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Por que você nunca deve ouvir a “Cavalgada das Valquírias” enquanto dirige

O tempo e a sensação do tempo são duas coisas bem diferentes. Fazer algo freneticamente em cinco minutos, a fim de não perder o prazo, não é o mesmo que esperar desesperadamente que uma ligação de cinco minutos acabe. A música também causa um efeito semelhante no cérebro, afetando como processamos os eventos da nossa […]

O tempo e a sensação do tempo são duas coisas bem diferentes. Fazer algo freneticamente em cinco minutos, a fim de não perder o prazo, não é o mesmo que esperar desesperadamente que uma ligação de cinco minutos acabe. A música também causa um efeito semelhante no cérebro, afetando como processamos os eventos da nossa vida.

O compositor musical Jonathan Berger explica na revista Nautilus como as músicas podem “sequestrar a nossa percepção”.

Nossos cérebros e corpos percebem o tempo em um ritmo completamente diferente de um relógio; é aquilo que Berger descreve como “metrônomo fisiológico”:

Em termos gerais, o cérebro processa o tempo de duas formas: 1) fazendo uma estimativa explícita para a duração de determinado estímulo – talvez um som ou imagem efêmera; e 2) envolvendo o período de tempo implícito entre estímulos. Esses processos envolvem a memória e a atenção, que moldam a percepção do tempo, e dependem se estamos ocupados ou estimulados. Por isso, o tempo parece “voar” quando estamos ocupados, ou “para” quando esperamos a água na chaleira ferver.

Mas a música cria um mundo temporal paralelo, onde é fácil nos perder. Berger menciona como a neurociência ajuda a entender isto:

Durante os períodos de intenso engajamento perceptual, como ser arrebatado pela música, a atividade no córtex pré-frontal – que geralmente se concentra em introspecção – se encerra. O córtex sensorial torna-se a principal área de processamento, e o córtex da autorreflexão basicamente desliga.

Isto é, quando ficamos engajados com a música, a área introspectiva do cérebro se desliga, o que nos deixa zen. Isso já é conhecido por marqueteiros: por exemplo, as pessoas passam mais tempo fazendo compras, ou bebendo mais no bar, se a trilha sonora de fundo for lenta.

O mesmo também vale para os motoristas. Por isso, se você dirige, nunca toque Richard Wagner no carro. Parece que a Cavalgada das Valquírias é a coisa mais perigosa para se ouvir na estrada, e “a prova mais clara de sequestro musical”:

… o Royal Automobile Club Foundation for Motoring considera a Cavalgada das Valquírias, de Wagner, a música mais perigosa para ouvir enquanto se está dirigindo. Não é tanto a distração, e sim o ritmo frenético da música que altera a sensação normal de velocidade dos motoristas… e faz com que eles acelerem.

Ou seja, a intensidade da música – mais do que seu ritmo, na verdade – faz você acelerar o carro para acompanhá-la.

Mas se você ouvir outra música, provavelmente ela terá uns 4 min de duração, certo? É que a tecnologia influenciou há tempos nossa tolerância geral à duração de músicas.

Quando Thomas Edison começou a gravar em cilindros cobertas de papel alumínio em 1877, eles armazenavam cerca de quatro minutos de áudio. Ao longo do tempo, isso moldou a nossa capacidade de atenção. Até hoje, músicas populares ainda têm essa duração.

Berger também discute em detalhes como o compositor Franz Schubert consegue manipular o tempo subjetivo através da música. Confira a análise aqui: [Nautilus]

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