo tal qual a série. Chamadas de “Battle Royals” (Batalhas Reais) os eventos eram populares na Era da Segregação, e continuaram a ser realizados nos Estados Unidos até os anos 50.

O Museu Jim Crow de Memorabilia Racista da Universidade Ferris State, em Michigan, tem muitos documentos dessas violentas exibições. Uma prova são as notas jornalísticas e anúncios que comprovam a maneira como os eventos eram divulgados para a sociedade branca.

Assim como “Round 6”, os jogos perigosos realizados nos Estados Unidos reuniram pessoas marginalizadas pela sociedade. Mas diferente da série, o prêmio não era milionário: os vencedores recebiam apenas alguns trocados.

As Batalhas Reais envolviam grupos de jovens negros, obrigados a lutar uns contra os outros, a maioria das vezes vendados, para o entretenimento dos brancos. Os “lutadores” eram forçados a golpear os outros participantes, até restar apenas um homem de pé. O prêmio era de apenas alguns dólares.

Marcando mais uma vez o caráter extremamente racista da sociedade americana, eventos como esse eram comuns em celebrações do Dia da Independência, feiras estaduais e circos, principalmente no final do século XIX e início do século XX.

Além disso, o exército americano também organizada diversos “shows” do tipo, obrigando soldados negros a lutarem para o divertimento dos oficiais brancos. Quem já leu o clássico livro “O Homem Invisível”, de Ralph Ellison, sabe que a obra de 1952 começa com uma descrição arrepiante de uma dessas batalhas.

“Todos lutavam histericamente. Era uma anarquia total. Todos lutavam, uns contra os outros. Nenhum grupo lutava sozinho por um bom tempo. Eram dois, três, quatro contra um. E depois eles se voltaram uns contra os outros”, afirma a introdução do livro.

Franklin Hughes, um especialista em multimídia do Museu Jim Crow, explica como o legado de desumanização e humilhação das Batalhas Reais influencia até hoje o racismo e a intolerância da sociedade americana, e continua a machucar comunidades negras no país inteiro.

“Acontecimentos como esse levam ao racismo internalizado, no qual pessoas negras desgostam de si mesmas, de sua cultura e comunidade. Estão na longa lista de coisas que aconteceram na era Jim Crow e ainda prejudicam muitas comunidades”, explica o especialista.

Imagem: Reprodução Museu Jim Crow

As informações foram divulgadas pelo site Insider, que falou sobre esse polêmico acontecimento, que foi esquecido há muito tempo por entusiastas da história americana. Além disso, o site do Museu Jim Crow explica um pouco de como tudo aconteceu. 

“Essa cena era comum em muitos carnavais, feiras e lutas de boxe em toda a paisagem americana. Homens e meninos afro-americanos com os olhos vendados batiam uns nos outros sem sentido pelo prazer cômico da plateia e na esperança de ganhar alguns dólares. Os anúncios para esses eventos geralmente promoviam como eventos cômicos com combatentes ‘Negros’ ou ‘Coloridos’”, explica o site, dando como exemplo alguns anúncios da época.  

Para saber mais sobre as “Battle Royals” (Batalhas Reais), basta acessar o site do Museu Jim Crow. Vale lembrar que “Round 6” está disponível na Netflix.

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