
Nova temporada de “Black Mirror” vai explorar deepfake e IA; especialistas repercutem
A série “Black Mirror” estreia sua sétima temporada após uma pausa de dois anos. Os seis novos episódios serão disponibilizados simultaneamente na Netflix a partir das 4h desta quinta-feira (10). E abordarão, entre outras coisas, as implicações éticas da implementação de novas tecnologias. Deepfake e IA estarão entre os temas.
Embora alguns episódios com um ar distópico sejam um pouco distantes da realidade, outros têm base em questões e desafios que a sociedade já enfrenta nos dias atuais. No sétimo ano, por exemplo, a empresa deve trazer à luz discussões relacionadas ao rápido avanço da IA como o deepfake e a disseminação de imagens manipuladas.
Veja o trailer de “Black Mirror”
Com a rápida evolução da inteligência artificial, aumentam também as preocupações sobre o uso indevido da tecnologia. Nos últimos anos casos de imagens e vídeos pessoas famosas manipulados para promover falsos produtos ou para cooptar potenciais vítimas de golpes se tornaram cada vez mais comuns.
Especialistas ouvidos pelo Giz Brasil repercutem
O pior de tudo é que as ferramentas para a criação de deepfakes possuem realtivamente fácil acesso. Segundo Eduardo Freire, CEO e estrategista de inovação corporativa da FWK Innovation Design, a tecnologia está evoluindo em um ritmo muito acelerado. E, em sua avaliação, não estamos preparados para lidar com seus impactos.
“A tecnologia de deepfake está avançando muito mais rápido do que nossa capacidade institucional, jurídica e até emocional de compreendê-la. O problema não é só técnico — é ético, cultural e estratégico. Hoje, qualquer pessoa com um celular e acesso à internet pode gerar conteúdos hiper-realistas capazes de detonar reputações, manipular mercados ou desestabilizar vínculos de confiança, inclusive dentro das empresas”
Como as empresas tratam a IA
Um fato que gera grande preocupação em todo o planeta é o fato de que parte das grandes companhias que investem em IA tratam a tecnologia como um mero produto. Deste modo, acabam lançando ferramentas baseadas na tecnologia sem uma devida avaliação de seus impactos.
Quando esbarram em um problema pós-lançamento, as empresas correm para tentar resolvê-lo em tempo recorde, mas nem sempre foi assim. A OpenAI, por exemplo, costumava compartilhar todas as preocupações envolvendo segurança e uso indevido de seus modelos de IA com especialistas, que, por sua vez, ajudavam a elaborar planos para saná-los antes do lançamento, mas a empresa mudou sua abordagem oficialmente nos últimos meses.
Agora, a companhia lança as ferramentas publicamente. E vai realizando ajustes com base no feedback e experiências vivenciadas pelos usuários. Mesmo que os impactos iniciais sejam um pouco mais rigorosos. Raphael Santos Marques, cofundador da Tech do Bem, empresa de educação e impacto social que usa a tecnologia para criar experiências de aprendizagem, acredita que, atualmente, a necessidade de lançar novas soluções acaba sufocando outras questões primordiais.
“Vejo frequentemente que o ímpeto de criar produtos “inteligentes” supera as considerações sobre privacidade e segurança. É necessário um novo modelo onde a ética seja parte fundamental do processo de desenvolvimento, não apenas um complemento. Seria como iniciar com a ética, incorporar ela desde a concepção inicial do produto ou serviço — ética by design, por assim dizer”
Assim, mesmo neste cenário em que lucro para falar mais alto na indústria da tecnologia, Eduardo Freire acredita que empresas optaram por atuar de maneira mais cuidadosa, ética e com foco em segurança terão uma vantagem em relação às suas concorrentes diretas no segmento.
“Empresas que conseguirem colocar a confiança como ativo central vão sair na frente. No mundo pós-deepfake, a verdade não é só uma questão de conteúdo. É uma questão de posicionamento”