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Nosso feed de notícias do Facebook é ruim porque gostamos de conteúdo ruim

Testes no Facebook mostram que as pessoas preferem conteúdo fácil e rápido, como memes e fotos de bichinhos, a notícias e análises políticas.

O feed de notícias do Facebook é uma bagunça. Devia ser um mural de notícias personalizadas de acordo com o que você curte e comenta, mas em geral parece um canal infinito de memes toscos e fotos de bichinhos fofos. A rede já tentou banir manchetes caça-cliques e notícias falsas, mas muitos feeds de notícia ainda são alvo fácil de conteúdo viral e inútil. O Facebook tenta algo diferente para consertar isto: perguntar as pessoas o que elas querem ver e por que elas querem ver aquilo.

Aleluia! Finalmente uma forma de avaliar como os algoritmos e as manipulações do Facebook premiam conteúdo besta e arruínam nossas redes sociais — não?

Infelizmente, não. Porque o Facebook perguntou as pessoas o que elas queriam ver e elas queriam ver mais porcaria.

Trinta pessoas em Knoxville, Tennessee, nos Estados Unidos, estavam recebendo dinheiro para passar um pente fino em seus feeds de notícias e explicar por que eles gostam ou não gostam dos posts que veem, ranqueando cada história, ajudando o Facebook a entender o que falta em seus algoritmos. A rede social expandiu recentemente o número de pessoas testadas para 600, pedindo a elas que fucem em suas preferências por períodos de quatro horas. A ideia é que o programa ajude a discernir se nossos cliques realmente dizem o que queremos ver.

O jornalista Steven Levy chama isso de o problema das “Doze Rosquinhas” em um artigo sobre o programa do Facebook. Ele compara a tentação em comer o doce açucarado a clicar em algo inútil na timeline. Ele hipotetiza que as pessoas talvez quisessem algo mais substancial, se não fossem constantemente tentadas pelos doces:

Não é que você queira a rosquinha — você não precisa de uma, e nem vai sentir falta daquela bomba de açúcar caso ela não esteja na sua frente. Mas assim que ela aparece na sua frente… ah, quem se importa!

Para muitos de nós, o feed de notícias do Facebook é uma fonte inesgotável de “info-rosquinhas” — calorias vazias de deslizes de celebridades, animais fofinhos de diferentes espécies, e questionários que tentam adivinhar de onde você é (Como assim você não sabe!? Mas faz o teste de qualquer maneira).

É sedutora a ideia que quem usa o Facebook quer conteúdo melhor e mais inteligente do que é providenciado pelo algoritmo agora. Nos faz parecer mais perspicazes e prontos para sermos profundos e conscientes. Se apenas nos fosse dada uma chance para mostrarmos que somos mais espertos que máquinas!

A hipótese não está rendendo, no entanto. Até então, o teste não mostrou que as pessoas estão secretamente sedentas por notícias e análises políticas em seus feeds de notícias, mas o contrário: elas ainda estão preferindo links do Upworthy e fotos dos gatos dos amigos. Inclusive, resultados iniciais mostraram que os testadores preferiam histórias de entretenimento que dessem gratificação emocional instantânea. “As pessoas querem ver coisas que as façam rir ou as deixem felizes, não informações que possam ser valiosas,” Adam Mossieri, diretor de produto do feed de notícias do Facebook, contou a Levy.

Mossieri alega que os resultados podem mudar após mais testes, já que o grupo que está sendo testado é muito pequeno. E que a hipótese do momento é que pessoas querem mais posts de amigos E conteúdo informativo.

Mas mesmo sendo um grupo de testes pequeno, não significa que os resultados são errados. Eles confirmam o que algoritmos e tráfego de internet já nos contam: nosso apetite por algo simples, rápido e “açucarado” muita vezes sobrepõe nosso desejo por algo mais profundo.

E mesmo depois do decorrer de todo o testo, nosso feed de notícias talvez ainda continue uma porcaria pelo simples fato de preferirmos um conteúdo digital horrível. Afinal, a máquina de virais é mantida por cliques dados voluntariamente. [Backchannel]

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